POV Camus/POV Milo

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POV Camus

Eu não sabia o que fazer. Minha cabeça estava girando com a cena do meu filho fumando. Fumando! Aquilo estava tão errado de tantas maneiras que eu sequer sabia como reagir. Nesses momentos eu procurava ser o mais racional possível, pelo menos até que meus sentimentos se acertassem e eu não cometesse nenhuma besteira da qual eu poderia me arrepender depois. Mas aquele estava sendo um teste muito cruel. Eu não sabia sequer o que eu estava sentindo. Ver Hyoga fazendo algo que eu abominava tanto tinha me tirado do eixo. Eu jamais imaginaria que um filho meu e de Natássia fosse capaz de algo daquela forma. Eu sequer conhecia meu filho! O que eu poderia fazer? Não sabia nem mesmo o que esperar! Só sabia que aquilo eu não esperava. Mas eu o colocaria nos eixos. Ah sim! Disso eu não tinha a menor dúvida. Se ele não tivera um pai nesses 14 anos para ensiná-lo o que era certo ou errado, agora ele tinha. Onde já se viu? Um adolescente de 14 anos fumando. Mesmo depois de adulto eu não aceitaria tal atitude. Debaixo do meu teto então, que não aceitaria mesmo. Ele não parecia ser um garoto bobo que não sabia o que estava fazendo. Pelo jeito que eu o vi fumando, não parecia ser algo recente. Ele sabia como tragar, como expelir a fumaça e como inalar sem engasgar. Eu nunca tinha fumado na vida, mas eu sabia que no início não era algo tão simples quanto se parecia. Há quanto tempo então? Há quanto tempo ele fumava? Não era possível que ele não sabia o mal que aquilo causava. Natássia estudou medicina e se formou, apesar de não ter exercido a profissão, apenas durante o período de residência. Então onde ele tinha aprendido a fumar? Com quem? A senhora Valéria não conseguiria fumar nem se quisesse e ela não parecia se agradar daquilo também. Como? Quando? Eu sinceramente não entendia.

O que fazer? O que fazer? Eu não podia simplesmente dar uma surra nele. Eu sequer explicara para ele como as coisas funcionariam a partir de agora. Mas aquilo era muito sério para deixar passar. Algo deveria ser feito e eu faria. Mas precisava conversar com ele antes. Precisava esclarecer algumas coisas, para que depois ele não viesse reclamar, dizendo que eu não avisei. Até porque, ainda era muito cedo pra tomar uma medida muito extrema. Eu não queria me impor a ele. Eu queria que ele me aceitasse e entendesse, para que eu não bancasse o carrasco. Claro que se as coisas começassem a desandar muito, eu assumiria o papel de carrasco. Agora que tinha encontrado meu filho, não deixaria que ele se perdesse. Daria para ele um futuro digno, uma educação de excelência e faria de tudo para suprir qualquer necessidade que ele tivesse. Mesmo que para isso eu tivesse que passar por cima dos desejos dele.

Estava silêncio dentro do carro. A senhora Valéria parecia extremamente apreensiva. Hyoga estava cabisbaixo. Eu realmente não entendia aquele garoto. Ele me desrespeitou mais de uma vez em menos de um dia. Pra quem me conhecia, sabia que era mais do que eu permitiria normalmente. Ele provocara aquilo e sabia o que tinha feito, mas agora estava simplesmente cabisbaixo, como que aceitando que estava errado. Mas não parecia arrependido. Parecia chateado com outra coisa e eu não sabia o que era. Aquele sentimento de impotência era horrível. Eu queria entender meu filho. Queria me aproximar dele e conhecê-lo melhor. Se ele estivesse passando alguma dificuldade, eu queria ajudá-lo. Mas como forçá-lo a me dizer o que estava acontecendo ou o que já tinha acontecido? Como forçá-lo a confiar em mim? Isso era algo que vinha com o tempo. E eu já havia perdido tempo demais. Eu estava de mãos atadas, sem saber como resolver aquela situação.

Chegamos em casa rápido. Coloquei o carro na garagem e nos dirigimos pra dentro de casa. Hyoga ajudava a senhora Valéria em tudo. Como podia aquele garoto atencioso e gentil agir de maneira tão rebelde? Não fazia sentido!

Assim que entramos na sala, fui logo deixando claras as minhas intenções.

— Hyoga, pro quarto, agora!

Ele não me questionou, apenas obedeceu. Milo olhava para mim, também confuso com a atitude dele. Antes que eu subisse atrás dele, fui parado pelo apelo de senhora Valéria.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora