Capítulo 20

174 33 4
                                    

Mariana

Um mês desde o dia da perda mais dolorosa de minha vida, às vezes parece que foi ontem, dói, esmaga, dilacera, é horrível não poder fazer nada além de se entregar a dor e a solidão.

Amanda tem sido uma ótima amiga, me ajuda, aconselha e não me deixa ficar deprimida, com ela é só risos, o problema é quando não estamos juntas, afinal ela precisa trabalhar e eu também.

Pensamentos ruins me invadem todos os dias, não sei lidar com isso. Andréia me liga todo dia, falo com as crianças e isso me anima um pouco, ela me conhece como ninguém, sabe que quando digo que estou bem estou mentindo descaradamente, mas uso da distância para não levar nenhuma represália pela mentira. Ela às vezes me trata como um de seus filhos e não como sua amiga.

Apesar de todo sofrimento, toda dor, ainda consigo encontrar forças para sorrir, para trabalhar e ficar em companhia de meus amigos, são poucos, mas sou tão grata por tê-los, aplaca um pouco toda minha solidão.

Hoje em especial estou profundamente deprimida e não quero ver ou falar com ninguém, mas eu sei que daqui a pouco vou receber uma ligação de Andréia e depois Amanda vai bater em minha porta. Vou ter umas horas de riso e depois tristeza de novo.

Dito e feito, a começar pela ligação, olho meu celular e até consigo rir, isso se tornou rotina já.

— Oi Andréia.

— Oi, como está?

— Hoje especialmente deprimida. — Não tem porque esconder, talvez ela me ajude com algum super conselho. Ou só chore comigo, já basta. Sinto pela voz embargada dela que vai ser a segunda opção.

— Hoje fez um mês, por isso liguei tão cedo, sabia que estaria triste, eu não sou tão boa em animar as pessoas como a Amanda, mas vou te fazer um pouco de companhia hoje. Conta tudo. — Andréia é tipo um porto seguro, ela é calma, transpassa segurança, uma mãe perfeita, para os filhos e para os amigos. Ela me ouve com atenção, me dá um conselho ou outro, chora comigo e isso é tão importante, tão significativo. Achei que com minha mudança nossa amizade esfriaria, mas não, às vezes não nos falamos por dias, mas quando ligamos uma para a outra a conexão é a mesma, a amizade, o companheirismo, é tudo igual.

— Mas chega desse assunto, e as crianças como estão?

— Bem, ansiosas para nossa viagem, isso que ainda falta meses, mas eles contam os segundos para poderem ver a tia Mariana, dá até um certo ciúme sabe? — Sorrio, amo aqueles pequenos e eles me amam, são minha alegria, apesar de eu pensar muito em meu bebê quando falo com as crianças de minha amiga elas também me ajudam, são puras e me fazem feliz, meus momentos mais sinceros de riso são com eles.

— Estou ansiosa para vê-los, vão amar a praça, as padarias daqui são um verdadeiro sonho e os restaurantes? — Sempre gostei de comida, no geral mesmo, não sou fresca para nada, está aí algo que me deixa de olhos brilhando. Mas ultimamente ando sem apetite, até emagreci uns quilos, nada muito exagerado, eu acho, mas é perceptível pelo meu rosto mais fino, e minha nada típica magreza no restante do corpo.

— Só pensa em comida mulher! Falando em restaurante, e o bonitão?

— Eduardo e eu quase não nos falamos mais, às vezes ele me manda uma mensagem perguntando como estou, respondo que bem e só, ele está estranho, não parece mais o mesmo Eduardo que passou os piores dias de minha vida comigo.

— Não acho que ele esteja estranho, acho que ele está com medo.

— De mim?

— Dos sentimentos que causa nele. Homens são idiotas por natureza, que meu marido não escute isso, mas é a verdade. Eles tem medo de sentimentos amorosos.

Trilogia Irmãos Guerra - Liberte-seOnde histórias criam vida. Descubra agora