Cara, eu estava achando um saco ter que ficar ali, vendo toda aquela alegria exagerada. Primeiro, eu não ia com a cara do Kanon. Ele era do tipo que eu olhava e não suportava. E eu sabia que ele também não ia com a minha cara. Segundo, sempre que aqueles velhos se juntavam e começavam a beber, acabavam ficando ainda mais chatos e indiscretos. Eu agradecia aos céus que Shaka e Mu não curtiam muito bebida alcoólica. Terceiro, ver meu irmão perto de Seiya me tirava do sério. Não sabia por que Shun tinha que ser tão gentil com todo mundo. Shaka dizia que era ciúmes de irmão, mas eu simplesmente não gostava que Shun se misturasse com qualquer um. E Seiya era definitivamente "qualquer um". Tava pra nascer um cara tão burro como ele. Eu não tinha paciência com a lentidão do seu raciocínio. Não conseguia nutrir uma conversar de mais de dois minutos com ele. A minha sorte é que ele morava em outro país, caso contrário eu já teria dado um jeito de dar uma sova nele.
Tudo que eu queria era ficar quieto em casa, curtindo minhas músicas e treinando com minha guitarra. Shaka sabia o quanto eu ficava irritado de ser tirado do meu sossego pra ficar seguindo ele e Mu como se eu fosse pintinho atrás de galinha. Ok, eu sabia que não era preciso fazer muito esforço pra me tirar do sério, mas eles podiam ao menos tentar. Eu sabia que pegava pesado às vezes, mas eles sabiam que eu não fazia por mal. Foi assim que eu aprendi a sobreviver naquele mundo. Eu não era o garoto bonzinho que respeitava limites que apenas me prejudicavam. A vida me ensinou que moral era apenas o medo que a sociedade tinha de perder o falso controle das coisas. Se eu tivesse seguido tais regras, talvez não estivesse vivo. O maldito do homem que me deu vida teve a cara de pau de vender os próprios filhos para conseguir dinheiro para continuar jogando e apostando. Minha mãe falecera pouco tempo depois do meu irmão nascer. Fomos parar em um lugar totalmente desconhecido, que falava uma língua diferente da nossa e onde fomos obrigados a trabalhar como escravos. Eu tinha que trabalhar dobrado, já que meu irmão era apenas um bebezinho. Se eu não fizesse a parte dele, acabariam nos separando. E depois de dois anos me matando de trabalhar, sem ter o suficiente para comer, foi que percebi que enquanto eu fosse submisso, eu não conseguiria nada, apenas sofrer. Eu sabia que era arriscado, mas consegui fugir com meu irmão, que na época já conseguia andar. Eu consegui aprender um pouco daquela língua estranha, o que me ajudou a conseguir ajuda. Mas eu e Shun ainda passamos pelo menos um ano e meio nas ruas. Éramos dependentes da bondade de pessoas que nos davam restos de comida ou, vez ou outra, tive que roubar para poder alimentar pelo menos meu irmãozinho. Até que eu e Shun fomos parar em um orfanato. E foi assim que Shaka e Mu nos encontraram. Mas mesmo que nossas vidas tenham melhorado grandemente, eu não conseguia abandonar o modo como aprendi a viver. E isso sempre causava problemas entre meus novos pais e eu. Até que já não estava mais tão crítico como no início, mas ainda tínhamos desavenças. Principalmente com Shaka, que era mais linha dura que Mu.
Por causa desse meu jeito, muitas pessoas achavam que eu era um filho ingrato. Eles é que não sabiam o quanto eu respeitava tanto Shaka quanto Mu. Eu era muito grosseiro e atrevido, isso era verdade. Mas eu tinha meu jeito de respeitá-los e eles me conheciam o suficiente para saber quando eu estava agindo naturalmente e quando eu saía da linha. E eu não era de discutir quando eles me corrigiam. Era muito raro que eu reclamasse ou ficasse fazendo doce para não receber nenhum tipo de punição caso eles achassem necessário. Eu sabia que eu era todo errado mesmo. Admirava o fato de que eles tentassem me colocar nos eixos. Muitos diziam que eu não tinha solução. Saber que eles pensavam o contrário fazia toda diferença pra mim. Às vezes eu escutava tanto que não tinha solução que começava a acreditar que era verdade. Mas aí vinham Shaka e Mu me dizer o contrário e eu voltava a ter esperança. Eu nunca fui do tipo meloso, por isso nunca falei nada disso para eles. E eu não acreditava que precisava dizer com palavras o que eu já dizia com atitudes. Por mais contraditório que pudesse parecer, eu sabia que eles entendiam.
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Doce Fruto de um Passado Amargo
FanfictionCamus é um médico bem sucedido, casado com um famoso empresário. Mas nem sempre sua vida fora bela. No passado, Camus sofreu uma terrível desilusão amorosa. Anos depois ele descobre que todo o sofrimento teve um motivo. E essa descoberta lhe trazia...