POV Hyoga/POV Milo

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Eu e Isaak subíamos as escadas em silêncio. Eu ainda estava extasiado com a chegada de Isaak. Sequer conseguia acreditar que ele estava ali comigo. E parecia até que ele sabia que eu precisava da presença dele ali, naquele exato momento. Não sabia como ele conseguira sair da Sibéria e estar ali. Isaak era muito mais esperto que eu. Diferente de mim, ele já tinha se acostumado com aquela vida e não tinha muitos problemas em se arriscar. Era como se ele soubesse o valor que possuía e conseguisse driblar qualquer tentativa terceira de lhe frear. E talvez por ser assim que ele acabou se aproximando de mim. Acredito que ele tenha se compadecido por eu ser tão ingênuo e emotivo. De alguma forma ele sabia que aquela vida não era pra mim. E desde então ele tem tentado me proteger a qualquer custo, mesmo que aquilo significasse dar sua vida, literalmente. Eu sabia que ele não via as coisas da mesma maneira que eu. Eu sempre coloquei muito mais peso nas coisas. Talvez por isso, jamais conseguira afastar a tristeza de mim. Se eu dissesse que devia a vida à Isaak, ele me repreenderia como já o fizera antes. De acordo com ele, eu teria feito o mesmo se a situação fosse oposta. Ele não estava errado, mas isso não diminuía em nada seu ato heróico.

De certa forma, senti meu coração se acalmar um pouco. As coisas estavam fora do que eu havia planejado. Tudo estava mais difícil do que eu imaginara. Como se não bastasse minha tentativa falha de me afastar, agora minha avó estava internada. E o que eu faria? Isso saíra completamente do meu controle. Já não sabia se conseguiria deixá-la em um momento como esse. Do jeito que meu pai falou, ela provavelmente já não tinha muita esperança. E novamente a culpa era minha. Se ela não tivesse assumido aquele compromisso estúpido com a minha mãe, ela poderia ter vivido o resto dos seus dias tranquilamente. Mas novamente o peso da minha existência estava afundando outra vida. Por quê? Por que eu tinha que estar ali? Por que eu não morri no lugar da minha mãe? Ela poderia ter voltado para meu pai e feito uma nova família. Por que ela escolheu morrer para que eu vivesse? Agora eu estava ali, sendo um estorvo para mais pessoas. Quanto tempo mais eu teria que agüentar aquilo? Quantas vidas mais afundariam por minha causa?

Senti meus olhos marejarem. Eu estava cansado. Eu estava esgotado. Entramos no meu quarto e eu fechei a porta atrás de mim.

- Caramba, Hyoga. Essa casa é muito to... - interrompi meu amigo, ao abraçá-lo repentinamente. Ele me abraçou de volta. - Você não agüenta ficar sem mim, não é?

Eu apenas o abracei mais forte, já me entregando às lágrimas. Eu não queria que ele fosse embora mais. Eu já não conseguiria fazer nada sozinho. Já estava praticamente entregando o futuro nas mãos do destino. Quem sabe Isaak conseguisse me dar forças para seguir com o que eu estava planejando.

- Hyoga, eu não gosto de te ver assim. - ele se afastou um pouco para olhar em meus olhos. - Você está pálido, com olheiras e olhos vermelhos, está mais magro do que normalmente. Todo ano você fica assim. Achei que se estivesse com seu pai, talvez fosse diferente. Mas você não se permite ser cuidado por ninguém, não é?

- Você sabe que não posso. - falei, sentando-me na minha cama e limpando minhas lágrimas.

- Não te entendo. Seu pai te aceitou muito bem, pelo visto. Se você contasse tudo, tenho certeza que ele resolveria o problema. - Isaak jogou sua mochila no chão e sentou-se ao meu lado.

- Lembra que eu te disse que minha mãe falava que meu pai era uma pessoa super correta? - ele apenas acenou com a cabeça. - Parece que ela não exagerou em nada. Sendo assim, o que você acha que ele faria?

- Você acha que ele chamaria a polícia? Mas isso colocaria sua vida em risco. Mesmo que seu pai seja correto, duvido que ele faria algo assim.

- Mesmo que meu pai não chamasse as autoridades, você acredita que ele me deixaria ir assim tão fácil?

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora