MarianaO choque que tenho quando vejo Eduardo parado em minha porta é gigante, eu não esperava de forma alguma que ele voltasse aqui algum dia, achei que nunca mais o veria, que ele tinha se cansado de nossa amizade.
Fico confusa, não sei o que pensar, não sei se ele só está querendo saber como estou e vai embora e sumir novamente, se vai ficar e ser o cara companheiro que conheci no pior momento de minha vida. Não consigo entender o que ele quer.
— Eduardo? — Decido confirmar que não estou vendo coisas.
— Oi, tudo bem? — Ele me olha com doçura, isso é tão estranho, eu queria tanto ver ele novamente justamente por causa de seu olhar e agora que ele está aqui só consigo estranhar.
— O que faz aqui? — Não escondo minha surpresa, vejo ele me observar, sinto até vergonha, estava deitada, provavelmente estou descabelada, minha aparência não é nada boa, emagreci um pouco meu rosto deve estar horrível, inchado pelo choro e com olheiras profundas, a roupa nem vou comentar, só digo que é o tipo de roupa que não chamaria a atenção de um homem como ele.
— Vim conversar, trouxe comida para nós. — Ele balança a sacola para que eu veja, fico confusa, mas sei que ele não vai falar mais nada enquanto não permitir sua entrada.
— Ah, obrigada, entre. — Dou espaço para ele passar, sinto seu perfume com sua movimentação, tento esconder um suspiro, mas que droga de homem cheiroso, tinha até me esquecido do quanto amo seu cheiro.
Ele caminha direto para a cozinha e eu o sigo sem entender nada.
— Eu não entendo. — Resolvo dizer para o caso dele decidir explicar o que está fazendo.
— O que? — Ou ele é idiota ou se faz, não é possível.
— Sumiu, não disse nada e agora aparece do nada e com comida.
— Eu sei que me afastei e nem disse o porquê, desculpe, não vai mais acontecer. — Acho que ele não vai explicar mais nada e decido ignorar, não vou ficar criando questionamentos quando ele não quer explicar.
— Então amigos?
— Amigos, agora para de me enrolar e vem me ajudar a montar a mesa. — Ele diz naturalmente e fico o observando.
— Para que? — Pergunto abismada quando vejo que ele está querendo mesmo sujar louça.
— Para comermos! — Fico observando sua expressão de estranhamento, tenho até vontade de rir.
— Vai lavar a louça depois? Eu que não vou lavar, você que quer sujar as coisas sendo que é só pegar um garfo e uma faca e comer.
— Direto do marmitex?
— É! Qual seu problema?
— Nenhum, desculpe, realmente essa ideia é bem melhor. — Ele abre a gaveta e pega os talheres, me entrega junto com minha marmita e seguimos para a sala. — Como está?
— Bem, na medida do possível. — Dou de ombros, ele fica me observando tentar comer, me fico esforço, faz tanto tempo que não engulo nada, tenho até medo de passar mal depois.
— Amanhã eu volto com comida, todo dia no horário das refeições vou passar aqui para comermos juntos. — Ele diz do nada e isso me surpreende, o que ele pretende com isso? Vai se aproximar, me fazer confiar, querer seguir em frente, gostar se sua companhia e depois vai se afastar novamente? Ou vai mesmo ser um amigo e permanecer ao meu lado? Não sei o que pensar então deixo a cargo do tempo mostrar como vai ser as coisas.
— Não tem mais o que fazer não? Sua mãe não te ensinou que é feio se convidar dessa forma para casa dos outros ainda mais só para comer? — Eu brinco e ele sorri, retribuo. Eduardo consegue arrancar sorrisos verdadeiros de mim, gosto de sua companhia, ficamos conversando até tarde, então ele decide ir embora, insisto que está tarde e para que ele fique e durma aqui, mas ele se recusa e parte, consigo dormir tranquilamente, sua visita me deixou feliz e calma.
Acordo animada, passo um café, ligo a televisão num canal aleatório só para ter uma voz além da minha, ouço baterem na porta e vou abrir, levo um susto ao ver Eduardo ali.
— Oi, trouxe nosso café da manhã! — Ele me beija a bochecha, acho que nem se toca do que fez e vai caminhando para a cozinha. — Já passou o café que bom — Só me resta fechar a porta e seguir ele para a cozinha. Ele está tirando as coisas da sacola, faz sinal para me sentar e obedeço, eu não estava botando muita fé que ele voltaria, por isso estou meio que sem fala. — Dormiu bem? Parece descansada.
— Eu sei que ontem eu estava mesmo acabada, dormi bem obrigada, me sinto bem, passei o café e já estava indo abrir a loja.
— É bom te ver animada. Vamos comer?
― Vamos, mas fique sabendo que trouxe comida para um batalhão eu não vou comer tudo isso.
― Se comer um pouco já vai me deixar feliz, não precisa ser tudo. ― Sorrio e ele retribui. Conversamos sobre coisas banais, ele se despede e parte e eu vou abrir minha loja, no horário do almoço Eduardo torna a aparecer, tenho a leve impressão de que ele vai cumprir o que me disse ontem. No jantar é a mesma coisa, ele aparece e jantamos juntos, conversamos, rimos e assistimos um filme, ele vai embora e novamente vou dormir tranquila e feliz.
Eduardo se torna um obstinado em cumprir o que me disse, por uma semana todos os dias ele aparece em minha casa ou na loja para podermos comer juntos, todo dia eu e meu coração traiçoeiro que insiste em bater enloquecidamente cada vez que ele se aproxima o aguardamos ansiosos. Conversamos muito durante nossas refeições ele está sempre me ligando ou mandando mensagens e isso me deixa emocionada, nunca ninguém se preocupou tanto comigo, eu vejo em seu olhar o carinho e a preocupação.
Ele se interessa se estou me alimentando direito, se tenho pensamentos ruins ele muda o assunto e me faz rir de algo bobo, me ouve quando quero desabafar sobre algum sentimento ruim, ele é extremamente gentil, me ajuda de forma prática. Pedro não se interessava nem um pingo por absolutamente nada que eu fizesse ou dissesse, Eduardo tem um jeito travado em relação a sua vida pessoal, me fala muito pouco, mas comigo, quando se trata de mim ele se preocupa, tem interesse em ouvir, me apoia, isso me deixa encantada e emocionada.
Quando ouço a campainha corro para porta, sei que é ele, fico animada feito uma garotinha ao ganhar o doce que tanto queria, ele me faz bem e gosto de sua companhia, isso é novo para mim, mas gosto das sensações causadas por ele.
― Olá senhor bumbum guloso. ― Ele quer rir, vejo em seus olhos isso, mas ele possui um alto controlo invejável.
― Vai sempre abrir a porta assim? Um dia pode não ser eu.
― Não me importo nem um pouco, sua expressão é impagável e vale a pena a vergonha. ― Ele ri, observo suas mãos vazias e cruzo os braços. ― Acho bom você não estar achando que vou cozinhar para você.
Ele ri e nega, fico aliviada, não vejo problema em cozinhar, só não quero mesmo. Faço sinal para ele entrar e novamente ele nega.
― Vamos jantar fora hoje.
― Sério? Por que não disse antes? Vou me arrumar, prometo que serei rápida. ― Ele ia dizer algo, mas nem dou tempo, saio correndo rumo ao quarto, separo um vestido e um sapato de salto baixo, solto os cabelos, e estou pronta, volto a sala e ele me olha sorrindo.
― Está linda, vamos? ― Afirmo e seguimos rumo seu carro, nem me arrumei direito, costumava usar um pouco de maquiagem, mas nem batom passei, o vestido é simples, única coisa nova e bonita aqui é meu sapato, estava doida para usá-lo, tem um salto baixo e em formato bloco, na cor rosa bebê, simples também, mas lindo.
― Vamos em seu restaurante?
― Não.
― Ué, na aonde vamos então?
― Na concorrência!
― Prefere gastar dinheiro a comer de graça? Você é estranho!
― Prefiro saber como anda a concorrência. Se o atendimento é melhor, os preços, o local.
― Vai se aproveitar para espionar então. Gostei, conte com minha ajuda. ― Sorrio empolgada e ele retribui, observo Eduardo ao volante ele esta bastante concentrado, o carro está a uma velocidade um tanto duvidosa, talvez ele cause um acidente andando feito tartaruga, ele respeita absolutamente todas as leis, se eu já não tivesse colocado o cinto assim que entrei ele me pediria para colocar, tenho certeza, parece ter medo e isso é estranho, mas decido ignorar por hora, quero aproveitar essa noite, faz tempo que não saio, a cidade está bonita, iluminada, me sinto extremamente feliz hoje.
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Trilogia Irmãos Guerra - Liberte-se
عاطفيةEduardo Guerra e Mariana Perez são duas almas marcadas por cicatrizes do passado. Após uma tragédia que mudou a vida de Eduardo, ele se vê lutando contra fantasmas internos enquanto esconde sua verdadeira essência por trás de uma fachada de seriedad...