POV Hyoga

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— Bom dia. – falei meio que bocejando.

Não percebi que tínhamos visita. Andava meio que dormindo pela casa. Fiquei um tanto sem graça quando vi todos olhando diretamente para mim. Com razão, já que vestia apenas uma boxer preta.

— Bom dia. – responderam todos.

— Hyoga, isso é jeito de sair do quarto? – disse minha avó.

— Dá um caldo, hein? – disse um rapaz moreno, mais ou menos da minha idade.

— Ikki! – um dos adultos chamou a atenção dele.

— Tudo bem. A culpa foi minha de ter aparecido desse jeito. Peço desculpas pelo inconveniente e agradeço pelo elogio. – respondi sorrindo docemente.

Vi o rapaz, chamado Ikki, ficar sem jeito com a minha reação e tive que segurar para não rir. Eu realmente não estava no clima para ser gentil, mas nunca fui mal educado. Ok, eu admito que no dia anterior eu bati meu recorde, mas nada que não estivesse dentro do planejado. Só não sabia por quanto tempo eu conseguiria manter as coisas daquela forma. Eu olhava para Camus e tinha a certeza de que minha mãe tinha razão. As lembranças que possuía dela não eram muitas, mas eu recordava muito bem quando ela me falava que eu e meu pai nos daríamos muito bem. Ele era exatamente como minha mãe dizia. Era o herói que eu idealizava. O homem que eu tomaria como exemplo para a vida. Eu nem precisaria fazer esforço para me dar bem com ele. Mas o esforço para o contrário seria enorme. Eu sabia que estava fazendo besteira, mas eu não queria que acontecesse com meu pai o mesmo que acontecera com a minha mãe. Eu tinha que me certificar que nada iria atrapalhar a felicidade dele. Foram 14 anos! Ele não merecia aquilo de forma alguma. Eu não podia simplesmente dizer o que estava sentindo, porque mesmo que eu estivesse certo, ninguém me daria razão. E por mais que eu tenha sofrido nesses 14 anos de existência, eu detestava quando as pessoas sentiam pena de mim. Eu não precisava daquele tipo de sentimento! Não ajudava em nada, só piorava as coisas. Então aprendi a vestir um sorriso e seguir meu caminho. Para evitar que aquele inconveniente me atingisse.

Olhei para todos na sala. Eu ainda estava com sono, muito sono. A viagem tinha sido muito cansativa e, como sempre, eu não conseguia dormir bem à noite. Ficava preocupado com o estado de saúde da minha avó e sempre que conseguia dormir, tinha um pesadelo e logo acordava. Eu me sentia completamente infantil naquela situação, mas desde que minha mãe morrera, aquela tinha sido a minha rotina. Aquela imagem vinha me assombrar todas as noites. Eu me lembrava nitidamente daquele dia. E pensar que ela sorriu para mim até o fim. Como se aquilo pudesse espantar o medo e o desespero de uma criança que se vê obrigada a se separar da mãe. Eu queria ter sorrido para ela de volta. Mas eu tinha apenas 4 anos e tudo que eu consegui fazer foi chorar e gritar por ela. Maldito destino! Eu poderia simplesmente culpar meu pai, por tudo de ruim que nos aconteceu. Seria razoável, aceitável. Qualquer um compreenderia se assim eu o fizesse. Por isso escolhi esse caminho. Mas eu realmente sentia aquilo? Claro que não! Eu não sou nenhum idiota! Eu bem sabia que meu pai era a maior vítima de todos naquela história. Por mais que eu amasse minha mãe, eu jamais concordara com a atitude dela. Então a culpa era dela? Também não! Eu não podia julgá-la. Ninguém podia. Ela fez o que achava melhor para proteger quem ela amava. Talvez não tivesse sido a melhor decisão, mas foi o que ela conseguiu fazer. Então eu simplesmente culparia o destino? Não! O culpado nessa história toda era... eu. Fui eu quem matou minha mãe. Por quê? Simplesmente porque eu estava lá. Eu existia naquele momento. Uma criança completamente inútil, desnecessária. E agora, mais uma vez, eu me via naquela situação. Qual era a necessidade de entrar na vida do meu pai? Eu só traria problemas. O fruto de um passado amargo, indesejável. Nada de bom poderia vir daquela situação. E definitivamente meu pai não merecia aquilo! Mas tudo já estava organizado em minha mente e, assim, eu sumiria de vez da vida dele. Poderia ser um pouco cruel, depois que ele já me conheceu e soube da minha existência. Mas eu não prolongaria aquele sofrimento por muito mais tempo. Eu não me importava de sofrer, já estava acostumado. Mas não suportaria fazer meu pai sofrer.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora