eu dou a minha vida, graças a Deus?

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Kelvin

Cheguei bem mais cedo no Naitandei pois queria passar mais tempo com as meninas de lá.
Relembrar as coisas boas dos velhos tempos era divertido, como quando Polerina tentou nos dar aula de pole dance ou quando Graciara deu um aulão de espanhol, que obviamente deu muito errado.
– Ai, você vai furar o meu olho desse jeito – reclamei enquanto Iná tentava passar rímel em mim.
– Eu nem encostei direito, deixa de coisa!
– Ei, ei. O que o senhor ta fazendo aqui, seu Kelvin? Eu não me lembro de ter te readmitido – Cândida apareceu no salão vazio da boate.
– Oi, Gloriosa. Relaxa que eu não vim atrapalhar seu fluxo, não. Vim mais cedo pra ficar com as meninas e mais tarde eu tenho um encontro aqui
As meninas murmuraram um “hummm” em uníssono e eu ri.
– Um encontro, é? – Graciara perguntou.
– É só uma conversa de negócios
– É com o Ramiro? – minha ex-chefe perguntou.
– É – assenti.
– Ah eu sei bem que negócios são esses – ela riu – vou até deixar um quartinho pronto
– Não, é realmente uma conversa
– O seu negócio encontrando o negócio dele – Polerina falou, rindo.
– Para! Vocês são bestas
Cândida me estendeu um copo com alguma bebida dentro.
– Toma, meu filho
– Ah, eu não sei se deveria...
Não, eu não deveria, mas aceitei e, algumas horas e alguns copos depois, já estava bem soltinho.
Consciente, mas soltinho.
E foi nessa alegria toda que recebi Ramiro no bar, contornando seu pescoço com meus braços e sussurrando o mais próximo da sua boca:
– Que bom que você veio, Ramiro
– Hum... é, eu vim – ele franziu a testa.
E depois daí, tudo se tornou um delicioso borrão onde eu gemia alto enquanto Ramiro entrava e saía de dentro de mim.
Abri os olhos sentindo a cabeça doer e agradecendo mentalmente pelo travesseiro novo que havia comprado. Só então me lembro que não comprei nenhum travesseiro novo, eu sequer estava em casa.
Me levanto rapidamente, dando de casa com o corpo glorioso de Ramiro ao meu lado e seu braço estendido, onde eu estava deitado segundos atrás.
– Não, de novo não. Não, não, não!
Ramiro resmungou e começou a despertar aos poucos.
Fiquei observando a compreensão tomar conta de seu rosto e compartilhei com ele o desespero de entender que transamos outra vez, quando na verdade deveríamos estar bem longe um do outro.
Ramiro se sentou, puxando o lençol para cobrir sua nudez.
– Aconteceu de novo... – murmurou, passando a mão no rosto.
– Não era pra ter acontecido, por que você não me parou? – dei um soquinho em seu braço.
– Você tava fora de si?
– Não... – resmunguei, irritado com a minha falta de autocontrole – mas você poderia ter dito “não”
– Kelvin, não sei se ficou claro pra você, mas a gente sente tesão pelo outro
– Ah, você jura? – perguntei irônico.
– Toda vez que a gente se encontrar vai ser assim
– Mas não pode ser, Ramiro, não pode
– Porque não fazer desse limão, uma limonada?
– Eu não gosto de limonada – falei entredentes.
– Eu tô falando sério, Kelvin
– Eu também tô
– Que tal apenas alguns encontros?
Dei risada.
– Não!
– Só de vez enquanto, pra matar a vontade, sem envolvimento
– Sem compromisso?
– Compromisso nenhum
– Tem que ser em segredo, principalmente para o pessoal da escola, ninguém pode desconfiar
– Ninguém vai saber – ele garantiu.
Ainda hesitante, assenti.
– Ta bom. Sexo, às escondidas e sem compromisso – enumerei nos dedos.
– E onde a gente pode se encontrar? – ele perguntou, se levantando da cama e começando a se vestir.
– Aqui no Naitandei mesmo, a Cândida pode dar essa ajuda
– Mas e as meninas que trabalham aqui?
– Ramiro, aquelas dali farejam sexo de longe, nem adianta tentar esconder delas. E outra, elas não moram aqui, você sabe, né?
– Eu preciso ir, daqui a pouco amanhece
– Ta, eu já vou também
– Será que agora você pode me passar seu número?
– Eu vou passar, mas vamos evitar ao máximo ficar de conversinha, ta? Só pra marcar os encontros
– Ta, fica tranquilo que eu não vou te acordar todo dia com mensagem de bom dia – Ramiro revirou os olhos, me entregando o telefone para que eu discasse meu número.
Ele pegou o telefone de volta e o guardou no bolso da calça.
– Até amanhã, professor
Levantei o indicador na direção dele.
– Olha, garoto, eu senti o sarcasmo na sua voz, hein?!
E dando uma risada nasalada, ele saiu do quarto, me deixando sozinho outra vez.

– Olha, garoto, eu senti o sarcasmo na sua voz, hein?!E dando uma risada nasalada, ele saiu do quarto, me deixando sozinho outra vez

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overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora