Eduardo
Quando eu entrei para vê-la me senti mal, ela me pareceu uma mulher engraçada e alegre, meio maluca também no dia que nos conhecemos na praça, e ver seus olhos sem o brilho daquele dia, seu rosto banhado de lágrimas, as mãos sobre o ventre quando me pergunta se já sei o que aconteceu me corta o coração.
Eu não fui criado para ignorar a dor alheia, minha mãe sempre me ensinou a mostrar preocupação e empatia, aprendi a me colocar no lugar da pessoa, eu consigo sentir um pouco da dor dela. Claro que não se compara ao que ela está sentindo. Acho que ser humano nenhum vai conseguir entender não podemos dizer que compreendemos a dor de alguém, mesmo que tenhamos passado pelo mesmo, cada um sente de forma diferente.
Eu estou realmente triste de ver ela tão frágil assim. Queria poder ajudar mais, queria poder arrancar essa dor que ela está sentindo, mas não posso. Quando ela pede um abraço só me resta oferecer o meu, ela chora em meu ombro, ela tem acho que sua primeira crise de choro, ouço seus soluços, sinto as lágrimas molharem minha camisa, seu corpo até mesmo balança devido a intensidade do choro.
Eu me permito derramar algumas lágrimas também, meus pais dizem sempre que quando não se tem palavras para consolar alguém um abraço, já ajuda, às vezes só ouvir a pessoa expressar sua dor, até mesmo chorar junto com ela. Sempre guardei isso comigo. Eu realmente não sei o que dizer, tenho medo de dizer algo que a deixe pior, então o melhor que posso oferecer é meu abraço e chorar junto com ela.
— Desculpe tocar nesse assunto agora, mas cadê o pai do bebê? Ele deveria estar com você.
— Meu filho não tem pai, ele é só meu.
— Desculpe, fui incoveniente.
— Não foi. É natural querer saber. Mas era só eu e meu bebê, sozinhos, mas completos. Eu só precisava dele comigo.
— Sinto muito mesmo. — Aperto meu abraço. Ela estava sozinha no mundo com seu bebê, cheia de coragem, cheia de esperança como ela disse, ela estava recomeçando, isso realmente não é justo.
— Obrigada estranho por estar aqui e me consolar mesmo não precisando fazer isso. — Sorrio, seu choro parte meu coração em pedaços, ela está novamente sozinha no mundo, um estranho como ela disse precisa estar ao seu lado.
— Não precisa agradecer nada. Não quer mesmo descansar um pouco?
— Não.
Fico com ela até que o médico a dê alta, ele faz mais algumas perguntas, oferece o cartão de um amigo psicólogo especialista em ajudar pessoas que passaram por traumas, eu guardo o cartão por ela que nem consegue parar de chorar. O médico torna a dizer que podemos ter outros filhos, eu não faço questão de desfazer o mal entendido e ela não está em condições para isso, o médico receita um calmante e pede para que eu fique com o remédio.
Saio com ela do hospital, eu não entendo muito, mas penso que ela deveria ficar aqui em observação, mas ela e o médico acham melhor que ela vá para casa então quem sou eu.
— Pode me dizer onde é a sua casa?
— É perto do restaurante, aos fundos da loja.
— A que inaugurou esses dias? — Ela apenas afirma.
Se eu não soubesse de onde ela está falando estaria agora mesmo chorando de desespero sem saber seu endereço, ela realmente não está em condições de falar sobre qualquer coisa.
Estaciono, a ajudo a descer, ela procura pela chave quando a encontra ela abre o portão.
— Posso te acompanhar até a casa?
— Por favor.
Acompanho ela até a casa, ela olha o local e suspira, caminha até o sofá e pede com um gesto para que eu me sente com ela. Ela escora a cabeça em meu ombro, as lágrimas voltam. Como posso deixá-la assim? Não consigo virar as costas e deixar que fique sozinha, vai saber o que ela está pensando, lembro do calmante e das recomendações do médico, na hora achei estranho, mas ela pode tomar esse vidro todo se ficar sozinha, pode ter uma overdose de medicamento, até me arrepio só de pensar, nós não conhecemos a dor dos outros, no desespero para que ela cesse qualquer loucura é válida.
Eu não arredo o pé daqui de jeito nenhum. Não deixo esse remédio perto dela também. Eu não sei o porquê, não entendo como me preocupo tanto com ela, é instintivo, não penso muito, só faço, quero cuidar dela, sinto essa necessidade.
— Como vou ficar aqui sozinha? Essa casa é enorme, estava reconstruindo boas lembranças aqui com meu filho, e agora não vou mais ter ele comigo. Sabe quando você se acostuma com a presença de alguém? Você sabe que tem aquela pessoa, que não está mais sozinha? Eu tinha meu bebê, não precisava de mais nada.
— Me parte o coração te ver assim, queria ser capaz de sumir com essa dor que está sentindo.
— Está fazendo muito por mim, obrigada.
— Parece que não é o suficiente.
— É, acredite, nem o idiota que um dia perdi meu tempo namorando se preocupou e cuidou tanto de mim.
— Não vamos falar disso agora, ok?
— Você é fofo. — Faço careta, isso é um elogio? Fofo? Sério isso?
— Quer deitar? Tomar um calmante para ver se consegue dormir?
— Que horas são?
— São quase 19h.
— Deveria estar no trabalho, eu te ocupei a tarde toda.
— Não se preocupe com isso. — O celular dela toca dentro da bolsa. — Não vai atender?
— Deve ser minha amiga Andréia, sempre nos falamos mais ou menos nesse horário, ou mais tarde.
— Quer que eu atenda?
— Ela não vai entender nada, vai se preocupar, amanhã eu falo com ela.
— Como quiser.
— Fica comigo até que eu durma?
— Você é maluca.
— Você não tem cara de quem vai abusar de mim, ou usar minha fragilidade para me machucar. Já poderia ter feito e não fez.
— Vamos, me guie, fico até que durma. Não quer pegar uma água para tomar o calmante?
— Não preciso tomar isso.
— Está bem.
Observo ela se deitar, me sento na cama, ela fecha os olhos, a pele está quente, o rosto vermelho e inchado, as lágrimas tornam a cair, mas agora parecem mais controladas, mais calmas, são lágrimas de conformação. Isso me machuca mais ainda. Uma mãe se conformando que perdeu o filho. Isso é triste. Eu sei que ela vai carregar essa dor para sempre, que vai ter momentos que ela vai ficar frágil, vai desabar, mas ela já está de conformando.
Acaricio seu cabelo, ela é bonita, jovem, o médico está certo, ela pode ter outros filhos, nunca vão substituir esse, mas poderão trazer alegria a ela. Ela não falou muito do pai do bebê, mas pelo que entendi ele é um babaca, se eu encontro esse idiota eu acabo com ele. Quando vejo que as lágrimas cessaram e que a respiração se tornou calma, me levanto e saio do quarto. Talvez amanhã ela me expulse de sua casa, mas eu não vou embora. Ligo meu celular, passei o dia ignorando as notificações.
Tem mensagens e ligações de meus irmãos, meus pais, de Amanda. Respondo as mensagens dela que está preocupada com a amiga, então torno a desligar o celular e me deito no sofá, não consigo entender como uma mulher tão nova, não tem família, amigos, só fiquei sabendo dessa Andréia que provavelmente nem daqui é e de Amanda. O ex ela odeia, imagino o quão babaca ele tenha sido com ela. Sozinha, como pode?
Sua fragilidade me deixa de certa forma estranho, quero cuidar e proteger ela de tudo e todos, nunca senti isso, ainda mais por uma completa estranha, nem mesmo sei seu nome, que absurdo. Não sei bem em que hora eu adormeço, mas sei que já é tarde da noite.
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Trilogia Irmãos Guerra - Liberte-se
Storie d'amoreEduardo Guerra e Mariana Perez são duas almas marcadas por cicatrizes do passado. Após uma tragédia que mudou a vida de Eduardo, ele se vê lutando contra fantasmas internos enquanto esconde sua verdadeira essência por trás de uma fachada de seriedad...