Doce Fruto de um Passado Amargo

POV Milo

Já estava quase na hora de dormir. Já tínhamos comido a pizza e estávamos terminando de assistir um filme. Estávamos todos sentados no sofá, os meninos no meio, Camus em uma ponta e eu em outra. Isaak estava do meu lado e Hyoga ao lado de Camus. Quando dei por mim, Isaak tombou pro meu lado, encostando a cabeça no meu ombro. Ele já estava com bastante sono. Sorri com aquilo. Aproveitei para puxá-lo pra mais perto, em um meio abraço. Ele devia estar com tanto sono que nem ficou sem graça, apenas se aninhou nos meus braços. Aquilo me deixou tão feliz! Estar com ele ali parecia tão certo. Naquele momento parecíamos uma família de verdade. E não pude deixar de me sentir completo. Era exatamente isso que eu queria pra minha vida. Eu alcançaria, enfim, tudo que eu sonhei um dia. Uma pena que aquele momento seria passageiro e logo voltaríamos para a cruel realidade. Olhei de soslaio para o lado. Hyoga estava encostado no peito de Camus. Esse, por sua vez, o abraçou como eu fizera com Isaak e passava os dedos suavemente pelos cabelos do loirinho. Meu marido parecia mais tranquilo naquele momento, talvez por ter Hyoga em seus braços. Já nosso garoto estava com o olhar perdido, apesar de parecer que estava assistindo TV. Diferente de Isaak, ele não demonstrava estar com muito sono. Provavelmente, Camus teria que fazer aquele chá novamente. Com Isaak ali, ele não ia querer dormir na cama conosco. E hoje nem seria um bom dia pra isso. Camus e eu ainda tínhamos que conversar sobre algumas coisas.

- Meu filho, está sem sono? - Camus perguntou pra Hyoga.

- Mais ou menos. Estou preocupado com a minha avó. Não gosto de dormir sem saber como ela está. - sua voz transmitia tristeza e seus olhos já estavam marejados.

- Sua avó está bem, meu filho. Qualquer alteração no quadro dela, me avisariam imediatamente. Mas, se isso te deixar melhor, posso ligar pro Deba pra saber se ela está dormindo bem. Caso ela esteja acordada, posso até deixar você falar com ela. Prefere assim? - ele perguntou.

Hyoga não respondeu, como se ponderasse se seria muito incômodo pedir isso.

- Hyoga, tudo bem ser um pouco egoísta de vez em quando. Você pode querer ter um desejo atendido, não precisa se preocupar em nos incomodar. Se não for possível, nós lhe diremos. - falei, tentando encorajar meu garoto.

- É isso que está sentindo, meu filho? - Hyoga corou com a pergunta de Camus. Esse por sua vez, abraçou Hyoga e deu-lhe um beijo na testa. - Você não precisa se conter assim, Hyoga. Pode nos pedir o que quiser. Não prometo que sempre lhe direi sim, mas sempre que puder, eu irei lhe atender, ok? Vou pegar meu celular pra ligar pro Deba.

Antes de levantar, Camus ainda afagou a cabeça do loirinho. Com o movimento, Isaak acabou acordando. Quando percebeu que estava aninhado nos meus braços, afastou-se rapidamente, muito vermelho. Não me aguentei, acabei rindo.

- D-desculpa! Eu caí no sono e...

- Não tem problema, campeão! - o interrompi e afaguei seus cabelos. - Você sempre será muito bem tratado e acolhido nessa casa, como se fosse nosso filho também. - Isaak ficou ainda mais vermelho, mas tive a impressão de ver seus olhos marejando por alguns segundos. Será?

Hyoga olhava pra mim também um pouco emocionado. Aquela cena me fazia tão feliz. Ah! Como eu queria fazer aqueles dois felizes. Confesso que estava difícil me segurar. Eu queria fazê-los despejar todos os problemas pra cima de mim, assim eu poderia resolver tudo rápido e logo seríamos uma família feliz. Sim! Eu já estava contando que Isaak seria parte da família. Meu instinto me dizia que qualquer pessoa que ele nos apresentasse no dia seguinte seria apenas um grande teatro. E eu fazia questão de desmascarar aquilo! Isaak seria meu filho! Só de olhar pra ele, eu já sabia disso.

Vi Camus entrando na sala novamente, conversando no celular. Ele parecia conversar com Deba.

- Aqui, meu filho, sua avó já dormiu, mas pode perguntar o que quiser pro Deba. - disse Camus, entregando o celular pra Hyoga.