POV Camus/POV Milo

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POV Camus

Claro que eu não esperava que ele fosse me aceitar de primeira. A situação era complicada demais para que eu pensasse que tudo se resolveria facilmente. Mas a declaração dele me deixou um tanto atônito. Por que raios eu seria o culpado pela morte de Natássia? Ela me enganou, me afastou do meu filho e eu que era o culpado? Não fazia o menor sentido. Claro que agora eu entendia as razões de Natássia, mas isso não quer dizer que eu concordasse. Tudo poderia ter sido diferente se ela tivesse confiado em mim. Eu era a vítima nessa história! Por que estava sendo acusado então?

– Hyoga, não diga isso. Eu já lhe falei que...

– Nós já conversamos sobre isso, vó. – Hyoga interrompeu a senhora Valéria.

– Espera um pouco. A culpa não foi...

– Não quero parecer grosseiro, senhor Milo, mas aconselho que não se intrometa. – Hyoga interrompeu meu marido que estava prestes a rogar por mim. – Eu não tenho nada contra você, afinal, você meio que foi inserido nessa situação por acaso. Mas esse assunto não lhe diz respeito. Por mais que você seja casado com meu pai, não lhe dou o direito de interferir. Você não sabe nada sobre o que aconteceu. Não creio que será capaz de apresentar um argumento imparcial.

Milo ficou calado. Eu fiquei sem reação. Aquele era meu filho? Aquele garoto arrogante e frívolo era meu filho e de Natássia? Aquilo seria um problema. Eu detestava moleques atrevidos como ele estava se mostrando ser. Quem ele pensava que era para falar assim com Milo e com a mulher que ele mesmo chamava de avó? Falta de respeito era algo que eu não toleraria de maneira nenhuma.

– Em primeiro lugar, meu jovem, não permito que fale assim com meu marido e com Valéria. São duas pessoas a quem você deve respeito. Em segundo lugar...

– Quem você pensa que é para me dar sermão? – ele me interrompeu. – Não ouviu o que eu disse? Apesar de termos laços sanguíneos, não vejo porque lhe tratar diferente de um completo estranho. Você não foi meu pai, não estava lá quando mais precisei. Não me venha dar ordens como se já fossemos extremamente próximos. Se eu estou aqui é porque não tive escolha. – ele continuava falando sem demonstrar o mínimo de respeito ou sentimentos.

– Pois está sendo injusto. Se eu não estive lá foi porque fui privado disso. – respondi.

– Privado? Não me faça rir! Eu ouvia muito bem minha mãe falando sobre o quanto vocês se amavam. Mas eu nunca entendi isso. Se você a amava tanto quanto ela dizia, por que a deixou partir? Por que não foi atrás dela?

Ele tinha um ponto. Eu realmente não cheguei sequer a procurar por ela. Fiquei tão magoado com o que ela fez, que não tive forças ou coragem para ir atrás dela. Eu não tinha desculpas para dar. Mas eu também não tinha como adivinhar que aquilo aconteceria. Nem sabia que ela estava grávida. Se eu soubesse, claro que teria ido atrás dela. Afinal, não seria mais um problema só meu ou só dela, seria um problema de nossa nova família. Era uma situação muito delicada para haver culpados e inocentes. Eu tive minha parcela de culpa e Natássia teve a dela. A questão é que nosso filho, inocente, foi quem teve o maior prejuízo. Isso eu tinha que admitir. E agora o que eu poderia fazer para compensar todos esses anos? Como eu me aproximaria do meu filho? Eu não estava lá para ver seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seu primeiro dente nascer, seu primeiro dia de aula; nada! Eu não poderia voltar no tempo e, talvez, recuperar o que foi perdido seria impossível. O que eu realmente poderia oferecer para aquele jovem?

– Hyoga, meu filho, as coisas não são tão simples assim. – disse a senhora Valéria me tirando de meus devaneios. – Sua mãe não agiu de forma correta.

– Eu não disse que concordava com o que minha mãe fez, vó. Mas também não me conformo do meu pai tê-la deixado ir embora. Não é possível que ele simplesmente aceitou que ela fosse embora sem querer tirar uma única satisfação. Isso não se encaixa com toda aquela história melosa que minha mãe e você me contavam. – agora ele usara um tom debochado, o que me tirou do sério.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora