POV Isaak/POV Milo

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Tentei despistar Milo, indo para o outro canto da loja, com o pretexto de olhar um par de tênis. Por mais preocupado que eu estivesse com Hyoga, não conseguia negar minha felicidade ao pensar que eu realmente poderia fazer parte daquela família. Parecia muito surreal! Estávamos passeando no shopping, despretensiosamente, como qualquer família. Eu pensei que jamais vivenciaria algo daquele nível. Eu queria aproveitar cada momento que eu pudesse, afinal eu não sabia se aquilo ia durar muito. Ou melhor, eu sabia que não ia durar muito. Não foi à toa que quis me afastar de Milo e meu irmão. Eu senti que alguém estava atrás de mim, me seguindo. Provavelmente algum dos informantes de Nikolai. Não imaginei que aquele desgraçado ia agir tão rápido. Eu tinha pedido um tempo pra tentar levar Hyoga embora, mas ele não devia estar disposto a esperar, pelo visto. Droga! Eu detestava ter que lidar com esses tais informantes. Eles não estavam sob o comando do Nikolai, só faziam favores. E isso deixava tudo mais difícil, porque eles achavam que podiam fazer qualquer coisa. Era um pé no saco!
Fiquei olhando pra Milo e meu irmão. Eles pareciam entretidos escolhendo roupas. Vi que eles se dirigiram para o provador, era minha chance! Fui andando em direção a saída da loja. Por sorte, Camus também não estava ali. Olhei de um lado para o outro para confirmar e segui pelo corredor, já fora da loja. Eu sabia que enquanto o tal informante não conversasse comigo, ele não iria embora. Eu precisava levá-lo para um lugar mais reservado, onde ele se sentisse mais confiante para me abordar. Avistei uma placa direcionando aos banheiros, no fim do corredor à direita. Parecia menos movimentado que o resto dos locais. Continuei caminhando até lá. Quando virei à direita, como se quisesse ir ao banheiro, senti meu pulso ser agarrado. Nem tive tempo de reagir e já estava sendo puxado para o fundo do beco, perto de uma escadaria. Quando dei por mim, a pessoa que antes me segurava, virou-se e me encurralou na parede. Era um homem, provavelmente da estatura de Milo. Ele era loiro e tinha os olhos verdes, mas não era lá essas coisas. Parecia meio bruto, pra falar a verdade. É, eu tava ferrado!
- Pelo visto você percebeu que eu estava te seguindo, não é? – ele falou. Sua voz era mais grave do que eu esperava.
- Não é como se você fosse o cara mais discreto do mundo. – falei, sorrindo debochado.
- Nikolai me disse que você era bem atrevido e parece que é verdade. Pra sua sorte eu gosto assim, fica mais divertido. – ele também riu com certo ar de sadismo.
- Fala logo o que você quer! Preciso voltar antes que eles suspeitem de algo. – falei, agora mais sério.
- Pra que a pressa, boneca? Não estava cheio de coragem agora a pouco?
- Acontece que se eu me ausentar por muito tempo, pode colocar tudo a perder. Você vai assumir a responsabilidade? Nikolai vai adorar saber que não recuperou seu brinquedo preferido por sua causa. – voltei a rir debochado, mas dessa vez ele fechou a cara.
- Não venha fazer joguinhos comigo. Sua posição não é favorável pra isso. – ele se aproximou de mim, como se estivesse me ameaçando. – Você deve imaginar que Nikolai está de olho em você. Então sabe que ele não está muito feliz com o andamento das coisas.
- Ele está subestimando a situação. Não é tão simples.
- Isso é desculpa, porque você é um incompetente. – ele sorriu irônico.
- Vai lá e faz melhor, então, meu caro. Nikolai adora pessoas pró-ativas. – eu não daria o braço a torcer.
Ele se afastou um pouco de mim, com a cara fechada novamente. Acho que o provoquei demais.
- Acho que você está esquecendo qual é seu lugar. Permita-me relembrá-lo.
Vi que ele fechou o pulso e ergueu o braço. Merda! Eu e minha boca grande! Ele ia me socar. Eu tava fodido! Fechei meus olhos, esperando pelo impacto, que não veio. Estranho!
- Me solta! – ouvi o cara falando e abri meus olhos.
- Você não vai encostar nenhum dedo  no meu filho! – era Camus. Arregalei meus olhos ao vê-lo ali.
- Filho? Deve estar acontecendo algum erro. Esse pivete é...
- Meu filho! – Camus o interrompeu. – Não tem erro nisso! – senti uma pontada de emoção em meu coração com a firmeza que ele disse aquilo.
- Você sabe onde está se metendo? Vai se arrepender de defender esse vadio. – o cara sorriu, debochado.
Nesse momento, vi os olhos de Camus escurecerem de um jeito bizarro e assustador. O cara também deve ter percebido, pois parou de sorrir na hora, engolindo em seco.
- Eu vou falar apenas uma vez: fique longe do meu filho! E diga o mesmo pro desgraçado que te mandou! Se eu pegar qualquer um de vocês perto dele, não responderei por mim!
A voz de Camus era grave e rígida. Seu olhar transmitia uma frieza que me arrepiou a espinha. Nunca tinha visto alguém demonstrar tanto ódio e raiva apenas pela postura. A maneira como ele se posicionou mostrava superioridade e sua postura era de total menosprezo pelo cara a sua frente. Ele falava com bastante autoridade e certeza, como se soubesse que ninguém poderia enfrentá-lo de igual para igual. Mas por incrível que fosse parecer, eu não fiquei com medo. Eu sabia que aquilo não era direcionado pra mim. Na verdade, ele estava me protegendo. Naquele momento não tinha como eu duvidar que ele tinha total capacidade e condições de proteger eu e meu irmão. Sua determinação parecia inabalável. Será que eu poderia realmente acreditar que ele e Milo resolveriam o problema? Será que, finalmente, eu poderia viver uma vida tranquila e fazer o que eu quisesse? Uma pontinha de esperança se formou em meu coração.
Saí de meus devaneios quando vi que o cara se soltou de Camus. Ele me olhou, como se dissesse que aquilo não tinha acabado, não disse ou fez mais nada, apenas saiu andando. Ele provavelmente sacou que não tinha como enfrentar Camus. Mesmo que ele quisesse, causaria muito alvoroço e chamaria atenção demais. Seria muito arriscado e ele sabia que Nikolai não perdoaria um erro daqueles. Camus e eu ficamos olhando ele se afastar em silêncio. Quando já não o víamos, ouvi Camus suspirar pesadamente.
- Você está bem? Ele fez alguma coisa com você? – ele me perguntou, genuinamente preocupado. Seus olhos voltaram ao brilho habitual.
- Estou bem. – respondi, meio sem saber como reagir. Ele suspirou novamente.
- Posso saber então o que raios você estava fazendo sozinho aqui com aquele sujeito? – ele me perguntou, cruzando os braços.
- Eu estava procurando o banheiro e ele me abordou. – ele suspirou com a minha resposta e fiquei meio sem entender.
- Não minta pra mim! – ele falou, nervoso, o que me fez encolher todo. – Eu vi você saindo da loja, desconfiado. Você já sabia que ele estava te seguindo.
Droga! Pensei que tinha sido cauteloso quando saí da loja. E agora? O que eu diria? Ele ficaria bravo? Senti meu corpo gelar. Depois do que vi, a última coisa que eu queria era que ele ficasse nervoso comigo.
- O que foi que eu te disse hoje de tarde? – ele perguntou, mas eu achei que tinha sido retórico. – Responda!
- Eu... eu... eu... – não conseguia falar.
Eu estava gaguejando? Era isso? Eu não gaguejava nem quando tinha que me explicar pro Nikolai. O que eu estava sentindo? O que era aquele sentimento? Era medo? Não. Eu tinha medo do Nikolai e podia dizer, claramente, que o que estava sentindo era diferente. O que era aquilo, então? Eu estava paralisado, receoso do que ele ia dizer. Receoso que ele brigasse comigo. Receoso de... decepcioná-lo? Eu queria agradá-lo? Mas... como? Eu gostava de agradar Hyoga, mas era diferente também. Eu estava confuso. Não entendia o que era aquela sensação. Parecia que eu estava engasgado. Sentia-me envergonhado. Por quê? Eu nunca tive problemas para mentir. Nunca tive problemas pra fazer o que eu quisesse. Então, por qual motivo eu estava me sentindo errado? O que era aquela culpa? Olhei para meus próprios pés, sem querer encarar Camus.
- Estou esperando uma resposta, Isaak! – ele continuava com os braços cruzados. Eu permaneci em silêncio, o que o fez suspirar. – Vou tentar refrescar a sua memória. O que foi que eu disse pra você fazer se qualquer um desses sujeitos entrasse em contato com você?
- Avisá-lo...?
- Isso mesmo! E posso saber por que você não o fez?
- Eu... eu não sei. – eu continuava cabisbaixo. – Eu não pensei nisso. Normalmente eu não tenho a quem recorrer. Eu apenas... – não achava palavras que pudessem me justificar.
- Olha pra mim! – levantei minha cabeça e o encarei. – Esse vai ser meu último aviso! Não te quero lidando com esse assunto sozinho! Qualquer coisa que acontecer, é pra avisar imediatamente! Ou pra mim ou pro Milo! Entendeu?
- E se eu não fizer? – minha voz saiu baixa e um pouco falha, com medo da resposta.
- Você será punido! – estremeci com aquela declaração.
- Punido como? Você também vai me espancar? Quanto? Eu não me importo, afinal, você me trata bem. Mas só pra eu me preparar mesmo. – eu falava aquilo quase que automaticamente, mas com um nó na garganta. Eu não queria acreditar que Camus era parecido com Nikolai.
Ele suspirou, desfez a postura dos braços cruzados e se aproximou de mim. Eu dei um passo pra trás, meio que por reflexo. Ele levantou a mão e eu me encolhi, com os olhos fechados. Estava esperando um tapa, mas ele apenas pousou a mão suavemente no meu rosto. Eu abri os olhos e olhei para ele. Seu olhar era de compaixão, o que me desmontou completamente.
- Eu não vou te machucar, muito menos te espancar, meu filho. – ele fez uma pausa. – Não sei se Hyoga chegou a falar algo sobre mim pra você, mas eu não sou o tipo de pai que tolera desobediência, desrespeito e indisciplina. Dizem que sou antiquado, mas não me importo com isso. Eu tenho um sistema de valores muito forte e não costumo abrir mão deles. Dessa forma, você precisa saber que, como meu filho, você estará sujeito as minhas regras! – ele respirou profundamente antes de continuar. – Eu preciso que você entenda que eu não sou como Nikolai e quem quer que seja que você está acostumado. Eu não vou te punir por qualquer coisa, eu não sou arbitrário e muito menos tirano. Você não será punido pelo que não sabe, nem por capricho e muito menos por raiva ou frustrações minhas. Todas as regras e limites que colocarei são pensando no seu bem. Seja pra te manter protegido, seja para lhe ensinar o caminho correto ou lhe ensinar a ser um ser humano digno. Eu não sou injusto, não sou carrasco e não vou lhe punir além do necessário. Sempre estarei aberto a ouvir seus motivos e compreendê-lo, mas independente de qualquer coisa, você será punido de uma forma ou de outra caso me desobedeça. Até aqui, estamos entendidos? – balancei a cabeça em afirmação. – Muito bem. As punições vão variar de acordo com o que eu julgar ser melhor para que você aprenda com o erro. Normalmente eu aviso uma primeira vez, se voltar a me desobedecer, será castigado ou punido fisicamente ou os dois. Vai depender da gravidade do erro, da recorrência e outros fatores. Os castigos serão privações por tempo determinado. – ele pausou novamente, parecia cauteloso ao falar. – Para as punições físicas, preciso que confie em mim. Como eu disse, eu não vou te machucar ou espancar, o que não quer dizer que não vai doer. São palmadas disciplinares, no traseiro e, no máximo, nas coxas. Em casos extremos, posso usar cinto ou vara, mas são casos que eu julgo mais graves ou que tenha uma recorrência. Consegue entender?
- Mais ou menos.
- Isso é difícil de explicar, mas peço que confie em mim. Não faço isso pra ser chato, mas porque eu sou mais experiente e sei muito bem que tem coisas que vocês fazem e pensam que não será bom. Então tudo que eu estabeleço como regra é para o bem de vocês. No mais, eu apenas quero proporcionar as melhores experiências que vocês possam ter. Não digo que não terão liberdade, mas será uma liberdade dentro das minhas regras. Talvez seja difícil de entender, mas você se acostuma.
- Não sei se entendo o que está me falando, mas eu quero confiar em você e no Milo. É difícil pra mim, porque eu nunca vivi uma vida normal, eu não sei o que pais normais fazem ou o que esperam dos filhos. Eu sequer tenho muita noção de certo e errado, pois sempre vivi à margem da sociedade. Então, não tenho segurança de que corresponderei as suas expectativas ou que serei um bom filho. Eu sei que, provavelmente, eu faço muita coisa errada e, mesmo não sendo por maldade, sei que vou decepcioná-lo. – não sabia por que estava dizendo aquilo, só achei que precisava me justificar. Ele colocou a mão na minha cabeça, apenas acariciando meus cabelos.
- Não se preocupe com isso. Não espero que você acerte sempre ou que seja perfeito. Eu mesmo não o sou, então não posso exigir o mesmo de você. – ele colocou as mãos em meus ombros e continuou. – Como seu pai, minha função é lhe guiar, lhe direcionar, para que você possa ser a melhor versão de você mesmo, para que você chegue aonde deseja chegar, conquiste aquilo que deseja conquistar e viva feliz, da melhor maneira que conseguir. Por isso, você sempre terá meu apoio, meu amor, meu carinho e minha proteção. E é também por isso que não tolero desrespeito, desobediência e indisciplina, porque tudo que eu quero é o melhor pra você.
Senti meus olhos marejarem com aquilo. Aquele cuidado era algo que eu não estava acostumado. Pra falar a verdade, estava começando a entender porque Hyoga sentia-se tão indigno daquilo. Era constrangedor pensar que alguém poderia se dedicar tanto assim por nós. Quer dizer, eu tinha o Hyoga, que eu sabia que daria a vida por mim e vice-versa. Mas era diferente. O que Camus estava me dizendo é que ele tomaria conta de tudo para que eu pudesse viver tranquilamente. Eu não precisaria mais lutar pra sobreviver, não precisaria mais ter que me vender pra conseguir comer, não precisaria mais aturar aquele bando de velho tarado pra poder garantir minha vida. Senti meu rosto queimando de alegria! Se era isso que eu teria, não me importava em seguir algumas regras. Se eu pudesse simplesmente viver, sem ter que pagar nada por isso, ele poderia até me espancar, se quisesse.
Não me aguentei, acabei abraçando Camus. Senti que ele me envolveu em seus braços e um calor aqueceu meu peito. Eu sabia que as coisas ainda não estavam resolvidas, mas naquele momento eu queria me encher daquele cuidado, daquele sentimento gostoso que invadia meu peito.
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POV Milo


Merda! Merda! Merda! Eu estava tão feliz porque Hyoga não só me chamou de pai como disse que me amava, que acabei me distraindo demais! Eu nem tinha visto que Saga e Kanon  estavam ali. E graças aos céus que Saga viu o cara entrando no provador que Hyoga estava, antes que algo acontecesse! Eu só percebi algo errado quando ouvi o barulho de alguém caindo no chão. E lá estava um lixo qualquer achando que podia falar o que quisesse do meu filho! Não me aguentei, tive que socá-lo para que não falasse mais merda! Mas a vontade que eu tinha era de estrangular aquele traste por ele ter ousado sequer encostar em Hyoga! Ódio! Se Kanon não tivesse tirado ele dali, eu não responderia por mim!
- Você está bem, Hyoga? – ouvi Saga o perguntando.
Voltei-me para meu filho. Ele tremia nos braços de Saga. Seus olhos estavam opacos, em estado de choque. Ele estava pálido e lágrimas saíam de seus olhos automaticamente. Senti meu coração se apertar com aquilo. Se algo tivesse acontecido, eu jamais me perdoaria! Eu disse que o protegeria!
- Hyoga, meu filho, olha pra mim. – eu segurei em seu rosto de maneira suave. – Está tudo bem? Ele te machucou? – ele não respondia, parecia estar em outro mundo. Comecei a me preocupar. – Hyoga, está me ouvindo?
- Ele pagou? Tenho que entregar o dinheiro pro Nikolai ou ele vai ficar bravo. – ele falou, olhando para o nada.
- Quem é Nikolai? Que dinheiro? O que está acontecendo, Milo? – Saga me perguntou, ainda abraçado a Hyoga. Suspirei.
- Depois eu te explico. É outra longa história. – voltei-me para Hyoga. – Meu filho, respira fundo. Quem tá falando é seu pai. – ele finalmente se virou pra mim, mas ainda em estado de choque. – Fecha os olhos e respira. – ele me obedeceu. – Isso. Inspira, expira. Inspira, expira. – ele seguia meus comandos a medida que eu falava. – Ele não está aqui, meu filho. Ele não vai te machucar, eu não vou deixar. Você está seguro. – esperei cinco segundos. – Está mais calmo? – ele afirmou com a cabeça. – Então abra os olhos.
Ele abriu os olhos e vi que ele voltou ao normal. Ele me encarou por um tempo, como se estivesse voltando pra realidade aos poucos. Logo sua expressão mudou para chorosa e ele me abraçou, afundando o rosto no meu peito. Eu o abracei forte, como se aquilo pudesse tirar seu sofrimento.
- Está tudo bem, meu filho. Eu estou aqui! Eu prometo que vou te proteger! – eu o apertava em meus braços, também buscando me acalmar. Afastei-o um pouco do abraço, só para confirmar se estava tudo bem mesmo. – Ele te machucou?
Ele apenas negou com a cabeça, enquanto fungava, tentando se acalmar um pouco mais. Suspirei profundamente.
- Vista sua roupa. Vamos procurar Isaak e Camus.
Dei um beijo no topo de sua cabeça e fiz que ia sair do provador, para que ele se vestisse. Porém, ao me virar de costas, senti ele segurando minha blusa de leve, ainda tremendo.
- Eu não vou sair daqui, meu filho. Vou ficar aqui, do lado de fora do provador, apenas te esperando sair, ok?
Ele soltou minha blusa e eu fechei a cortina do provador, ficando do lado de fora com Saga.
- Milo, o que raios foi isso? O que houve com Hyoga? Quem é Nikolai e por que ele estava falando aquelas coisas sem sentido? Camus sabe de alguma coisa? – Saga perguntou em tom de revolta.
- É complicado, Saga. Temos que sentar pra te explicar tudo direitinho. – falei com ar de cansaço.
- Você precisa de ajuda com alguma coisa? Sabe que pode contar comigo, não é?
- Eu sei, meu amigo. E agradeço, não só pela disponibilidade, como também por ter socorrido Hyoga a tempo. Não imaginei que isso aconteceria em um local público. Terei que ter atenção redobrada agora.
- Espera! Então você está me dizendo que isso não foi um ocorrido isolado e aleatório, é isso? – ele me olhava preocupado.
- Dadas as circunstâncias, acredito que não. Mas só posso te confirmar quando Hyoga me disser se o cara falou alguma coisa com ele.
Saga deu a entender que ia falar algo, mas Hyoga interrompeu ao sair do provador. Ele parecia mais tranquilo, pelo menos tinha parado de tremer. Mas ainda estava cabisbaixo e parecia bem envergonhado. Provavelmente por ter passado por aquilo na presença de Saga.
- Está mais tranquilo, Hyoga? – Saga perguntou. Meu filho apenas afirmou com a cabeça, ainda sem encará-lo.
- Obrigado por me defender. – ele falou baixo, ainda cabisbaixo. Saga segurou em seu queixo e levantou seu rosto, para que ele o encarasse.
- Não precisa me agradecer. Jamais permitiria que alguém o violasse daquela maneira. Sempre que precisar, pode contar comigo. Eu saio lá de Atenas só pra vir ao seu auxílio.
Vi que os olhos de Hyoga marejaram com aquela fala, mas ele segurou o choro. Sentia meu coração se apertando por vê-lo naquele estado. Ele estava com os olhos fundos, provavelmente exausto de tudo que acontecera nos últimos dias. E o destino parecia não dar folga. Desde que ele chegara, parecia não ter tido sossego. Eu tinha que resolver aquilo rápido ou ele poderia acabar perdendo a razão, a saúde e até mesmo a sanidade.

Continua...

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora