POV Shun
Eu tive que tirar o Seiya dali, senão meu irmão ia acabar trucidando ele. Eu sabia que ele merecia, afinal foi muita falta de noção falar daquela forma com o Hyoga. Mas eu não ia deixar meu irmão se encrencar com meus pais por causa de algo tão bobo. Além do que, Hyoga não parecia do tipo que precisava de alguém pra defender ele. De alguma forma eu até entendia o meu irmão. Ele tinha aquele jeitão tosco e grosseiro de ser, mas por dentro era alguém extremamente gentil e justo. Era visível que Hyoga não estava muito bem, diria até que estava péssimo. E meu irmão nunca gostou de ver alguém sofrendo perto dele. Com a história que tínhamos, não era de se estranhar que ele fosse assim. O problema é que ele não sabia como lidar com essas coisas, apenas tentava ajudar. Eu achava esse lado dele muito bonito. Eu admirava muito Ikki por toda coragem, força e altruísmo. Todos me conheciam muito bem para saber o quanto eu amava meu irmão. E tinha como ser diferente? Se eu estava vivo naquele momento, era porque ele havia feito de tudo para me proteger. Eu não sei o quanto eu teria sofrido se eu não tivesse meu irmão ao meu lado para me proteger. Eu devia a vida para ele. Mas também sabia que jamais seria capaz de compensá-lo por tudo que ele fizera por mim. E muitas vezes eu também não o compreendia muito bem, pois não tinha muita ideia de tudo que ele passou. Sim, eu estava lá o tempo todo, mas eu era muito pequeno. Não senti na pele muito do que ele sentiu. E nesse ponto, acredito, Hyoga seria de grande ajuda. Pelos olhos dele eu percebi que também era uma pessoa com muita bagagem. Talvez os dois pudessem se entender em meio a tanta experiência de vida.
Confesso que pensei muito em Hyoga desde que o vi pela primeira vez. Não negava; ele era muito bonito. Mas não era exatamente por isso que eu havia focado meus devaneios na pessoa dele. A verdade é que a história dele me comoveu muito. Seu Ikki se compadeceu de Hyoga, imagina eu com todo esse sentimentalismo que existia dentro de mim?! Mesmo tendo encontrado o pai, ele ainda parecia sofrer bastante. Eu até havia perguntado ao meu pai, Shaka, sobre a mãe de Hyoga, para tentar entender um pouco daquela tristeza que parecia tomar conta do olhar do loirinho. Do jeito que meu pai a descreveu, parecia até que um anjo tinha descido para a Terra a fim de dar a luz a Hyoga e voltar ao céu. Meu pai disse que ela era uma mulher muito guerreira e muito gentil ao mesmo tempo. Claro que ele era muito amigo dela, por isso eu sabia que ele jamais diria algo ruim. Mas ela com certeza era uma mulher especial, pois ela conseguiu cativar até meu padrinho, Camus. Não que isso fosse algo impossível, mas quem o conhecia sabia que ele era muito fechado e qualquer um que quisesse seu carinho teria que ser bastante paciente e persistente. Se ela era essa mulher magnífica que meu pai descreveu, com certeza deve ter doído muito quando Hyoga a perdeu. Eu não tinha condições de imaginar aquela dor, porque não havia conhecido minha mãe. Mas imaginava que deveria ser similar se caso Shaka ou Mu morresse. De qualquer forma, era algo que eu até preferia não saber. E tudo que eu poderia fazer para tentar ajudar Hyoga seria oferecer minha amizade.
Eu e Seiya descemos e fomos para a cozinha procurar algo para comer. Eu não estava exatamente com fome, mas fui obrigado a dar essa desculpa. Seiya também não parecia muito animado com a ideia. Mas se voltássemos pra lá, provavelmente ia dar briga. Eu tinha que pensar no que fazer. Senti meu celular vibrando no meu bolso e aproveitei o momento para dar uma conferida. Era uma mensagem de meu irmão. Estranho, ele estava logo ali. Ikki não era muito de mensagem de celular, então devia ser alguma coisa importante.
— "Shun, saí com o Hyoga. Vamos voltar em breve, isso é tudo que você precisa saber. Se algum dos adultos aparecer no quarto, apenas diga a verdade. Sei que você detesta mentir, então não se preocupe comigo. Apenas dê um jeito de enrolar o Seiya, porque ele é um idiota e pode dar com a língua nos dentes. Vlw!"
Saiu? Com Hyoga? Pra onde? Fazer o que? Droga! O Ikki sempre me metia nessas furadas. Será que ele não podia ter encontrado outro jeito de ajudar? Conhecendo meu irmão, provavelmente não. Suspirei pesadamente. Não adiantava ficar revoltado agora, provavelmente ele já tinha saído. E como eu ia enrolar o Seiya? Ele podia ser meio lento pra entender as coisas, mas eu não era exatamente a pessoa mais convincente do mundo quando se tratava de mentir. Olhei para Seiya e ele parecia entediado, olhando se tinha alguma coisa que ele quisesse comer. O que eu diria para ele quando a gente voltasse para o quarto e ele não encontrasse com Ikki e Hyoga? Talvez que eles deviam ter ido ao banheiro?! Mas juntos? Seiya não cairia nessa. Então o que? O que?
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Doce Fruto de um Passado Amargo
FanfictionCamus é um médico bem sucedido, casado com um famoso empresário. Mas nem sempre sua vida fora bela. No passado, Camus sofreu uma terrível desilusão amorosa. Anos depois ele descobre que todo o sofrimento teve um motivo. E essa descoberta lhe trazia...