Capitulo 02

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Mariana

A vida nunca foi fácil, mas nada se compara aos últimos anos, parece que tudo está dando errado.

Perdi meus pais quando ainda pequena, fui criada por meus avós, eles eram os melhores, faziam de tudo por mim, me ensinaram muitas coisas, sinto muita falta deles, meu mundo ficou sem vida quando soube da morte deles.

Fui criada por eles em Belo Horizonte, lembro da lojinha que eles tinham, cresci correndo em meio aos clientes, quando chegou época de escolher um curso numa universidade quis algo novo, quis mudar, me afastar um pouco, me reencontrar, fui para outro estado prestar vestibular, passei e me mudei para o Rio de Janeiro para estudar.

No começo foi difícil me adaptar, uma vida tendo meus avós por perto e de repente já não os tinha tão perto.

Meus avós vieram me visitar, eu estava no começo do curso, longe deles, era tão difícil, a visita deles me animou muito. Eles estavam voltando para Belo Horizonte quando meu avô adormeceu no volante e acabou batendo em outro carro. O veículo deles capotou, eles faleceram a caminho do hospital. Desde então estou sozinha nesse mundo.

Quer dizer nem tão sozinha assim, tenho Pedro, meu namorado. Ele surgiu em minha vida justo quando mais estava precisando de consolo e carinho.

Eu tinha perdido meus avós recentemente, minha única família, estava me sentindo muito só e então Pedro surgiu em minha vida, começamos uma linda amizade, ele era carinhoso, engraçado, companheiro, me ouvia com atenção, logo acabei me apaixonando e começamos a namorar.

Pedro sempre foi o namorado dos sonhos, um verdadeiro príncipe, nos amávamos muito, bom eu sei que ainda nos amamos, embora já não seja mais como no começo. De uns tempos para cá as coisas desandaram em nosso relacionamento.

Já não é mais como no começo, Pedro muitas vezes inventa desculpas para não ficar comigo, não é mais tão carinhoso, vive estressado, tem dia que vem apenas atrás de sexo, isso me chateia, não sou um objeto para ser usada dessa forma.

Brigamos mais que o normal, geralmente é porque ou eu quero atenção dele ou ele quer a minha, coisas pequenas que antes não incomodavam ele, passaram a incomodar, ele vive reclamando.

Queria mudar essa situação, voltar a ser como antes, mas não sei o que fazer.

— Está me ouvindo Mariana?

— Que? — Olho para minha amiga que revira os olhos.

— Estava com a cabeça nas nuvens novamente! No que tanto pensa Mariana?

— Em muitas coisas Vivian!

— Por isso Pedro fica tão estressado com você. Anda pensando muito e agindo de menos amiga.

— Eu sei que estou deixando a desejar, mas estou com a mente cheia, está chegando a data do acidente de meus avós e eu sempre fico mal nesses dias, fora que ando muito confusa, um misto de sentimentos dentro de mim, Pedro exigindo coisas e mais coisas só me deixa ainda mais cansada e estressada.

— Depois que perder esse homem vai ficar chorando pelos cantos, age mulher! Quer que seu relacionamento volte a ser como antes? Se produza hoje, chame ele para jantar aqui e dê uma noite quente para ele.

— Vivian sexo não vai trazer de volta o que meu relacionamento perdeu.

— Como não?

— Vivian Pedro está agindo como se eu fosse um objeto, ele me quer apenas para satisfazer os desejos sexuais dele. — Vejo que revirar os olhos e acho estranho. — Ele já não quer mais saber de conversar, nem mesmo pergunta como estou me sentindo, não me dá carinho, atenção, ele deixou de ser o príncipe encantado de antes.

— E você não fez nada para que ele passasse a agir assim?

— Confesso que estou errando em alguns pontos, mas cadê o namorado compreensivo que ele foi um dia?

— Mari se quer conversar procure um psicólogo, seu namorado vai querer outra coisa.

— Não me entende.

— Não mesmo. Se eu tivesse um homem como Pedro do lado não deixaria de saciar os desejos dele na hora.

— Vivian!

— Estou brincando bobinha, jamais se quer olharia para seu namorado.

— Eu sei, obrigada pelos conselhos, vou ligar para ele, chamá-lo para jantar e tentar ter uma noite romântica.

— Isso garota. Agora eu vou indo, tchau amiga.

— Tchau. — Vivian vai embora e olho ao redor, às vezes me sinto tão sozinha até mesmo quando estou cercada de pessoas. Vivian estava aqui e isso não me impediu de viajar em pensamentos, não impediu que me sentisse sozinha e incompreendida.

Acho que já não sou mais tão feliz como antes. Queria saber quando foi que me perdi dessa forma.

Volto a pensar em meus avós, queria tanto tê-los aqui, com certeza não me sentiria tão sozinha, teria os melhores conselhos e ainda poderia correr para o colo deles.

Como a saudade dói, já se passaram cinco anos, mas ainda é como se fosse ontem, vovó amava sua loja, na semana que passou comigo e teve de deixá-la fechada ela não se aguentava, sinto pena de ter que deixar o local que ela tanto amava largado, mas não vou voltar para Minas Gerais tão cedo.

— Chega de pensar nessas coisas Mariana, isso não te faz bem!

Me levanto e resolvo seguir o conselho de Vivian, já são 17h, Pedro já saiu do trabalho e deve estar em casa, começo a preparar o jantar, arrumo a mesa deixo o mais romântica possível, termino de cozinhar e vou tomar banho, coloco minha lingerie nova, um vestido preto, curto e uma sapatilha, passo o perfume em pontos estratégicos e estou pronta.

Deveria ter ligado antes para Pedro e convidá-lo, mas sei que ele não vai recusar então estou confiante, pego o celular e ligo.

— Oi gata.

— Oi Pedro, estou com saudades.

— Eu também.

— Está muito ocupado?

— Não.

— Quer jantar comigo aqui em casa.

— Que… Espera aí gata, estão me ligando do trabalho.

— Tudo bem, fico em espera. — Sou muito ansiosa e odeio esperar, começo a puxar a pelezinha do canto do dedo, acho estranho essa ligação do trabalho dele, Pedro tem um emprego dos sonhos, horário flexível, salário excelente e ele sendo um dos chefes poderia muito bem redirecionar essas chamadas para seu estagiário, mas ok.

— Voltei gata.

— Era algo importante?

— Não muito. O que dizia?

— Te chamei para jantar aqui em casa.

— Ah, não vou poder.

— Achei que não estivesse ocupado.

— Pois é, mas surgiu um imprevisto do trabalho. — Mas ele não disse que não era importante? Eu ia reclamar, mas resolvo deixar quieto.

— Tudo bem então, boa noite.

— Boa noite, sonhe comigo. — Ele nem espera uma resposta minha e desliga, suspiro frustada, toda essa produção para nada. Vou ter que jogar comida fora, odeio desperdício, mas não consigo comer tudo que preparei.

— Bem feito sua tonta. Aprende a ligar antes.

Vou até a cozinha, retiro as velas que tinha colocado na mesa, pego um prato, me sirvo e como. Lavo a louça e vou para o quarto. Retiro o vestido e me deito, péssimo momento para colocar uma lingerie nova, ninguém além de eu mesma para ver.

Suspiro cansada e sem ânimo, acho que foi até bom os planos dessa noite não darem certo, não estou com ânimo. Entre um pensamento e outro acabo adormecendo.

Trilogia Irmãos Guerra - Liberte-seOnde histórias criam vida. Descubra agora