POV Isaak

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Vi Milo saindo do quarto e Hyoga cabisbaixo. Suspirei. Eu queria ajudar Hyoga, mas seria mais difícil do que eu pensava. Mentir, pra mim, era algo super natural, mas Hyoga dava muita bandeira. Claro que aquela história da biblioteca era mentira. Eu raramente ia lá, porque detestava ler e estudar. Óbvio que depois que eu conheci Hyoga, comecei a tomar um pouco de gosto por leitura, mas não o suficiente pra passar horas lendo na biblioteca. Mas uma coisa era certa; foi difícil me aproximar de Hyoga. Eu ficava me perguntando o que aquele garotinho fazia naquele lugar onde eu estava. Ou melhor, porque ele estava ali onde eu estava. Ele parecia muito sensível, tinha um olhar meio depressivo e uma presença extremamente gentil. Eu tinha certeza de que se não o protegesse, algo terrível poderia acontecer. E eu meio que me senti responsável por ele. Tanto que lá estava eu, enfrentando qualquer conseqüência, apenas para socorrer aquele loirinho teimoso. E a minha vontade era de acabar com toda aquela palhaçada! Cara, Hyoga estava com a vida ganha! Eu olhava para aquela casa, pro pai dele e o respectivo marido e ficava sem entender como Hyoga ainda não tinha contado tudo pra eles. Camus parecia, de fato, ser linha dura. Mas a maneira que ele olhava para Hyoga, me passava segurança de que ele moveria céus e terra para manter o loirinho protegido. E não tinha como ser diferente! Eu conhecia muito bem toda história. Camus perdeu quatorze anos da vida do próprio filho! Claro que ele ia querer compensar todos aqueles anos! E Milo... Ah! Esse estava claramente derretido por Hyoga. Era muito visível o quanto ele tinha se apegado ao meu irmãozinho. E isso era ótimo! Era ótimo ver que Hyoga teria um padrasto e não uma madrasta. E que padrasto! Milo parecia carinhoso, atencioso, compreensivo, além de ser um gato! Alíás, que família seria, hein? Hyoga, mesmo tendo apenas quatorze anos, já era muito bonito. Eu já tinha visto foto da mãe de Hyoga e, até então, pensava que a beleza de Hyoga era toda vinda da mãe, já que ele era muito parecido com ela. E como nunca tinha visto foto do pai dele, fazia sentido meu raciocínio. Mas conhecendo Camus, ainda mais pessoalmente, era claro que Hyoga fora abençoado com os genes da beleza. O pai dele era tão bonito quanto a mãe. E agora, como se não bastasse, Milo estava na família. Sinceramente, eu nunca tinha visto tamanha beleza na minha vida. Quem não ia querer ter Milo como pai? Dava pra fazer inveja no resto do mundo. Se colocassem os três juntos, dava para fazer aqueles comerciais de café da manhã, que sempre tinha uma família linda, perfeita e feliz. Mas quem os via nem imaginaria a história terrível por detrás de todo aquele esplendor.

Sentei-me na cama, chamando atenção de Hyoga.

- Entende o quão difícil está sendo a situação? - ele falava em um tom, agora, melancólico.

- Deu pra imaginar. Como se não bastasse seu pai, Milo parece alguém bem fácil de se apegar.

- E não é só isso! Ele é muito esperto. Eu não sei como, mas ele pode estar bem perto de descobrir tudo, sem que eu nem tenha dito algo.

- Como assim? - perguntei, estranhando. Eu sabia que Hyoga era bem sensível e um péssimo mentiroso, mas tinha que ser muito esperto pra descobrir algo sobre ele. Afinal, ele era MUITO introvertido.

- Milo descobriu sobre a existência dele, só de ter me visto fumando. - aquilo me deixou surpreso.

- Mas ele descobriu o que exatamente?

- Não sei se ele descobriu de fato, mas suspeita, no mínimo. Ele acha que alguém, mais velho, entrou em minha vida de alguma forma e teve uma relação próxima comigo. Próxima o suficiente para me influenciar a fumar. E também suspeita que é alguém perigoso, de quem eu tenho medo.

- Entendi. Isso foi o que ele falou pra você, não é? - Hyoga acenou com a cabeça e eu fiquei um pouco mais pensativo. - Isso significa que ele já tem uma teoria formada na cabeça dele do que pode ter acontecido. Talvez ele até já tenha descoberto tudo, mas sem saber os detalhes. - vi Hyoga se assustar com minha constatação. - Se esse for o caso, talvez minha vinda tenha confundido um pouco ele. Mas ele vai chegar à conclusão de que eu possa estar envolvido nisso tudo de alguma forma.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora