POV Milo

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O caminho para o hospital tinha sido torturante. Um silêncio sepulcral se instalou entre nós. Eu estava tentando entender o que acontecera desde que Hyoga saíra de nosso quarto até o momento que o vi novamente. Ele estava sorrindo, parecia tão confortável em nossa brincadeira. Até então eu ainda não acreditava que ele me chamou de pai. Pai! Eu sempre quis ouvir aquilo. Era o único sonho que ainda não tinha realizado. Não que eu fosse daquelas pessoas mimadas que não ficava satisfeito enquanto todos os desejos não fossem realizados. Muito pelo contrário. Eu era muito satisfeito com tudo que conquistara na vida, sentia muito orgulho de ter chegado ali com meu próprio esforço e dedicação. Sim, eu era ambicioso, mimado não. Desse modo, eu não poderia reagir de forma diferente. Eu estava a um passo de realizar mais um sonho. A questão era que as coisas com Hyoga sempre eram muito incertas. Num momento ele me chama de pai e no outro já está evitando me encarar. Eu entendia que aquilo podia ter sido um pouco constrangedor, afinal ele nem se acostumara ainda com o pai biológico. Que dirá com outro pai que ele nem esperava ter. Mas, novamente, era claro sua vontade de lutar contra qualquer forma de aproximação. E isso já estava começando a me incomodar. Se eu percebesse que ele fazia isso por falta de jeito, tudo bem. Mas eu sabia que tinha um motivo bem mais profundo. E era algo extremamente relevante, que talvez afetasse nossas vidas num futuro próximo. Quanto mais eu pensava nisso, mais incomodado eu ficava. De qualquer forma, toda aquela situação apenas me fez ter certeza de uma coisa; eu já amava aquele moleque. A forma como meu coração se aqueceu quando ele me chamou de pai foi simplesmente indescritível. Tão indescritível quanto o dia em que eu ouvi "eu te amo" pela primeira vez da boca de Camus. Claro, foram sensações completamente diferentes, mas ambas foram impactantes. Impactantes o suficiente para me fazer perceber meus sentimentos com mais clareza.

Chegamos ao hospital. Hyoga se encarregou de empurrar a avó na cadeira e Camus e eu fomos à frente. Logo que entramos, Camus pediu para que Hyoga esperasse na recepção com a senhora Valéria e ele se encarregaria dos papéis da internação. Como Hyoga parecia desconfortável com a minha presença, resolvi dar um pouco de espaço para ele e fui atrás de Camus.

- Você não consegue ficar longe desse hospital, não é Camus? – era Shaka, que vinha ao nosso encontro, nos cumprimentando.

- Acredite, gostaria de estar bem longe daqui. Mas, infelizmente, não será possível. – respondeu meu marido.

- O que o traz aqui hoje? Não parece que veio trabalhar mesmo.

- Vim internar a avó de Hyoga.

- Como?

- Fiz alguns exames nela e descobri que está com um tumor no cérebro. – Shaka se assustou com aquela constatação.

- Sinto muito por isso. E como Hyoga reagiu à notícia? – ele perguntou, meio que já sabendo a resposta.

- Ele ficou muito abalado. Mas é difícil dizer qualquer coisa vindo de Hyoga. – Camus falou, com um olhar um pouco triste.

- Por que diz isso?

- Achamos que Hyoga está escondendo algo de nós. – foi minha vez de falar. – Inclusive, queríamos te perguntar algumas coisas.

- Digam e verei no que posso ajudar.

- Como você e Mu lidaram com Ikki? Sabemos que ele teve um passado ruim, assim como Hyoga. Pensamos que talvez sua experiência pode nos dar alguma luz em como lidar com Hyoga. – falei novamente e Shaka suspirou.

- É complicado, Milo. No início era muito difícil lidar com Ikki. Ele só começou a reagir positivamente quando paramos de tratá-lo como se ele fosse alguém digno de pena. Mas, de qualquer forma, tivemos que dar o espaço que ele precisava. Não sei com relação à Hyoga, mas forçar a barra com Ikki nunca foi a melhor solução. Porém, não saberia dizer que esse é o melhor caminho a se adotar com Hyoga. São experiências completamente diferentes em pessoas completamente diferentes. Mas vocês estão suspeitando de alguma coisa que está deixando-os preocupados?

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora