uma emergência

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Ramiro

Meu peito transbordava milhares de sentimentos ao mesmo tempo, me deixando extremamente confuso. Mas o que se sobressaía era a preocupação com Antonella e a febre que nunca baixava. Rodrigo a trouxe mais cedo para casa, pois ela havia passado mal na escola e estava até agora na cama, queimando em febre.
Me sentia um inútil por não conseguir fazer nada direito usando só a mão esquerda e, de verdade, se não doesse tanto, eu mesmo já teria todos esses cacarecos que me impediam de me mover.
– E então, Ramiro? – Luana perguntou baixinho enquanto entrava no quarto.
– Tô esperando o termômetro avisar – respondi quase que ao mesmo tempo que o termômetro fez o beep indicativo de que já poderia ser retirado.
Antonella reclamou, ainda de olhos fechados e eu olhei o visor do aparelho.
– E aí, quanto deu?
– 39
– Ramiro, vamos levar ela pro hospital agora – Luana se atentou, correndo para pegar a menina no colo, enquanto me apressei para pegar documentos necessários e uma mochilinha com coisas que poderiam ser necessárias em algum momento.
Meu peito queimava de ansiedade, qualquer coisa que comprometesse a saúde da minha garotinha, me fazia querer trocar de lugar com ela. Não que eu estivesse com a melhor integridade física, mas eu precisava dela bem e viva. Pois perder a Antonella era sim um medo que eu tinha, até evitava verbalizar, por medo de atrair de alguma forma.
Em uma rapidez quase sobrehumana, já estávamos no carro de Luana, à caminho do hospital.
Segurava Antonella em meus braços, sentindo a visão embaçar e uma sensação de ter algo muito pesado sobre meu peito, me impedindo de respirar.
Ao mesmo tempo que eu queria focar em levar minha garotinha até o hospital, eu queria explodir, queria conseguir respirar.
– Ramiro... Ramiro – a voz de Luana me chamava de longe – Ramiro, foca aqui, ouve a minha voz. Volta pra cá, segura ela, Ramiro
– To segurando – o fio de voz saiu com muita relutância da minha garganta.
– Você precisa tentar controlar, por favor, já estamos chegando
– Ta... – murmurei entre os soluços do meu choro desesperado.
As luzes fortes do estacionamento do hospital me deixaram zonzo, tanto que cambaleei ao descer do carro com Antonella nos braços e só não deixei ela cair de fato, pois Luana apareceu ao meu lado, tomando o corpo quente e trêmulo de mim.
– Leva, leva ela – falei com o que ainda restava de ar em meus pulmões e Luana saiu correndo, enquanto gritava algo que eu também não consegui ouvir.
Me encostei no carro, tentando normalizar a respiração e foi aí que tudo escureceu e eu não vi mais nada.

overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora