POV Camus/POV Milo

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POV Camus

— Parece que você está conseguindo algo, não é Milo? – eu disse, sorrindo para meu marido.

— Aos poucos ele vai amolecer aquele coração, Camye. Acho que a gente só precisa dar um pouco de atenção pra ele. Mesmo que ele rejeite no início, com certeza é disso que ele mais precisa. – Milo dizia, enquanto descíamos para a cozinha.

— Fico feliz que pelo menos a sua atenção ele não rejeite.

Senti-me um pouco triste com essa constatação. Tinha tantas coisas que eu queria conversar com meu filho, tantas coisas que gostaria de fazer com ele. Eu perdi anos da vida dele. Não foram dias, semanas ou meses, foram anos. Eu queria conhecer aquele garoto de quem a senhora Valéria falava. Se ele ao menos abaixasse um pouco a guarda, talvez pudéssemos conversar um pouco e esclarecer todas as dúvidas e mal entendidos existentes. Eu estava confiante que poderia me aproximar dele, só precisava de uma oportunidade.

— Não fique assim, meu amor. Vai ficar tudo bem! Logo Hyoga vai perceber que está sendo injusto e vai te aceitar. – meu marido me abraçou gentilmente e me deixei ser embalado por aquele carinho. – Por que não vai conversar com ele enquanto eu almoço?

— Conversar? Sobre o que? – eu realmente não tinha ideia do que dizer.

— Ah! Não sei. Tem tantas coisas que vocês podem conversar. Não me diga que não tem vontade de conhecer mais desse garoto? – ele dizia só pra me provocar mesmo.

— Claro que tenho! Mas por mais que eu não seja sentimental como todos dizem, ainda dói ver a rejeição de meu filho. Eu teria feito até o impossível para tê-lo comigo desde o início se eu soubesse de sua existência.

— Então diga isso pra ele. Abra seu coração e eu tenho certeza que ele vai se derreter todo.

— Mas assim, do nada?

— Você não precisa de desculpa para estar perto dele. Ele é seu filho.

Milo me sorria e ele tinha razão. Eu não precisava de motivos para conversar com meu filho. Sorri de volta para meu marido e lhe dei um beijo rápido, para então voltar para o quarto do meu filho. Sentia meu coração batendo forte. Eu estava nervoso? Sim, eu estava nervoso. O que eu mais queria no momento era que ele tirasse aquela ideia de que a culpa da morte de Natássia era minha. Eu queria me dar bem com meu filho. Eu queria ver o meu Hyoga sem todas aquelas barreiras. Sim, meu Hyoga! Meu filho! Eu tinha pressa em acertar as coisas com ele. Eu não conseguia me conformar em ter perdido tanto tempo da vida do meu filho. Eu sabia que Natássia tivera suas razões, mas ainda assim doía. Eu não era de acreditar em coisas deste tipo, mas se por acaso ela estivesse olhando por nós, eu esperava que ela me ajudasse de alguma forma a ter de volta o que me fora tirado, sem ao menos que eu soubesse que tinha ganhado.

Lá estava eu, em frente à porta do quarto de Hyoga. Devo admitir que não ficava nervoso assim desde quando convidara Milo para sair pela primeira vez. Nem mesmo as cirurgias mais difíceis que eu fiz me deixaram tão nervoso, como naquele momento. O que conversar com ele? Como ele reagiria? Será que estava aberto a isso? Não seria forçar muito a barra? Qual impressão ele teria dessa tentativa de aproximação? Tantas coisas se passavam em minha mente naquele momento. A única coisa que eu não queria era ter que brigar com ele de novo. Respirei fundo. Eu tinha que manter a calma e não perder a paciência, não importando o que ele fizesse. Tinha que manter o foco em tentar conversar com ele. Tinha tanta coisa que eu queria saber, mas não sabia em que momento perguntar. O que eu poderia perguntar que não fosse íntimo demais? Não queria dar um passo maior que as pernas. Tinha que ser algo adequado ao momento que estávamos vivendo. Nada muito pessoal, que parecesse que estava invadindo sua privacidade, e nada muito impessoal, que desse a entender que eu não queria me aproximar. Eu realmente não levava jeito com aquelas coisas. Ainda me perguntava como fui capaz de atrair pessoas como Natássia e Milo. Claro que eu tinha sentimentos, mas eu era a razão em pessoa. Tanto Natássia quanto Milo eram pessoas extremamente emotivas e meu filho parecia ser o mesmo. Como então despertar o interesse dele por mim? Como fazer com que ele quisesse de fato conhecer mais de mim para que estabelecêssemos um relacionamento de pai e filho? Era muito complexo.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora