POV Valéria/POV Milo

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POV Valéria

Era um dia triste, mas feliz. Eu olhava para aquela jovem a minha frente e pensava o quanto ela devia estar feliz. Depois de tanto tempo, finalmente voltaria para os braços de quem ela amava. Pelo menos era isso que ela esperava. Quando ela me contou sobre o rapaz por quem se apaixonou, pensei que ela havia tirado de um livro de contos de fadas. Com todos esses anos de vida, sei muito bem o que a paixão pode fazer com alguém. Mas era a primeira vez que eu via um sentimento tão forte. Isso me preocupava um pouco, mas conhecendo a jovem a minha frente, sabia que ela era forte o suficiente para enfrentar qualquer problema. Sorri para ela e ela sorriu de volta. Seus olhos brilhavam e imagino que os meus também. Era como uma filha para mim. A filha que nunca tive. Sentia muito orgulho por quem ela se tornara e torcia para que ela finalmente pudesse encontrar a felicidade.

— Nem acredito que realmente estou voltando. – ela disse para mim.

— Nem eu, Natássia. Nem eu. – eu disse sorrindo de forma mais melancólica.

Se estava feliz por ela, também estava triste por mim. Perderia minha melhor companheira e seria a velha solitária de sempre.

— Não fique assim. Quando tudo estiver resolvido, eu virei lhe buscar. Eu prometo! Só peço que tenha um pouco de paciência. – ela falava tentando me animar.

— Oh meu bem! Eu já estou velha e doente. Quando você voltar eu, provavelmente, já terei partido para junto de meu marido.

— Nem brinque com isso! – ela segurou em minhas mãos e olhou bem dentro dos meus olhos. – Eu voltarei e lhe encontrarei exatamente como hoje. Você vai ver! Camus vai lhe ajudar, ele sempre foi o melhor da turma. Com certeza hoje é um médico de prestígio.

— Eu realmente desejo que tudo que você fala se torne realidade.

— E vai! Você vai ver!

Não tinha como duvidar com ela me olhando com tanta determinação. Mas por que eu sentia aquele em incômodo em meu coração? Desde aquela manhã eu estava com um mau pressentimento. Não fazia sentido! As coisas estavam se acertando. De onde eu poderia ter tirado aquele sentimento estranho? Talvez fosse apenas o meu problema de coração mesmo. Eu já estava velha, talvez fosse a dor de voltar a viver sozinha. Sentia muita falta do meu marido e agora estava vendo minha menina indo embora. Devia ser isso mesmo.

— Mamãe! Olha isso que legal! – um garotinho gritava em nossa direção.

— Hyoga, não vá muito perto do mar! É perigoso! – Natássia gritava de volta.

— Tá bom mamãe! – ele saiu de perto do mar e veio correndo abraçar a mãe.

— Meu filho, não corra assim. – Natássia abraçou o menino e o pegou no colo. – Ai, ai, ai! Se você ficar muito levado, seu pai logo dará um jeito de cortar suas asinhas. – ela dizia bagunçando o cabelo do menino.

— Deixe-o, Natássia. Você vai sentir falta dessa fase. – falei sorrindo para meu pequeno "neto".

— Você que não sabe como Camus é rígido. Disciplina é o segundo nome dele. – Natássia falava, mas não parecia preocupada.

— Tenho certeza que ele vai amar o filho. – falei.

— Espero que sim. Pelo menos o filho eu espero. – ela pareceu um pouco triste ao dizer isso.

— Você também. Não faça essa carinha. – falei, acariciando seu rosto.

— Já faz muito tempo. Eu sei que o que eu fiz foi muito errado. Ele pode não me perdoar, isso é uma grande possibilidade. Ou pior, pode ter encontrado outra pessoa nesse meio tempo. – ela deu uma pausa, apenas para suspirar. – Mas eu sei que ele vai aceitar o Hyoga. Camus tem um senso de responsabilidade muito forte e sei que não daria às costas para o próprio filho. Mesmo que ele não me aceite de volta, se ele for um bom pai para Hyoga eu já ficarei feliz. – ela beijou o filho que olhava para ela sem entender.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora