você não está convidada

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Kelvin

– Estou aqui há um bom tempo e nada de você, onde estava?
– Não te interessa?? – arqueei as sobrancelhas – Como conseguiu entrar aqui, aliás?
– Não há nada que o dinheiro não consiga, você sabe bem, querido – ela deu um passo a frente, estendendo a mão para tocar meu rosto e eu dei um passo para trás, apertando a mão de Ramiro.
– Não chega perto, por favor
– Kelvin, sou eu, a sua mãe
– Não se aproxima de mim, por favor – pedi mais uma vez.
– Podemos entrar pra conversar?
– Não, não podemos
– E esse moço simpático aí ao seu lado, quem é?
– Não importa
– E onde está a mãe da sua filha? Aliás, e sua filha, onde está?
– Você não cansa?
– Do que exatamente?
– De viver nesse seu mundinho falso. Você fala e age como se estivesse tudo bem, invade o condomínio que eu moro pra me forçar a ter um diálogo que eu não vou e nem quero ter com você
– Mas está tudo bem, é só uma simples conversa
– Não, não é. Tudo com você e o seu marido deixou de ser simples desde que eu saí de casa, não faço mais nada pra vocês e nem por vocês, eu cansei
– Tudo bem, eu já entendi que você não quer casar, ok – ela levantou as mãos – Mas pelo menos, volte para casa, querido
– Eu não volto para aquele lugar nem morto
– Vamos lá, Kelvin, seja um bom garoto
– Não me venha com essa de "bom garoto", eu não vou voltar, eu não vou me casar, não vou fazer nada do que você pedir
A mulher bufou, estava perdendo a paciência.
– Pare de ser tolo, Kelvin. Vamos para casa, viva esse casamento, eu já falei que não precisam ter filhos nem nada, é só saber manter as aparências
– Eu não vou
– Kelvin, me escute bem... – ela juntou as mãos como se eu não estivesse entendendo o óbvio.
Ramiro soltou a minha mão e deu um passo à frente.
– Me escute bem a senhora – ele a encarou nos olhos, de uma forma que nem eu mesmo conseguia – Ele já falou que não vai, então ele não vai
– Quem é você, para início de conversa?
– Por que interessa tanto quem eu sou?
– Você está se metendo na minha conversa com o meu filho
– Você está se metendo na minha vida com o meu namorado, se metendo muito, inclusive. E eu não estou gostando
– Namorado? – minha mãe perguntou com certo nojo escorrendo na voz – Kelvin, este é seu namorado?
– Ele já disse que é
– Apesar do desgosto, você tem bom gosto para homens – ela assentiu, olhando Ramiro da cabeça aos pés.
– Como é? – semicerrei os olhos.
– Aquela garotinha é filha de vocês? Ela não parece com nenhum dos dois, foi adoção?
– Olha, eu não vou falar muito, só quero que preste atenção: deixe o Kelvin em paz, deixe a minha filha em paz e não volte a aparecer por motivo nenhum, você entendeu bem?
– Ah, esqueci de mencionar que você não manda em mim, rapaz
– Eu posso não mandar, mas a polícia vai adorar saber dos podres da sua família
– Você não sabe nada da minha família – ela franziu a testa.
– Posso te garantir que conheço alguém que sabe – Ramiro apontou para mim – Agora, doce senhora, faça o favor de se retirar daqui
Minha mãe suspirou.
– Isso não pode ficar assim, Kelvin, pense melhor e me ligue – ela falou caminhando até seu carro.
– Pode ficar tranquila que ele vai ligar pra falar que vai se casar sim, mas comigo e ah... você não foi convidada
Pude ver as rugas ao redor da boca de minha mãe ficarem mais aparentes antes dela partir com o carro o mais rápido possível.
Fiquei observando o carro desaparecer da minha vista e quando volto para falar com Ramiro, me assusto ao vê-lo ajoelhado no chão.
– O que é isso?
– Eu não queria que fosse assim e aqui, mas já que toquei no assunto e desconvidei uma pessoa, quer se casar comigo?
Senti meus olhos quase saltarem para fora.
– Ramiro, isso é sério?
– Não costumo sair por aí pedindo pessoas em casamento de brincadeira, então acho que tem probabilidade de ser bem sério
Dei um tapa em seu ombro, o puxando para ficar de pé.
– Claro que eu aceito, palhaço!
– Achei palhaço um pouco anti-romântico
– É que você ta muito engraçadinho
– Eu tô feliz – ele sorriu, me puxando para si, me encaixando perfeitamente em seus braços para me dar um daqueles beijos perfeitos onde as bocas se encaixam e você só sabe que é certo.
– Te amo, Rams
– Também te amo
– E cadê meu anel?
– Eu ainda não comprei – ele riu.
– Me pediu em casamento sem nem comprar um anel? – brinquei.
– Eu estava planejando pedir já, só que em outro momento. Fiz mal em pedir agora?
– Nem um pouco – neguei com a cabeça – Mas acho que ainda preciso chorar um pouco, pra desabafar, sabe?
– Deixo você chorar na minha blusa
– Posso assoar meu nariz nela?
– Um pouquinho – ele fez careta, me puxando para dentro do bloco onde eu morava.
– Ufa, vou me casar com a pessoa certa

overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora