POV Camus

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Saí de casa ainda um pouco apreensivo. Tudo que eu queria era que meu filho me contasse o que tanto o afligia. Com a chegada desse amigo, eu teria que adiar meus planos. Mas ainda me perguntava se eu conseguiria fazer com que Hyoga falasse. Do jeito que ele me respondeu no hospital, provavelmente eu teria muita dificuldade em fazê-lo me confidenciar o que estava escondendo. Suspirei pesado com esse pensamento. Confesso que nunca tinha me sentido tão impotente quanto naquele momento. Eu não conseguia entender aquela relutância do meu filho. Tudo que eu queria era ajudá-lo! Tudo que eu queria era que ele pudesse ter uma vida melhor, na medida do possível. Claro que existiam cicatrizes que eu não conseguiria extinguir. Mas eu poderia, pelo menos, tentar tirar ou amenizar a dor que elas causavam. Isso eu poderia fazer! Mas a menos que meu filho confiasse em mim, estava de mãos atadas. E isso fazia meu coração se angustiar a cada nova reação que ele tinha. Eu já estava cansado de ter que olhar dentro daqueles dois diamantes e apenas ver dor, sofrimento, preocupação, medo. Eu era o pai dele! Quando ele me permitiria agir como tal? O que eu tinha que fazer para que ele me visse como a solução de seus problemas? Se ele não estava disposto a me deixar ser seu pai, por que raios ele tinha vindo ao meu encontro então? Eu não entendia! E quanto mais eu pensava, mais agoniado eu meu sentia.

Cheguei relativamente rápido ao hospital. Eu não gostava de dirigir em altas velocidades, mas sentia que meu corpo apenas acompanhava a velocidade dos meus pensamentos. Minha mente não parava. Eu ficava rodando de um pensamento para outro. Ora pensava em Hyoga, ora pensava na situação da senhora Valéria, ora pensava no que Hyoga estava escondendo. Sentia que estava andando em círculo sem nunca chegar a lugar algum. E agora ainda tinha esse amigo do Hyoga. Milo disse que se ele estivesse envolvido com o homem que suspeitávamos aterrorizar Hyoga, ele devia ser vítima ou cúmplice. Por mais que existisse a possibilidade, eu duvidava que ele poderia ser cúmplice. A reação que Hyoga teve ao encontrá-lo foi de alegria. Não fazia sentido então, que ele fosse companheiro de alguém que Hyoga aparentava ter tanto medo. Por outro lado, se ele fosse uma vítima, o que nós faríamos? Obviamente que eu protegeria meu filho de qualquer coisa, a qualquer custo. Mas como faríamos com esse amigo? Será que ele realmente tinha pais? Se ele tivesse pais, então ele estaria escondendo ser vítima de alguém, assim como Hyoga escondia de nós? Achava pouco provável! E se ele não tinha pais? Como eu e Milo lidaríamos com isso? Hyoga, provavelmente, iria querer ajudar o amigo. Droga! Acho que eu estava pensando demais. Sequer sabíamos o que Hyoga estava escondendo, eu estava antecipando demais as coisas. É claro que eu não conseguiria tomar uma decisão sem saber quais eram todas as variáveis. Tudo aquilo estava apenas me deixando muito ansioso e emotivo. E eu claramente não sabia como agir nesses momentos.

Era melhor que eu me acalmasse um pouco. Entrei no hospital a passos largos. Todos que passavam por mim me cumprimentavam formalmente. Eu apenas acenava com a cabeça, levemente. Embora eu estivesse de férias, ninguém se atreveria a me barrar ou sequer perguntar onde eu estava indo. Então cheguei relativamente rápido ao quarto da senhora Valéria. Abri a porta com cuidado, pois não sabia se ela estava dormindo.

- Senhor Camus! - ela me chamou.

- Ah! Que bom que a senhora está acordada. Peço desculpas por ter me ausentando por tanto tempo. - fui me aproximando da cama, enquanto falava.

- Imagina. Só fiquei um pouco preocupada pelo que aconteceu. Hyoga está bem? - ela foi logo perguntando.

- Ele já está mais calmo. Levei ele pra casa.

- Peço desculpas pelo comportamento dele. Pra te ser sincera, nunca o vi agindo daquela forma. Hyoga sempre foi um menino muito educado e gentil. - ela falava com certo pesar na voz.

- Acredito, então, que a senhora não tem ideia do porquê ele ter tido aquela reação, não é?

- Infelizmente não. E imagino que ele também não lhe disse nada, não é?

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora