Capítulo 14

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Mariana

Meu bebê se foi, que triste acordar e ter essa sensação de vazio. Não tenho mais uma vida dentro de mim, meu motivo para me levantar todos os dias. Eu não desejo que algo assim aconteça nem mesmo com meu pior inimigo, a dor de perder um filho é imensa, te consome, engole, te destrói.

Eu nunca achei que passaria por tanta coisa em tão pouco tempo, descobrir uma traição dupla, do namorado e da amiga, então uma gravidez, mudança de cidade, tocar meu próprio negócio e por fim perder meu bebê.

Quando pensei que estava reconstruindo minha vida, que não estaria mais sozinha, que teria meu filho comigo, veio essa bomba sob minha cabeça, eu ainda estou atordoada, profundamente triste, melancólica, porém agora já não sinto mais o desespero de ontem.

Ainda dói como nada nunca doeu tanto antes, e sei que essa dor não vai passar tão cedo, ou se algum dia passará. Não sei como seguir minha vida, como vou entrar no quartinho que estava arrumando para meu bebê? Como vou olhar para suas roupinhas e brinquedos que já tinha comprado?

Só de pensar que vou ter que contar isso para Andréia, ainda nem consigo dizer direito em voz alta que perdi meu bebê, ontem, apenas uma vez falei, para o estranho que me ajudou e depois foi só chorar em seu ombro.

Seco as lágrimas e respiro fundo tentando me acalmar, preciso ser forte, não posso me entregar a dor, não sei bem como vou fazer isso, mas vou. Tomo um banho e me troco, caminho em direção a cozinha quando passo pela sala dou uma rápida olhada para o sofá e na mesma hora paro de andar, não acredito no que estou vendo.

Ele dormiu mesmo aqui? Eu achei que ele tinha ido embora depois que me deitei. Sorrio, esse estranho me fez bem e se preocupou mais do que um namorado de anos que nunca nem se importou. Como pode ser assim? Tão gentil e amoroso? Os pais dele devem ser maravilhosos, ensinaram bons valores a ele.

A que ponto cheguei? Um estranho me ajuda, passa por todo um momento de crise comigo, dorme em minha casa, e nem mesmo sei seu nome. Um estranho bonito, balanço a cabeça, o que estou pensando meu Deus? Olho novamente o homem dormindo em meu sofá, ele está de costas para mim, o que me dá a visão privilegiada de seu bumbum e sorrio lembrando do apelido ridículo, mas muito engraçado que minha mente criou para ele.

Torno a caminhar e vou para a cozinha, começo a preparar o café da manhã, o bondoso e empático estranho merece alguma gentileza de volta. Arrumo uma bela mesa, faço uma certa bagunça então aproveito e já arrumo e lavo as louças para não acumular, o estranho tem um sono pesado ou ele está muito cansado, pois com todo barulho que fiz ele não acordou, decido chamá-lo para o café.

Me aproximo do sofá, me abaixo e toco seu ombro. Chamo por ele que não dá sinal de vida, dou uma leve chacoalhada em deu ombro ele abre os olhos assustado, ele se atrapalha e quase caí do sofá, só me resta rir. Ele fecha os olhos com força, acho que a claridade o incomoda. Ele torna a abri-los, se senta e me olha preocupado.

- Está tudo bem?

- Na medida do possível, fiz café e preparei algumas coisas para comermos.

- Eu posso usar seu banheiro?

- Claro, no final do corredor a porta a direita, no armário tem toalhas limpas e escovas de dente novas.

- Obrigado. - Ele se levanta e segue por onde falei, volto para a cozinha, sirvo uma xícara de café e tomo aos poucos enquanto penso em minha vida, ele surge uns minutos depois, o cabelo molhado e as mesmas roupas de ontem, porém agora amassadas dão um ar sexy a ele, balanço a cabeça, o que raios estou pensando? Estou tão carente assim?

- Senta, fique a vontade.

- Obrigado. Se esforçou muito fazendo tudo isso? Não pode.

- A grande maioria já estava pronta, porém guardada, não se preocupe que não me esforcei em nada, a não ser que colocar algumas colheres de açúcar e pó de café numa cumbuca seja esforço?

Ele sorri e fica tão bonito assim, esse homem devia ter algum defeito, é meio injusto com o resto da humanidade, alguém tão gentil, educado, simpático e amoroso ainda por cima ser bonito desse jeito.

- Esforço algum. Dormiu bem?

- Consegui descansar sim. E você? Achei que tinha ido embora depois que apaguei, não esperava te encontrar dormindo em meu sofá, fiquei surpresa.

- Não consegui ir embora, fiquei preocupado e com medo de se sentir mal, ou acordar e sei lá. - Dá de ombros, ele tem esse lado que se importa e não sei se é por causa dos acontecimentos recentes, por não ter ninguém por perto, por anos perdidos em uma relação que não valia a pena, sei que sua preocupação, seu cuidado e carinho me tocam profundamente.

- Obrigada, por tudo, nunca vou conseguir agradecer o suficiente tudo que fez e está fazendo por mim.

- Não sei ignorar uma situação dessas, não consigo.

- Isso é fofo, seus pais te criaram para ser um príncipe não é mesmo?

- Um príncipe eu não sei, mas que me criaram para me importar com o próximo e com seu bem estar isso sim.

- Se eu ainda tivesse meu bebê eu faria o mesmo. Gosto disso, o mundo precisa de mais pessoas assim. Vou sentir tanta falta do meu bebezinho. - Ele pega minha mão sob a mesa e aperta me consolando.

- Vai ficar tudo bem. Vai passar toda essa dor, é jovem e pode ter outros filhos, nunca vai se esquecer desse é claro, a dor da perda ainda vai existir, porém de forma contida, vai ser mais uma saudade, mas vai ficar tudo bem.

- Obrigada por estar sento tão gentil, obrigada pelas palavras, eu sei que uma hora a dor vai se acomodar, tento me consolar com isso. - Ele leva minha mão que está presa a sua aos seus lábios e deposita um singelo beijo nela, é carinho tão bom, eu estranhamente gosto desse homem, gosto de sua companhia e da forma como se preocupa, gosto de como está cuidando de mim, mesmo sem me conhecer direito.

- Não consigo entender uma coisa.

- O que?

- O pai do bebê, por que ele não apareceu no hospital? Por que não te ligou para saber do filho? - Ele me olha nos olhos, parece desvendar minha alma, não estou pronta para falar de Pedro, sinto certa mágoa, não pela traição, mas pelo tempo perdido com um cara tão idiota. Desvio meus olhos, puxo levemente minha mão e volto a pegar minha xícara de café e dou um longo gole nele que agora já está morno.

- Seu café vai esfriar. Come, deve estar faminto, não te vi comer ontem, passamos quase o dia todo naquele hospital e quando chegamos já na boca da noite eu deitei e apaguei, acho que você também, então está sem comer, pode passal mal. - Desembesto a falar num claro nervosismo, não quero falar de Pedro, o estranho sabe bem que estou mudando de assunto e aceita, ele não me obriga a falar do progenitor de meu filho. Pedro não era e nunca foi o pai do meu bebê.

Ele come e toma o café, fica me olhando e eu tento puxar assunto sobre qualquer outra coisa, até sobre o tempo tentei falar.

- Já entendi que não quer falar dele, não precisa falar de chuva sendo que a previsão só está marcando um sol escaldante para nós.

Sorrio e ele retribui, ele é compreensivo e cada minuto acho uma nova qualidade para admirar nesse homem, assim não dá. Ele é perfeito, não sei nem o que está fazendo nesse mundo conosco, meros mortais.

- Sabe que, mentalmente te chamo de estranho? Não sei nome.

- Convenhamos que estranho é melhor que bumbum guloso. - Eu rio, ele dá um leve sorriso.

- Jura que se lembra disso? Foi a mil anos. - Não vou dizer a ele que pensei nesse apelido hoje mesmo, quando o vi dormindo no sofá.

- Foi a dois dias. É meio que impossível esquecer esse apelido ridículo. O que se passou na sua mente para me dizer isso?

- Nada e tudo, eu sou assim, às vezes solto cada coisa, penso e de imediato falo.

- Às vezes isso é bom. Melhor que pensar mil vezes e acabar não falando nada.

- Isso é mesmo.

Ficamos nos olhando, eu esperando que ele diga seu nome e ele pensando na morte da bezerra só pode para estar demorando tanto. Sorrio com a ideia de que esse estranho pode ser um grande amigo. Talvez o único que eu consiga por aqui.

Trilogia Irmãos Guerra - Liberte-seOnde histórias criam vida. Descubra agora