a demônia da diretora gladys

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Kelvin

Um animal selvagem era a comparação que mais se aproximava do meu humor hoje. Acordei super atrasado, só tive tempo de tomar banho, vestir a roupa e voar até a escola.
Estava usando todo o autocontrole existente em mim pra conseguir ser um professor paciente e legal como todos os dias.
Mas eu não sabia disfarçar minhas expressões e também me tornava uma pessoa calada, desanimada.
Ramiro chegou com Antonella, que me deu um beijinho de bom dia e correu para sua carteira.
O tio sorriu pra mim e eu tentei sorrir de volta, de maneira simpática, mas acho que não fui muito convincente.
– O que aconteceu? – sussurrou pra mim.
– Nada não – tentei forçar outro sorriso.
– Alguma coisa aconteceu
Suspirei, convencido a não tentar mais disfarçar.
– Acordei atrasado, não consegui me preparar direito, nem fiz uma maquiagem pra cobrir a cara de noite mal dormida, não tomei sequer um gole de café, Ramiro! – desabafei.
– Nossa, Kelvin, você devia ter avisado
– Não, se preocupa não, tomo um copinho de café já, já
– Tudo bem, então – ele assentiu, acenando um tchauzinho para mim e indo embora.
Respirei fundo ao perceber que gastei minha pouca energia nesse diálogo furreca.
Voltei para dentro da sala de aula, organizando o material para começar a aula.
Me sentei em minha cadeira, tirando minha papelada da bolsa e canetas coloridas quando uma voz mansa chama por mim.
– Tio Kelvin
Olho para o lado e vejo Antonella com seus lindos olhos me observando.
– Oi, meu amor
– Você ta bravo?
– Não, princesa, de jeito nenhum
– É porque você não mostrou seu sorriso bonito ainda
Ela deu um passinho inseguro na minha direção, levando a mãozinha até meu rosto e fazendo carinho em minha bochecha.
Tive vontade de segurar essa criança no colo e fugir como Nazaré Tedesco fez em “Senhora do Destino”, mas infelizmente ela tinha família.
– O tio não ta com raiva, princesa, só tô um pouco cansado
– Você quer um pouco de suquinho?
Ah, FOFA!
– Não precisa, ta bom? Senta lá na sua cadeira que vamos já começar a aula
Ela assentiu e caminhou de volta para seu lugar e eu me preparei mentalmente para aguentar um bom tempo de aula até o recreio das crianças, que é onde eu realmente vou comer algo de verdade.
Fiz a chamada e relembrei com eles a explicação de ontem sobre números, passando um exercício em seguida.
Enquanto eles faziam o exercício em sala, recolhi os cadernos para corrigir a tarefa de casa que passei, já sentindo a vista embaçar. Aguenta aí, Kelvin.
Escuto uma batida na porta e me levanto pra ver o que é, sentindo as pernas até fracas.
– Gente, vou aqui fora mas fiquem aí quietinhos, já volto! – avisei, saindo da sala e dando de cara com Ramiro.
– Ramiro? Aconteceu alguma coisa, veio buscar a Antonella?
– Não, ta tudo certo, eu só vim trazer isso daqui – estendeu uma sacola em minha direção e eu continuei parado, sem entender.
– Que isso?
– Ninguém merece lidar com 30 mini monstrinhos de barriga vazia, né? Trouxe uma coisinha pra você comer
Um sorriso surgiu instantaneamente em meu rosto.
– Você trouxe café da manhã pra mim?
– Eu não sabia do que você gostava, então eu trouxe uma coisa mais básica. Café e crossaint, você curte?
– Com a fome que eu tô agora, se você me desse um pão velho, eu ia gostar
Ramiro riu.
– Então ta aqui, pra você – estendeu novamente a sacola e dessa vez eu peguei.
– Nossa, obrigada mesmo. Quanto eu te devo?
Ele negou com a cabeça.
– Não me deve nada
– Ramiro...
– Foi uma gentileza, você não me pediu nada
Queria continuar insistindo, mas Gladys, a diretora da escola, se materializou ao meu lado, pegando a sacola da minha mão.
Ela sorriu exibindo as lentes super brancas nos dentes e olhou para mim com olhos penetrantes.
– Senhor Neves, não sei se o professor te contou, mas não é permitido que aceitem presentes dos pais dos alunos. Logo, esse presentinho fica comigo
Ramiro franziu a testa, pegando a sacola do meu ex–café da manhã das mãos da diretora.
– Acho que houve um engano aqui, esse não é um presente para o professor Kelvin, é o lanche da minha afilhada
Gladys deu uma risada nevosa.
– Sinto muito, foi uma conclusão precipitada apenas. Tenham um bom dia – fez um aceno de cabeça para mim e Ramiro, caminhando para distante de nós.
– Toma, leva antes que ela volte – ele segurou minha mão, colocando a alça da sacola sobre ela.
– Eu preciso entrar, mas obrigada, você me salvou
Ele sorriu tímido, beliscando de leve o meu queixo e se virou para ir embora.
Aliviado, voltei para a sala e tomei café, sentindo minhas energias sendo renovadas.
Ao final da aula, recebo uma mensagem no meu celular.

Ao final da aula, recebo uma mensagem no meu celular

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overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora