Assim que cheguei à academia de bombeiros eu respirei fundo, depois da suspensão tudo parecia mais pesado como se eu estivesse de volta mas ao mesmo tempo ainda precisando provar algo. Caminhei em direção à recepção tentando esconder meu nervosismo. O recepcionista levantou os olhos do monitor ao me ver.
— Bishop — ele disse com um tom neutro. — Precisa ir à sala do capitão para sua liberação.
Eu assenti, tentando não demonstrar a ansiedade que borbulhava dentro de mim.
— Certo, onde fica a sala?
— Segundo andar a direita. Ah o capitão mudou.
Uma onda de surpresa me atingiu, aquele era um detalhe que eu não esperava. Subi as escadas com passos calculados minha mente tentando se preparar para o que quer que estivesse por vir, quando cheguei ao corredor olhei para as portas até localizar a certa. Mas o que me chamou a atenção foi o nome na porta "Captain Ross".
Eu respirei fundo e bati na porta, ouvindo um firme "Entre" quando empurrei a porta e entrei uma sensação inesperada de alívio me preencheu, a nova capitã era uma mulher eu não esperava por isso, mas me senti de alguma forma confortável com a ideia. Talvez, depois de tantas figuras masculinas de autoridade fosse bom ver alguém diferente.
Ela estava atrás da mesa com uma postura rígida e focada em alguns papéis. Levantou o olhar mas não sorriu, seus olhos eram penetrantes e avaliadores.
— Capitã Ross? — eu disse estendendo a mão, tentando parecer relaxada. — Sou Maya Bishop, estou aqui para minha liberação de retorno às aulas.
Ela apertou minha mão mas seu aperto era tão firme quanto seu olhar.
— Maya Bishop, ex-atleta olímpica — ela disse com um tom controlado, enquanto se sentava novamente. — Já ouvi falar de você.
Eu tentei sorrir mas o rosto dela permaneceu impassível, algo me dizia que ela não seria uma capitã que demonstraria qualquer simpatia. Rapidamente, ela assinou alguns documentos e me entregou a folha com minha liberação.
— Aqui está sua liberação. — Sua voz era direta sem rodeios. — Espero que você ande na linha aqui, Bishop. Não temos espaço para erros e definitivamente não há privilégios, independentemente de quem você seja, mesmo se for uma ex-medalhista olímpica.
Senti um aperto no estômago, o comentário foi feito sem nenhuma hesitação e eu soube naquele momento que ela estava testando meus limites. Mantive meu tom calmo mas firme.
— Eu nunca tive privilégios, Capitã estou aqui para aprender como todos os outros, sempre fiz isso.
Ross me avaliou por mais alguns segundos, seus olhos escuros parecendo pesar cada palavra que eu dizia. Ela se inclinou ligeiramente para frente os dedos cruzados sobre a mesa.
— Sei que você tem uma lesão — ela disse com a mesma falta de emoção. Era como se ela estivesse esperando que eu falhasse como se minha lesão fosse algo que pudesse me derrubar a qualquer momento.
Eu engoli em seco o desconforto crescendo mas mantive minha postura.
— Sim, eu tive uma lesão — respondi com firmeza, mas sem me deixar abalar. — Mas passei em todos os testes físicos e estou pronta para qualquer coisa, acredito que isso não será um problema.
Ela manteve seus olhos fixos nos meus em um momento de tensão quase palpável. Finalmente, Ross se recostou na cadeira como se tivesse chegado a uma decisão.
— Espero que não seja — ela disse sem qualquer alteração no tom. — Não aceito menos do que o máximo de cada pessoa aqui, e isso inclui você, Bishop.
— Entendido, Capitã — respondi sem vacilar.
Ela me olhou mais uma vez, como se estivesse tentando decifrar algo sobre mim mas em vez de continuar, simplesmente acenou em direção à porta.
— Você pode ir para o treinamento agora, melhor não se atrasar.
Assenti e saí da sala sentindo o peso do encontro em cada parte do meu corpo, as palavras dela ainda ecoavam na minha cabeça mas ao mesmo tempo, eu me sentia mais determinada do que nunca. Ross não seria uma capitã fácil de lidar mas eu já tinha enfrentado desafios muito maiores.
Após o treinamento meu corpo estava exausto mas a mente não desligava. As palavras da Capitã Ross ainda ecoavam e a pressão de estar de volta à academia parecia mais intensa do que nunca, caminhei até o carro com as pernas pesadas e segui para casa, tentando me livrar do estresse que ainda pairava sobre mim.
Quando cheguei ouvi risos do lado de dentro, assim que abri a porta Andy estava na sala confortável no sofá ela ergueu uma sobrancelha e sorriu.
— Olha só quem finalmente encontrou o caminho de casa! — ela brincou com aquele jeito descontraído que só ela conseguia ter.
Eu ri jogando as chaves na mesa de entrada e me jogando ao lado dela no sofá.
— Achei que tivesse me perdido por aí — retruquei esticando as pernas e sentindo os músculos reclamarem do treinamento puxado.
Andy me olhou de lado ainda com aquele sorriso no rosto.
— E então? Como foi a primeira impressão com a nova capitã? — ela perguntou curiosa.
Eu suspirei fundo lembrando de todo o encontro com Ross.
— Bem... você já ouviu falar dela? Capitã Natasha Ross? — perguntei tentando entender se alguém já tinha passado pela experiência que eu tive.
Andy assentiu, parecendo pensativa.
— Vi ela em alguns chamados, não tive muito contato direto mas o pessoal comenta que ela é durona, não deixa ninguém relaxar.
Eu balancei a cabeça rindo levemente.
— Acho que ela já me odeia — admiti meio em tom de brincadeira, mas com uma ponta de verdade. — Fiquei dez minutos na sala dela e parece que ela já formou uma opinião sobre mim... e não é boa.
Andy riu mas logo ficou séria, colocando uma mão no meu ombro.
— Olha, Maya, controla esse seu temperamento, o corpo de bombeiros não é o Comitê Olímpico. Aqui as coisas funcionam diferente, você sabe disso.
Respirei fundo sentindo o peso daquelas palavras, eu sabia que ela estava certa as vezes, minhas reações impulsivas poderiam me meter em problemas, era uma nova realidade e eu tinha que aprender a navegar por ela.
— Eu sei — respondi ainda processando tudo. — Só... é difícil me sinto como se estivesse sempre precisando provar alguma coisa, sabe?
Andy assentiu novamente mas seus olhos mostravam compreensão. Ela sabia o que era estar sob pressão constante assim como eu.
Depois de um momento em silêncio, Andy mudou de assunto e a leveza voltou à sala.
— E a Carina? Como estão as coisas com ela? — perguntou sorrindo de lado como se soubesse que aquela pergunta traria algo bom.
Não pude evitar sorrir, só de pensar na Carina, um calor invadiu meu peito. Ela era a melhor parte do meu dia, todos os dias.
— Estamos oficialmente namorando agora — disse sentindo meu coração acelerar um pouco ao dizer em voz alta.
Era real, oficial, e incrível.
Andy comemorou levantando as mãos e batendo palmas.
— Finalmente! — ela com um entusiasmo que me fez rir. — Tô muito feliz por você, Maya você merece ser feliz e seguir sua vida em paz, sabe?
Eu sorri sentindo uma onda de gratidão pela amizade dela. Andy sempre esteve do meu lado e eu sabia que ela realmente torcia por mim e ouvir aquelas palavras fez o peso do dia parecer um pouco mais leve.
— Obrigada, Andy. Sério. Isso significa muito — respondi, sincera.
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Amizade Colorida - Marina
FanfictionCarina DeLuca, uma renomada obstetra italiana que se encontra no auge de sua carreira e confortável em sua vida na ensolarada Sicilia. Enquanto isso, Maya Bishop, uma dedicada ex-atleta americana é encarregada de uma missão desafiadora: persuadir a...