POV Camus/POV Milo

210 18 6
                                    

POV Camus

Eu sabia que Milo ia acabar se precipitando. Eu não devia tê-lo deixado junto com Hyoga naquela hora. Eu entendia que ele queria entender meu filho. Eu entendia que ele queria evitar confusão, já que Hyoga estava agindo de maneira estranha. Eu entendi o lado de Milo. Mas também entendia o lado de Hyoga. Meu filho nunca vira o pai antes, apenas ouvira falar. Pelo visto, ele cresceu em condições bem precárias, apenas com a avó, que estava doente. E isso após ter perdido a mãe. Mesmo que ele não me culpe de nada e que não me odeie, com certeza tem várias coisas se passando naquela cabecinha loira, vários questionamentos, feridas, coisas pessoais. Eu, como um estranho, não poderia pedir para que ele se abrisse para mim imediatamente. Isso apenas o afastaria ainda mais de mim. Eu queria conquistar sua confiança, seu amor, para que ele me contasse por conta própria. E para isso eu iria me aproximar aos poucos, tentando demonstrar o quanto eu já era seu pai, mas também que eu estava disposto a ouvi-lo como filho. E como não nos conhecíamos muito bem ainda, eu teria que ser cauteloso para não magoá-lo ainda mais. Eu ainda não tinha certeza de nada, apenas de que ele não era aquele garoto problemático que ele estava tentando transparecer. Mas isso não mudava o fato de que eu não conhecia seus reais sentimentos. Logo, não poderia ficar jogando verde para colher maduro.

Por outro lado eu estava feliz de ver que Milo estava tão disposto a ajudar meu filho. Meu marido era excepcional! Muitos outros não aceitariam aquela situação ou não se importariam com Hyoga. Mas Milo não só se afeiçoou ao meu filho, como queria se envolver com ele e o ajudar a resolver seus problemas. E eu não duvidava que ele fosse crucial para que tudo terminasse bem. Como campo neutro, ele poderia se aproximar de Hyoga muito mais fácil do que eu. Eu ficava extremamente orgulhoso ao ver meu marido fazendo aquele esforço, não só por mim, mas também por meu filho. Por nós, na verdade, afinal agora éramos uma família. E eu tinha certeza que seríamos muito felizes.

Após conversarmos em nosso quarto, descemos para a cozinha. Estava quase na hora do almoço e eu precisava arrumar a comida. Estava cedo ainda, mas queria preparar algumas coisas antes, afinal o número de pessoas aumentou. Ao chegarmos na cozinha, senhora Valéria estava sentada à mesa, olhando para uma pequena foto que segurava em sua mão. Eu não quis me intrometer, mas Milo, curioso como ele só, já foi perguntando.

— De quem é a foto, Valéria? – ele disse se sentando ao lado dela.

— Ah! Esse era meu marido. – ela olhava com certa nostalgia.

— Entendo. Sinto muito por sua perda.

— Obrigada, mas já faz muito anos que ele me deixou. Eu pensei que não viveria tanto tempo assim após a morte dele, mas parece que estou durando até demais. – ela riu tímida.

— Não diga isso! Hyoga precisa muito de você. – ele disse, tentando mudar o rumo daquela conversa.

— Ah, meu filho. Hyoga está em boas mãos agora. Acho que já está chegando a hora de me encontrar com meu marido e minha filha, Natássia. – ela tinha um ar triste, porém satisfeito.

— Você ainda tem muito que fazer por aqui, senhora Valéria. – eu disse, mesmo que me ocupando com outras coisas.

— Será, senhor Camus?

Ela me olhou de maneira significativa e eu apenas fiquei cabisbaixo. Ela estava sendo pessimista. Eu apenas queria ignorar aquilo. Voltei a me ocupar, enquanto Milo e senhora Valéria conversavam. Na tentativa de mudar de assunto, Milo a perguntou sobre onde morava e outras coisas casuais. Eu apenas me ocupei de preparar o almoço. Era tanta coisa na minha cabeça que eu precisava de algo para ocupá-la por alguns minutos. Eu estava preocupado com o que Milo descobrira de Hyoga. Ele não quis me contar, o que eu respeitei. Conhecendo Milo como conhecia, provavelmente ele veio com uma de suas hipóteses para cima de Hyoga e deve ter acertado. Milo era muito bom com aquele tipo de coisa, ele era esperto. Às vezes ele percebia detalhes que ninguém mais via, o que o ajudou muito em sua carreira. Isso era apenas uma de suas habilidades. Com certeza, Hyoga teria algum trabalho para enganar Milo ou esconder coisas dele. Mas o que me intrigava era o que Hyoga poderia estar escondendo. Eu ficava me perguntando se mais alguma coisa de ruim teria acontecido em sua vida e por que ele queria esconder aquilo. Será que tinha feito algo de grave? Acredito que se a senhora Valéria soubesse de algo, provavelmente já teria dito. Então, o que poderia ser para que ele escondesse até mesmo da mulher que ele considerava avó? Será que era algo do qual ele se envergonhava? Será que tinha algo a ver com o fato de Hyoga já fumar na idade dele? Eu não conseguia imaginar. E também não queria tentar. Ficar confabulando hipóteses na minha cabeça só me deixaria mais ansioso. De qualquer forma, eu estava bastante preocupado. Aquele segredo poderia ser um obstáculo para que Hyoga se aproximasse de mim. Tudo que eu poderia fazer era conquistar sua confiança. Eu apenas não sabia como.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora