Eduardo
Olho para a sala da minha casa, olho para o teto, olho para todo quanto é canto, e me sinto bem, mas sozinho. Às vezes o silêncio é reconfortante, mas também é tão agonizante.
Sempre gostei de ser sozinho, mas hoje em dia eu nem sei mais o que quero para a minha vida, às coisas andam tranquila, porém, eu sinto que falta algo, mas eu não sei o que é.
Talvez ver meu irmão casando, construindo sua família, tenha me deixado sentimental assim. Não tenho medo do amor, não tenho medo de construir uma família, meu medo é um dia ser abandonado, é descobrirem que faço parte de uma tragédia e me acusarem, eu tento enfiar na cabeça que a culpa não foi minha, mas não dá, eu sinto que uma parcela da culpa é minha. Quem saiba se eu não tivesse me distraído, eu poderia ter evitado o acidente, mas a vida continua, o que posso fazer é remoer essa culpa que carrego e tentar viver minha vida o mais tranquila possível.
Quem vai querer se envolver com um homem que carrega uma morte nas costa? Ninguém. Então para poupar um grande estrago no meu coração, eu prefiro viver livre, sem compromisso, sem o medo de ser deixado.
Suspiro cansado de tudo isso, pego minhas chaves e meu celular, resolvo dar um passeio na praça, respirar ao ar livre deve ajudar. Decido caminhar, meu celular apita é uma mensagem do Augusto dizendo que vai na praça com as crianças. Sorrio, eles sim me fazem esquecer tudo, amo de mais aquelas crianças.
Augusto teve tanta sorte de encontrar Cecília, acho lindo o amor deles, Cecília apareceu na vida do meu irmão, tirando ele do escuro que ele tava entrando por conta da Carmem. Ela deu a ele filhos lindos, e hoje ele é um cara totalmente realizado.
Quando chego na praça não vejo eles, decido me sentar em um dos bancos. Fico ali com meus pensamentos, quando do nada uma figura feminina aparece. Finjo que nem estou vendo ela.
— Olá boa tarde! — Ela diz e a olho com um pouco de desconfiança.
— Boa tarde. — Digo por educação, não irei ser grosso com a mulher.
— Posso me sentar ao seu lado? — Sentar aqui? Tem outros bancos pela praça, porque ela quer se sentar justo nesse. Olho para a cara dela.
— Não, está ocupado. — Falo sem pensar muito. Ela me olha intrigada, olha o banco todo e faz uma cara pensativa. Quem saiba assim ela vê que não quero uma estranha ao meu lado.
— Nossa mas que bumbum guloso esse seu hein. Ocupa o banco todo! — Olho para ela sem entender e pasmo com o que ela acabou de falar. Onde já se viu falar algo assim pra um estranho. Ela me olha divertida, não vou negar que tive vontade de rir quando ela disse "Bumbum guloso", mas me contive. — O dia está quente hoje neh? — Ela tenta continuar a conversa, mas eu não estou disposto a conversar, ainda mais com uma desconhecida.
— Sim. — Respondo sem dar muita prosa pra ela. Eu só quero ficar quieto e sozinho aqui até meus irmãos chegar com as crianças, é pedir de mais?
— Tive que sair para dar um passeio, estou enjoada devido a gravidez, achei que a praça seria uma ótima opção. — Grávida? A olho surpreso.
— Está grávida? — Pergunto, surpreso e ela afirma. — Não parece.
— Três meses.
— Uau, parabéns? — Digo a ela que sorri agradecendo. Me afasto um pouco dando espaço pra ela se sentar. Não sou ruim ao ponto de deixar uma grávida em pé. — Sente-se acho que não pode ficar muito em pé?
— Na verdade nem eu sei se posso, não perguntei ao médico, sou mãe de primeira viagem. — Ela diz meia confusa. Sorrio internamente. Mas uma pergunta me corrói pro dentro, onde está o marido dela? — Gosto de observar as pessoas, principalmente as crianças, são tão puras e ingênuas. Parece estranho? — Ela pergunta e nego.
— Não. Passou o enjoo? — Pergunto preocupado com ela.
— Já quer se livrar de mim? — Pergunta divertida.
— Não é isso, eu só... — Tento me explicar, mas acabo sem jeito. Nunca fiquei tanto tempo perto de uma mulher ainda mais conversando. E outra, vai que ela é casada e seu marido vê e não gosta. Já tenho problemas o suficiente.
— Eu sei, estava só brincando. Está passando, obrigada pela preocupação. Sabe quando eu falo para as pessoas aqui que estou grávida o comportamento delas muda.
— Acho que as pessoas ficam mais sensíveis ao ver uma grávida, sei lá.
— Foi por isso que me deixou sentar? — Ela pergunta e apenas dou de ombros.
Olho ao redor procurando por aqueles idiotas que não chegam logo. A garota aí meu lado não é irritante, mas eu não sei mais o que falar com ela. Mulheres grávidas ficam muito sensível, quase morri quando ela disse que está grávida, o medo de ela começar a chorar por conta do banco é enorme. Sinto um alívio quando vejo eles vindo. Ela parece perceber que espero alguém e se levanta. Olho surpreso e feliz ao mesmo tempo.
— Foi um prazer conhecê-lo senhor bumbum guloso, adeus. — Ela diz acenando e sorrindo. E o pior é que eles com certeza ouviram o que ela disse. Quando ela sai, meus irmãos começam a rir. Bufo pra idiotice deles.
— Senhor bumbum guloso? — Álvaro pergunta rindo. Mostro o dedo do meio pra ele. — Sebastião vai adorar saber disso.
— Eduardo olha as crianças aqui. Não faça esses gestos feios na frente deles. — Augusto diz me repreendendo. Adam corre e me abraça. Beijo seu rosto, Helena tenta imitar seu irmão, sorrio pegando ela no colo. Ela parece um patinho andando.
— Oi meus amores, como vocês estão? — Pergunto a eles que sorriem dizendo que estão bem. — Estava com saudades de vocês.
— Nós também tio. — Adam diz feliz. — Eu vou brincar com minha irmã. — Ele diz e sai com ela, a pequena sai correndo atrás do irmão. Sorrio vendo o quão feliz Adam está depois de ter passado por tudo aquilo.
— Ela parece um patinho andando e correndo, não acham? — Álvaro solta e Augusto da um tapa em sua cabeça.
— Se minha mulher ouvir você falando assim da nossa filha, ela te mata. — Augusto diz bravo. — E eu vou arrebentar sua cara.
— Mas eu só tô dizendo a verdade.
— Eu também tô dizendo a verdade, eu irei arrancar seus dentes.
— Você não acha Eduardo? — Ele pergunta rindo.
— Eu não sei de nada. — Digo a eles. Vou até às crianças. Eu que não quero provocar a raiva de Augusto. Os filhos dele e Cecília são tudo pra ele.
— Você é um safado, tá correndo. — Álvaro grita e sorrio. Eu é que não vou meter no meio deles.
— Tio vamos brincar. — Adam grita e sorrio indo até eles.
Começamos com uma brincadeira onde eu tinha que correr atrás deles e tentar pegar eles. Sorrio ao ver minha garotinha correndo feliz. Ela é tão linda. Espero um dia superar esse medo do abandono e conseguir seguir em frente e dar uma chance ao amor, tenho meus medos, e tudo começa com borboletas no estômago e termina com um enorme vazio no coração, as vezes é melhor evitar tudo isso e viver com a solidão.
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Trilogia Irmãos Guerra - Liberte-se
RomanceEduardo Guerra e Mariana Perez são duas almas marcadas por cicatrizes do passado. Após uma tragédia que mudou a vida de Eduardo, ele se vê lutando contra fantasmas internos enquanto esconde sua verdadeira essência por trás de uma fachada de seriedad...