chega nunca?

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Kelvin

Me senti quase como uma criança ao ser alimentado e mimado por Ramiro.
Ele aproveitou que Antonella estava no apartamento de Luana pra ficar me roubando beijinhos no intervalo de qualquer coisa que eu fazia.
Depois de comer bem e tomar um banho, Ramiro me emprestou um short e uma camisa. Como ele era mais alto, a camisa ficou folgadinha em mim, muito confortável pra tirar a soneca que eu tirei naquela cama incrível que ele tinha.
Tanto que nem vi quando Antonella retornou para o apartamento e muito menos quando ela se enfiou nos lençóis ao meu lado.
Muito tempo depois, acordo sentindo um carinho no rosto. Antes de abrir os olhos, aproveito pra sentir a mãozinha passando suavemente por meu rosto.
Abro os olhos e me deparo com Antonella, ela se assusta e afasta a mão quando me vê acordado mas eu sorrio.
– Oi – murmuro.
– Oi, tio – sorriu ainda sem jeito por ter sido pega no flagra me fazendo carinho – Desculpa...
– Precisa pedir desculpa não, meu anjo – neguei com a cabeça e levei minha mão até seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar.
– Eu tava tocando o seu rosto porque é diferente do rosto do titio Ramiro. O dele espeta porque tem a barba mas o seu é macio
– É? – ela assentiu – Você pode tocar no meu rosto, se quiser
Ela voltou a acariciar meu maximar, tocando com a ponta dos dedos.
– Antonella, você acordou ele? – Ramiro entrou no quarto.
– Shh, ela não me acordou
Ele se deitou no outro lado de Antonella, fazendo-a ficar entre nós dois.
– A gente ta parecendo uma família – Antonella começou – Um papai, – apontou para mim – uma filhinha – apontou para si mesma – e outro papai – apontou para Ramiro.
As palavras morreram em minha garganta e eu olhei desesperado para o homem do outro lado da cama.
– Acho melhor a gente começar a se arrumar pra sair de casa, não quero que a gente chegue muito tarde no litoral – Ramiro se levantou, pegando Antonella no colo e a colocando sobre o ombro, fazendo ela gargalhar – a senhora ainda não arrumou os brinquedos, né?
– Eu ia arrumar, eu juro! – ela protestou e ele saiu do quarto com ela.
Me levantei e fui pro banheiro lavar o rosto.
Essa coisa de família ainda estava firme na cabeça de Antonella e era muito delicado mexer nisso, temos que ir com muito cuidado pois o que eu e Ramiro temos não é algo concreto ou digno de um relacionamento firmado.
Ajudei eles a colocarem tudo no carro e dei o endereço da minha casa para o tio da garotinha, era a primeira vez que eles iriam até minha casa.
– É naquele bloco ali. – apontei para o prédio de três andares onde eu morava – Vocês querem subir?
– Você precisa de ajuda pra trazer alguma coisa?
– Não, só vou pegar uma mochila e umas coisinhas, eu nem devo demorar
– Eu posso te ajudar, tio Kelvin? – Antonella perguntou animada no banco de trás.
– Claro que pode!
– Eu espero vocês aqui no carro mesmo, pode ser? – Ramiro perguntou e eu assenti.
Saí do carro e tirei a menina da cadeirinha, segurando em sua mão para subirmos até o segundo andar, onde eu morava.
Abri a porta e Antonella murmurou um "com licença" enquanto colocava um dos pés para dentro do apartamento, a coisa mais fofurinha do mundo.
– Pode ficar à vontade
Ela caminhou meio acanhada, os olhinhos indo de um lado para o outro, quando pararam em um quadro que eu tinha em uma das paredes da sala.
Era um quadro de uma das vezes que eu estava montado.
Ela andou até ele e ficou observando, os bracinhos atrás do corpo.
– Esse é você? – perguntou ainda sem me olhar e tive medo da sua reação. Iria ficar confusa? Iria odiar o quadro? Iria me odiar?
– Sim... – me aproximei lentamente, observando sua reação.
Seu rosto, que se mantinha sereno, virou para mim e então para o quadro novamente. O silêncio estava me matando.
– Eu amei o seu cabelo! – ela sorriu e eu respirei aliviado.
– É mesmo?
– Sim, eu queria tanto fazer coisinhas cor de rosa assim no meu cabelo também mas o meu tio não deixou – fez um biquinho.
– Verdade?
– Sim. – ela assentiu – E a sua roupa ta muito linda também, essa foto é linda!
Sorri, satisfeito com a reação dela. Tão genuína pura e cheia de amor.
– Que bom que você gostou
– Por que você tava vestido assim? Era uma festa?
– Isso é arte, meu amor. Chama drag queen
– Eu gostei! – colocou as mãos na cintura, sorrindo para o quadro.
– Depois te mostro mais fotos de outros cabelos e roupas que eu já usei – falei mais alto enquanto andava pela casa, recolhendo minhas coisas.
– Você tem mais?
– Sim, muito mais, eu faço isso há muito tempo
– Que legal!
Enquanto Antonella babava no quadro, eu aproveitei que estava no quarto e joguei minhas maquiagens e duas perucas dentro. Se Antonella queria ter o cabelo rosa, eu daria isso à ela, mesmo que momentaneamente.

 Se Antonella queria ter o cabelo rosa, eu daria isso à ela, mesmo que momentaneamente

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overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora