POV Hyoga

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Já tinha se passado pelo menos uns cinco minutos desde que me pai entrou na cozinha, dizendo que precisava conversar comigo. Confesso que ele chegou na hora certa. Eu já não sabia o que responder para as perguntas que Milo fazia. Eu não estava com cabeça para pensar em respostas criativas e nem para atuar melhor para que ele não desconfiasse de nada. Apesar dos sorrisos que consegui dar naquele dia, foi tão cansativo como em todos os outros anos. Eu estava bem cansado. E a noite ainda nem chegara. Isso significava que eu ainda teria muitas horas pela frente e, talvez, Milo continuaria perguntando coisas que eu não queria nem podia responder. Sabe-se lá onde eu conseguiria forças para desviar daquilo. Eu precisava de um tempo sozinho. Eu precisava de ajuda. Eu precisava de alguma desculpa para me afastar de Milo. A questão é que a cara que meu pai fazia estava me assustando tanto quanto a possibilidade de continuar conversando a sós com Milo. Afinal, o que poderia deixá-lo com aquela expressão de preocupação no rosto? Será que ele ainda estava preocupado comigo? Será que eu estava aparentando estar tão mal assim? Se bem que desde quando ainda estávamos na torre Eiffel, ele estava um pouco distante. Não que eu estivesse reclamando, eu estava tão distante quanto ele. Enquanto minha avó e Milo conversavam animadamente, eu apenas fingia estar prestando atenção e sorria de vez em quando. Mas pela preocupação que meu pai demonstrara anteriormente, parecia ter algo a mais. E ele não parecia ser do tipo que ficava ponderando sobre tomar ou não uma atitude. Pelo que minha avó me contava e pelo que percebi dele nesses poucos dias, ele sabia muito bem no que acreditava como certo e errado. Talvez por isso eu estivesse estranhando sua hesitação.

Vi meu pai levantar o olhar e direcioná-lo a mim. Ele suspirou pesado antes de começar.

- Hyoga, acho que não tem um jeito melhor ou pior de se dar uma notícia como essa. Já passei por isso diversas vezes e prefiro ir direto ao ponto. – ele suspirou novamente antes de continuar. – Quando fui ao hospital com sua avó, aproveitei para fazer alguns exames. Como eu disse antes, eu me responsabilizarei pelo caso dela a partir de agora e achei melhor ver como ela estava com exames mais recentes em mãos.

O que? Como assim ele tomava uma decisão daquelas sem nem me falar nada? Eu queria ter acompanhado isso! Eu ia protestar, mas ele levantou a mão, sinal de que esperasse ele terminar de falar.

- Eu acompanhei tudo e, apesar dos resultados ainda não terem saído por completo, eu já pude confirmar algumas coisas. Infelizmente, sua avó está com um tumor no cérebro.

Senti o chão faltar aos meu pés. Tumor? No cérebro? Quando? Como? Não era apenas um problema no coração? Por que agora tinha um tumor? Não! Não! Estava errado! Só podia estar errado!

- Tem certeza disso, Camye? – Milo perguntou.

- Sim, mon ange, infelizmente. Eu já tinha visto essa alteração na hora da tomografia e recebi os resultados das imagens quando estávamos na torre Eiffel. – meu pai respondeu e voltou-se para mim. – Eu não posso afirmar se é benigno ou maligno, só através de uma biópsia. Acontece que pela idade avançada de sua avó e pelo problema coronário, seria arriscado fazer uma biópsia apenas para confirmar isso. O ideal é já fazer a remoção completa do tumor e então confirmarmos sua natureza. Entretanto, ela está muito debilitada por causa da pneumonia. Não resistiria passar por uma cirurgia desse porte agora.

- O que pretende fazer então? – novamente Milo perguntou.

- Vamos interná-la, a partir de amanhã, para tratarmos a pneumonia de maneira mais intensa. E vou acompanhando a evolução do tumor. Apesar d'ela não apresentar nenhum sintoma relacionado ao mesmo, não podemos demorar em sua remoção. Por isso a intermação será necessária. E assim que ela melhorar, vamos fazer a cirurgia e torcer para que não seja maligno.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora