POV Hyoga
Milo era mais esperto do que eu pensava. Quanto tempo será que ele tinha usado para pensar sobre aquilo? Pelo visto eu estava dando muitos sinais para ele. Eu tinha que encontrar outra estratégia ou acabaria caindo na conversa dele. Por outro lado, eu estava vulnerável. Não sabia se por conta desse período do ano ou se foi pelo que aconteceu no parque ou se foi pela lembrança que me veio ao ouvir Milo dizendo aquilo. Eu pensava que ninguém nunca fosse aparecer com uma hipótese como aquela. E por algo tão bobo. A única coisa que fiz foi fumar um cigarro. Um ato simples e bobo. Maldito hábito que fui criar! Eu sabia que era errado e não me considerava um viciado. Até porque eu só fumava quando estava em total estado de estresse e depressão, que era normalmente só naquela época do ano. De qualquer forma, eu não o fizera para provocar meu pai. Eu não estava fazendo nada daquilo para provocar meu pai. Eu apenas... não queria criar laços tão fortes. Não seria bom para meu pai e nem para mim. E pelo visto, minha estratégia estava indo por água abaixo por um motivo; Milo. Eu não esperava que o marido de meu pai fosse alguém tão carismático e envolvente assim. Eu devia ter imaginado, já que meu pai tinha se apaixonado por minha mãe, que se ele tivesse um relacionamento com alguém, esse alguém seria uma pessoa bem oposta a ele. E, de alguma forma, Milo estava conseguindo me perturbar. Não de uma forma ruim, mas estava me tirando do eixo, desconstruindo minha racionalidade. Afinal, eu tinha tantas questões não resolvidas dentro de mim, tanta carência, tanto sentimento de solidão e incompreensão. Não era fácil não ceder a alguém que se demonstrasse carinhoso e atencioso para comigo. Era como tocar na ferida, ir exatamente onde eu mais precisava. Aquela carência que eu sentia era meu ponto mais fraco. Eu sabia que meu pai não era o ser mais carinhoso da face da Terra, por isso não teria tanta dificuldade de me manter longe. Mas Milo era. Cara, ele me abraçou para me consolar! Eu tinha praticamente acabado de conhecê-lo e ele já me tratava como alguém próximo. Nem mesmo com minha avó eu tinha momentos próximos e íntimos daquele jeito. Foi raro as vezes que minha avó me viu chorar. Eu não estava acostumado com aquilo, apesar de ser algo que eu sabia que precisava muito.
Eu estava cabisbaixo até então. Eu não queria olhar para Milo. Eu não sei se conseguiria me segurar. Minha vontade era de despejar toda carga sentimental que existia dentro de mim. Eu me segurava tanto. Era uma dor que não passava, mesmo que eu chorasse todas as noites antes de dormir. Aquela dor era insuportável. Não ia embora, não deixava as feridas se curarem. Anos carregando aquilo. O peso parecia aumentar cada dia mais. Tanto que, quando meu pai perguntara e eu o odiava, não consegui segurar a vontade de chorar. Eu queria gritar que não! Não! Eu o amava! Amava muito! Desde pequeno meu sonho era me encontrar com ele! Eu fantasiei esse encontro em minha cabeça várias vezes. Mas parecia uma realidade tão distante. Parecia algo que eu jamais alcançaria. E o preço que paguei fora muito alto. Minha mãe morrera para que esse encontro fosse possível. Minha avó teve seu estado de saúde piorado para que esse encontro fosse possível. Eu tive que... Não gostava nem de lembrar o que tive que fazer. Foi tudo tão doloroso que só de ver o cuidado que ele estava tendo comigo já me deixava feliz. O problema foi exatamente o processo todo até que esse dia chegasse. Era como se eu tivesse vivido no inferno todo esse tempo e, agora que eu estava no céu, não me achava digno e merecedor de tamanha honra. Eu não queria corromper meu pai com toda aquela carga negativa. Todo aquele passado doloroso, sujo, amargo. Não queria que ele tivesse contato com nada daquilo.
O silêncio reinava naquele quarto. Eu queria que Milo fosse embora para que eu pudesse chorar em paz. Eu queria descarregar aquilo tudo, colocar pra fora. Mesmo que fosse apenas um pouco, eu precisava desabafar para voltar a, pelo menos, me controlar e me acalmar. Mas ele parecia irredutível.
— Hyoga, quanto tempo mais você vai guardar isso pra você? Olha seu estado. É nítido que você está fazendo um esforço absurdo para se segurar. – ele segurou em minha mão e eu rapidamente me afastei.
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Doce Fruto de um Passado Amargo
FanfictionCamus é um médico bem sucedido, casado com um famoso empresário. Mas nem sempre sua vida fora bela. No passado, Camus sofreu uma terrível desilusão amorosa. Anos depois ele descobre que todo o sofrimento teve um motivo. E essa descoberta lhe trazia...