Cara! O que raios eu estava fazendo? Sim, eu queria ajudar o Hyoga! Sim, eu achava que ele devia contar pros pais! Mas eu estava me envolvendo? Droga! Não era isso que eu queria! Primeiro veio Milo, com aquele jeito cativante dele. Eu sabia que ele era esperto e que eu não conseguiria enganá-lo. Mas ele me desmontou totalmente com aquela pergunta. Eu pensei que ele perguntaria de Hyoga, não que ele fosse se preocupar comigo. Eu não era o protagonista daquela história! Não era comigo que ele tinha que se preocupar! Eu ri quando ele me perguntou se eu precisava de ajuda, mas minha vontade era de chorar. Quando foi que alguém me perguntou se eu precisava de algo? Ninguém se importara comigo naquele nível. Sinceramente, sequer achava que algum dia eu encontraria alguém que se preocupasse. Quer dizer, por que o fariam? Minha existência era meio dispensável mesmo. Desde que eu me entendia por gente, eu não tinha valor. Ninguém me queria, ninguém se importava, ninguém me estendera a mão. E quer saber? Tava tudo bem. Eu decidi que eu me daria o valor! Eu era inteligente, charmoso, astuto, interessante. Se as pessoas não reconheciam isso, elas que perdiam. Claro que isso fez de mim alguém bem egoísta e arrogante. E eu vivia bem daquela forma. Até consegui conquistar o meu espaço. Sim, eu era sozinho! Mas tava tudo bem! Ou será que não? Claro que não! Foi só eu conhecer o Hyoga pra toda aquela armadura ruir. Ele veio com aquele olhar de cachorro abandonado e me ganhou totalmente. Desde que eu prometi pra mim mesmo que o protegeria, tudo começou a ficar instável. Eu já não agia mais em benefício próprio o tempo todo. Sempre que tomava alguma decisão, eu tinha que pensar se afetaria meu irmãozinho. E eu sabia que não estava fazendo aquilo por capricho. Quer dizer, no início, depois de muito custo para conseguir me aproximar, Hyoga parecia um bichinho de estimação. Mas ele me deu valor! Ele se importava comigo num nível que nem eu mesmo me importava. Aquilo me quebrou! Deixou-me vulnerável. E eu mudei! Tanto que quando vi ele tentando aquela loucura no mar congelado, eu sequer pensei duas vezes e pulei para salvá-lo. Por pouco não morremos os dois. Eu nem acreditava que a gente tinha sobrevivido. Lembro que naquele dia eu chorei como há muito não chorava. Definitivamente não queria perder meu irmãozinho. Definitivamente não queria perder alguém importante pra mim! Talvez Hyoga tenha sido a única pessoa com quem me importara na vida! Perdê-lo daquela maneira estava fora de cogitação! E depois daquilo, nossa relação ficou muito mais forte. Hyoga confiava em mim do fundo de seu coração. E eu não decepcionaria aquela confiança! Eu o protegeria! Mesmo que tivesse que ficar sozinho de novo, eu queria ver meu irmãozinho feliz.
Só tinha um problema; eu não contava que fosse encontrar mais pessoas que se importariam comigo. Eu estava começando a me apegar? Eu não podia! Será que, no fundo, eu estava com inveja de Hyoga? Será que eu queria aquela realidade pra mim também? Ok, óbvio que eu queria. Mas eu tinha que me colocar no meu lugar. Aquilo não era pra mim! Confesso que Camus mexeu comigo ainda mais que Milo. Se por um lado Milo me passou cuidado e carinho, Camus me passou segurança. E aquele era meu ponto fraco! Desde muito pequeno eu nunca tive alguém que me garantisse que ficaria tudo bem. Eu tive que lutar para ter a segurança de que sobreviveria. Mas eu era uma criança! Eu não conseguia garantir coisa nenhuma! Era uma falsa impressão de que eu tinha forças! Uma mentira que eu contava para mim mesmo, na esperança de que o destino me permitiria viver mais um dia. Aí vem o Camus e promete me proteger! Claro que eu me abalaria com aquilo. Droga de adultos estranhos!
Seguimos com o colchão para o quarto do meu irmãozinho. Ele estava deitado na cama, de barriga pra cima. Quando nos viu entrar, sentou-se na cama rapidamente. Colocamos o colchão no chão e eu logo deitei nele. Hyoga logo veio deitar-se comigo.
- Vou deixar só o colchão aqui por enquanto. Quando voltarmos eu trago o travesseiro e os cobertores. Pode fazer frio à noite. - Camus falou, já se direcionando para a porta. - Agora preciso que vocês se arrumem para sairmos. Não queria ir muito tarde.
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Doce Fruto de um Passado Amargo
FanfictionCamus é um médico bem sucedido, casado com um famoso empresário. Mas nem sempre sua vida fora bela. No passado, Camus sofreu uma terrível desilusão amorosa. Anos depois ele descobre que todo o sofrimento teve um motivo. E essa descoberta lhe trazia...