POV Milo

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Eu havia escolhido um lugar extremamente inesperado para levar Hyoga. Talvez não fosse exatamente o melhor lugar para se passear em Paris. Ou melhor, certamente não era o melhor lugar para se passear, mas eu queria transmitir algo para Hyoga com aquilo. Não que eu quisesse que ele esquecesse a mãe, mas eu queria que aquele sentimento de tristeza profunda pudesse se transformar em algo caloroso. Algo que o fizesse deixar a dor de lado e o fizesse ver esperança no amanhã. Sim! Seria algo muito difícil, alguns poderiam me dizer até que seria impossível. Mas, se tem algo que eu aprendi em minha vida foi que, o impossível, na maioria das vezes, está apenas na nossa mente. Não teria chegado onde cheguei se desanimasse no primeiro obstáculo à frente! Eu queria mandar para longe todo aquele sofrimento do olhar do meu loirinho. Sim, meu loirinho! Não importava como Hyoga tinha entrado em minha vida, o importante é que ele não sairia mais dela. Eu não via Hyoga como uma ameaça ao meu casamento, muito pelo contrário. Hyoga era a oportunidade que eu sempre pedi! Oportunidade de ser pai, oportunidade de estreitar os laços com Camus, oportunidade de finalmente ter minha vida completa. Não que Camus e meu sucesso não fossem o suficiente. Mas nada é tão bom que não possa melhorar.

Olhava para Hyoga de soslaio, tentando não desviar minha atenção da rua. Ele olhava pela janela, distante. Seus olhos pareciam opacos e sem vida. Isso apertava meu coração. Quantas marcas a vida deixara naquele garoto? Será que eram somente as que nos foram contadas? Provavelmente não. Mas essas teriam que ser tratadas depois. As feridas que sangravam naquele momento eram muito bem conhecidas. O que será que passava naquela cabecinha? Será que ele revivia a cena do naufrágio? Mesmo após tantos anos, será que a imagem ainda era nítida em sua mente? Apenas perguntas retóricas. Aquele sofrimento era muito palpável para que qualquer detalhe tenha se perdido em sua memória. Se eu soubesse exatamente o que havia acontecido, talvez tivesse mais condições de ajudar. Mas como eu poderia perguntar qualquer coisa sobre aquele dia? Sequer acreditava que Hyoga conseguiria contar. Tudo que eu podia fazer era estar ali para ele. Não era o que ele queria, não era o que ele precisava, mas era o que eu tinha para oferecer. Eu esperava que, um dia, eu fosse aquilo que ele quer e precisa.

Não demorou muito e já estávamos nos aproximando do destino. Hyoga continuava absorto em seus pensamentos. Ele olhava para através da janela, como que procurando uma resposta de um enigma indecifrável. A maneira como seu olhar se perdia no horizonte emanava desesperança, desânimo, cansaço. Era como se gritasse silenciosamente por ajuda, por uma luz. Aquela luz que se afastava dele, ano após ano. Será que seríamos capaz de trazer essa luz de volta para sua vida? A luz da vontade de viver, a luz de esperança no amanhã. Só o tempo diria. Mas eu lutaria com todas as minhas forças para que isso fosse possível. Não sabia dizer quanto eu aguentaria vendo aquele loirinho naquele estado. Passou-se apenas dois dias desde que o conhecera e eu já estava completamente apegado. Quanto mais tempo passava, mais que queria fazer algo por ele. Mais aquele sentimento se fortalecia dentro de mim, sentimento de amor paterno. Será que já poderia dizer isso? Que eu o amava como a um filho? Ele gostaria de ouvir isso? Eu poderia afirmar com certeza? Eu teria condições de provar aquilo? Talvez fosse muito cedo para dizer algo assim. Mas será que existia a hora certa? Era tudo tão incerto quando se tratava de Hyoga. Um passo em falso e poderia pôr tudo a perder.

Estacionei o carro naquele estacionamento praticamente vazio. Ainda era cedo, mas naquela época do ano não deveria ter muita gente mesmo. Desliguei o carro e me virei para Hyoga. Ele me olhava, confuso.

- Que lugar é esse? – ele me perguntou.

- Você vai ver. Venha comigo. – sorri confiante para ele.

Saí do carro e Hyoga me acompanhou. Andávamos em direção a enorme contrução a nossa frente. Era um prédio bem largo, mas com poucos andares, no máximo três. Tinha um estilo bem antiquado, parecia algo do século passado. Apesar de ser bem conservado, dava para notar que era uma contrução muito antiga. Apesar de não fazer muito meu estilo, eu amava aquele lugar. Tinha muitas histórias ali, tanto minhas quanto de Camus. Os corredores eram cheios de memórias. E vazios daquele jeito, apenas trazia mais nostalgia. Como se eu pudesse reviver todas as lindas lembranças que tinha ali. Hyoga olhava para tudo aquilo como que sem entender. Sorri. Queria que fosse uma surpresa mesmo.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora