POV Saga/POV Camus

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Eu olhava preocupado para Milo e Hyoga, principalmente para Hyoga. Ele não estava bem, isso era visível. Parecia que só de olhar ele iria quebrar. Desde o dia na cafeteria eu não conseguia tirá-lo dos meus pensamentos. Hyoga mexeu comigo de uma forma intensa. Não só porque era filho de Camus e Milo. Claro que isso fazia diferença. Milo era meu amigo a muito tempo e Camus tornou-se alguém próximo, com quem me identificava bastante. Mas não era só pelo fato de que ele era meu afilhado. Eu vi um potencial enorme nele. Fazia tempos que eu estava completamente desanimado em ser professor. Eu o era só pelo prazer de ensinar, pois financeiramente não era vantajoso. Mas os jovens daqueles dias não pareciam nem um pouco interessados em adquirir conhecimento. Tudo que eu ouvia era sexo, drogas, dinheiro, fama. Tudo se baseava em coisas fúteis. Eles não prestavam atenção na aula, apenas queriam fazer o mínimo pra passar na matéria. E isso me irritava demais! Tanto que minha fama na universidade se espalhou mais do que eu imaginava. Os alunos ficavam fofocando, dizendo que eu era o “demônio da humanas”, que não deixava ninguém passar na matéria que lecionava e outras coisas boçais. Eu apenas revirava os olhos quando ouvia aquilo. Estava apenas fazendo meu papel de professor ao não permitir que passassem na matéria sem que realmente tenham aprendido. Os outros professores que eram muito moles e achavam que tinham que ser amiguinhos dos alunos. E tudo aquilo me frustrava, pois semestre após semestre os alunos pareciam piores. Dava pra salvar um ou dois no ano letivo. Até mesmo para escrever novos livros eu estava desanimado. O retorno financeiro era até bom, mas dava muito trabalho, ocupava bastante do meu tempo livre. E por mais que eu gostasse, precisava dar atenção a minha família, Seiya em especial. Seiya dava muito trabalho! Era um bom garoto, mas aprontava demais na escola, ia mal nas matérias, não fazia as tarefas de casa e a lista só crescia. Ele só queria saber de jogar videogame e futebol, o resto ficava a desejar. Aiolos passava muito a mão na cabeça do garoto. Ele tinha mais paciência que eu e tentava compreender o que levava Seiya a fazer aquelas coisas. Não que ele não fosse rígido quando precisava e Seiya sabia bem disso. Mas era pra Aiolos que Seiya corria toda vez que eu tinha que lhe dar uma surra, embora ele próprio soubesse que meu marido não me desautorizaria. Enfim, eu acabava não tendo tanto tempo pra escrever.
E o que tudo isso tinha a ver com Hyoga? Bem, como Milo mesmo disse, o jovem amaciou meu ego. Um garoto de 14 anos tinha me dito que meus livros eram seus favoritos. Eu escrevia basicamente sobre filosofia e sociologia, a nível universitário e de pesquisa. Não era ficção adolescente, não era autoajuda, não era literatura clássica ou moderna, não era nada que pudesse atrair a atenção de um menino de 14 anos. Isso só podia dizer uma coisa; ele queria conhecimento! Ele gostava de aprender! Mesmo que fosse apenas para treinar seu inglês, ainda assim demonstrava muita disciplina, foco, curiosidade. E isso encheu meu coração de esperanças. Talvez eu apenas estivesse focando na idade errada! Talvez os mais jovens seriam mais fáceis de instigar, de provocar, de ensinar. Talvez eles dessem mais atenção ao que eu tinha para lhes passar. Eu sabia que se sentasse para conversar com Hyoga, ele passaria horas me ouvindo lhe ensinar sobre as mais diversas coisas. E eu fiquei com muita vontade de me tornar seu professor. E só de pensar nessa hipótese, minha mente já se encheu de ideias e possibilidades. Tudo porque ele disse que meus livros eram seus preferidos. Renovou meu ânimo e abriu minha mente. Porém, não foi só por isso que eu não parava de pensar no loirinho. Quando o vi, sentado e chorando, na cafeteria, sabia que tinha algo errado. E meu instinto me dizia que todo o potencial que eu vira nele, provavelmente estava sendo desperdiçado naquelas lágrimas. Quando Camus contou a história de seu passado, pude ver o quanto Hyoga era especial. Ele perdeu a mãe muito cedo e sequer conhecia o pai. Mesmo assim, ele ainda parecia um garoto super esforçado e disciplinado. Eu pude perceber o carinho e cuidado que ele tinha com a avó e a postura madura de alguém que se viu forçado a “crescer” antes da hora. E isso me fez admirá-lo ainda mais. Cresceu sem pai e sem mãe, sendo cuidado por uma senhora que não era parente e, mesmo assim, era um garoto estudioso, disciplinado, educado. A maioria se perderia no mundo. Perceber isso só fez com que eu tivesse mais vontade de afastar aquela tristeza que ele sentia e o distanciava de ser um jovem ainda mais brilhante. Era um absurdo que alguém com tamanho potencial perdesse horas com tristezas e sofrimento. Um garoto de 14 anos deveria se preocupar apenas com coisas como passar de ano ou no que faria no dia seguinte. Ficava me perguntando que tipo de vida ele tivera após a morte da mãe, pois o sofrimento que vi em seus olhos não era por algo que acontecera dez anos atrás. E o que acontecera há minutos era prova disso. Algo mais estava fazendo aquele garoto sofrer. E eu faria o que pudesse para mudar aquilo.
Saímos da loja e vi Milo olhando de um lado para o outro, provavelmente procurando Camus.
- Onde será que ele se meteu? – Milo perguntou mais para si mesmo.
- Procurando Camus? – perguntei.
- Também.
Também? Quem mais Milo estaria procurando? Ele parecia procurar alguém até mesmo dentro da loja, antes de sairmos. Não parecia que a avó de Hyoga estivesse ali. Talvez estivesse com Camus, que não estava na loja quando chegamos. Hyoga também parecia aflito, olhando de um lado para o outro. Fiquei sem entender.
- Aqui, Milo! - vi Camus se aproximando com um jovem de cabelos verdes. – Saga?
- Parece que frequentamos os mesmo lugares, meu caro! – respondi sorrindo.
- Isso só mostra que você tem bom gosto. – ele disse e ambos rimos. – Ah! Deixa eu lhe apresentar; esse é nosso filho, Isaak.
- Como assim, Camus? Ele já estava aqui antes? Estão escondendo seus filhos agora, é? – perguntei, bem confuso. Camus e Milo apenas riram de leve com a minha confusão.
- Ele chegou depois do dia da cafeteria, por isso você não o conheceu. – disse Milo, indo para o lado do garoto. – Isaak, esse é Saga, um amigo nosso.
- Prazer, Isaak! – disse, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
- Prazer senhor... Saga? – ele parou por um momento, como se tentasse entender alguma coisa. – Seu nome não me é estranho. – ele parou para pensar e logo lhe veio algo. – Saga? Saga Katsopolis? O escritor?
- Culpado. – respondi.
- Isso é sério? Não acredito! Ele não é seu escritor preferido, Hyoga? – Isaak virou-se para o loirinho, bastante empolgado. Esse, por sua vez, ficou rubro de vergonha. – Por que não está todo empolgado como eu?
- Eu já o encontrei antes, Isaak. – Hyoga falava, ainda mais vermelho.
- Ah! É por isso! Mas mesmo assim! – ele virou-se para mim. – Senhor Saga...
- Não precisa me chamar de senhor. Não sou muito mais velho que seus pais. – falei, sorrindo.
- Então, Saga... Você pode autografar um livro seu pro Hyoga? – ele me pedia com o olhos brilhando.
- Isaak!! – Hyoga esbravejou mais vermelho, se é que era possível.
- O que? Tô te fazendo um favor! Sei como você é tímido! Saga, você não tem ideia de como ele é seu fã. Ele deve ter lido cada um dos seus livros umas quatro, cinco vezes. E toda vez ele vinha super empolgado pra mim, dizendo que tinha aprendido algo novo! Ele falava tanto dos seus livros que eu acabei ficando curioso e pegando pra ler. Mas eu não consegui passar do primeiro capítulo. Com todo respeito, mas eu não entendi nada! Não sou tão inteligente como meu irmão.
Assim que ele terminou de falar, não me aguentei, comecei a rir, seguido por Milo e Camus.
- O que foi? Eu disse algo engraçado? – ele perguntou, um pouco sem graça.
- Desculpa, não quis ser grosseiro. – falei, ainda rindo um pouco. – Você me lembra muito do Milo quando tinha sua idade. Poderia facilmente dizer que é filho biológico dele.
- Não é? Eu disse a mesma coisa pra ele. – Milo comentou.
- Pelo visto você arrumou um sucessor, já que Hyoga parece mais voltado pra caminhos como os de Camus.
- Veremos. Não quero colocar pressão em nenhum dos dois. Eles podem escolher o que quiserem fazer. Afinal, pessoas pra tocar as empresas é o que não falta. Mas ficaria muito feliz se qualquer um dos dois quisesse. – disse Milo.
- Entendo. – voltei-me para Isaak. – Mas, respondendo ao seu pedido...
- Não precisa se preocupar com isso, Saga! Não quero incomodá-lo! – Hyoga me interrompeu.
- Qual é, Hyoga? Sabe quando se tem uma oportunidade dessas? – Isaak falou, recebendo um olhar reprovador de Hyoga.
- Não se preocupe com isso, Hyoga. Não é incômodo algum. Pelo contrário, sinto-me lisonjeado de saber que gostou tanto assim dos meus livros. Mas, ao invés de te dar um autógrafo, que tal outra coisa? – os dois me olharam curiosos. – Estou com o manuscrito do meu próximo livro. Ele deve ser lançando daqui alguns meses. Quero que você o leia e me dê sua opinião. O que acha?
- Eu? – seus olhos se encheram de lágrimas. – Mas... mas eu não tenho capacidade de lhe dar uma opinião a altura. Eu...
Ele abaixou a cabeça. Parecia feliz, envergonhado e receoso, tudo ao mesmo tempo. Achei aquilo uma graça! Aproximei-me mais dele.
- Ei, olha pra mim. – ele levantou o olhar e duas lágrimas rolaram por sua face. Eu as limpei, gentilmente. – Não pediria isso se acreditasse que você não é capaz. E ouvir sua opinião será de grande ajuda! Você faria isso? Se não quiser, tudo bem.
- Eu quero! Quero muito!
Nesse momento ele me mostrou o sorriso mais lindo possível. Droga! Desmontou-me completamente! Eu estava encantado com o garoto! Era muito errado que aquele sorriso não estivesse presente em seu rosto, 24 horas por dia! A vontade que me deu foi de ligar pro meu marido naquele exato momento e me mudar para Paris, só pra que eu pudesse acompanhar Hyoga de perto.
Sorri de volta para ele e voltei-me para Camus.
- Esse garoto ainda vai te dar muita alegria e orgulho, Camus.
- Já me dá, Saga. – ele colocou a mão na cabeça do filho, sorrindo, mas de uma maneira um pouco triste. O que me chamou atenção e lembrou-me do ocorrido.
- Mudando de assunto, será que podemos sentar e conversar? Aconteceu algo agora há pouco e gostaria de saber mais detalhes, se não se importarem. Gostaria de poder ajudar. – Camus me olhou, confuso.
- Hyoga foi atacado no provador por um sujeito. – Milo esclareceu.
- O que? – Camus e Isaak falaram em uníssono.
- Você está bem, maninho? – Isaak abraçou Hyoga na hora. – Droga! Eu devia saber que tinha mais deles por aí! Desculpa!
- Como é que é, Isaak? – Milo falou, num tom de repreensão, fazendo o garoto se encolher.
- Isaak também foi abordado por um sujeito que estava seguindo-o. – disse Camus, surpreendendo a todos.
- O que? Por que não disse nada, Isaak? – Milo indagou, alterado.
- Foi mau, tá?! Não fica bravo comigo. Já levei um esporro do Camus por isso. – disse Isaak, arrependido.
- Espera um pouco! Não estou entendendo nada! – manifestei. – Por que tem pessoas seguindo os dois? O que está acontecendo?
- Vamos sentar e conversar com calma. – disse Camus. – Você está sozinho, Saga?
- Não, Kanon está comigo. Ele foi levar o desgraçado que atacou Hyoga para a segurança do shopping.
- E Aiolos e Seiya? – Milo perguntou.
- Ficaram no hotel. Eu fui com Kanon na sede da empresa, resolver algumas coisas com Mu. Quando saímos de lá, aproveitamos pra passar aqui e comprar algumas coisas.
- Vou mandar uma mensagem pro Kanon nos encontrar na praça de alimentação, então. – disse Milo.
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POV Camus

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⏰ Última atualização: May 29 ⏰

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