POV Milo/POV Hyoga

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POV Milo

Eu estava chegando em casa mais cedo que o normal. Eu estava feliz pela conquista dos meus amigos. Era uma conquista para mim também, claro. Também estava feliz com a surpresa, em poder rever amigos tão queridos. Mas definitivamente aquele não era um bom dia. Desde que Camus me contara sobre o motivo de Hyoga estar chorando tanto, não consegui parar de pensar no loirinho. Ficava me perguntando como era possível que eu tivesse me apegado a ele daquela forma. Shaka, por exemplo, tinha a desculpa de ter conhecido Natássia e de terem sido grandes amigos. Mas eu não tinha motivo algum para me apegar aquele garoto. Muito pelo contrário. Acredito que muitos em meu lugar estariam esperneando e implorando para que ele não ficasse conosco. Mas como eu podia explicar aquilo? Não podia ser só pelo fato de que sempre quis ser pai. Tinha algo mais. Aqueles olhos azuis. Quando eu olhava dentro deles, parecia que estava mergulhando em um oceano de incertezas, de medo, de solidão. Óbvio que não era algo pelo qual eu deveria me sentir atraído, afinal não eram sentimentos bons. Mas havia algo mais ali. Algo que estava tão profundo que apenas o olhar não seria suficiente para dizer. E não era uma coisa simples. Parecia que me chamava para conhecer mais e mais. Aquilo parecia loucura, mas de alguma forma eu conseguia me conectar com aquele algo que eu sequer sabia o que era. De qualquer forma, a questão é que eu tinha me apegado ao moleque e agora estava imensamente preocupado com ele. A história daquele garoto não tinha sido nada fácil. Acredito que nem eu nem Ikki, ambos com histórias traumáticas, conseguíamos entender a dor que Hyoga sentia. Ikki e eu sofremos muito na vida antes de conhecer o que era o amor, seja ele em qualquer forma. Mas Hyoga conheceu o maior e mais puro amor de todos, para então perdê-lo e sofrer. Parecia incrivelmente cruel. A única coisa que conseguia imaginar próximo disso seria minha separação de Camus. Só de pensar meu coração já se apertava e meus olhos ficavam marejados. Mas, apesar de saber que Camus e eu tínhamos uma ligação muito forte, eu também sabia que em nada se comparava ao amor de uma mãe para com um filho. Natássia mesmo havia sido uma mãe sensacional, ao ponto de negar a própria felicidade para que o filho tivesse uma esperança de futuro. Ela abrira mão da própria vida para que o filho pudesse viver. Mesmo que Hyoga fosse muito pequeno naquela época, ainda assim a separação deve ter doído inimaginavelmente.

Aquele turbilhão de pensamentos não parava em minha cabeça. Eu queria saber como aquele loirinho estava. Será que Camus conseguiu acalmá-lo? Será que os dois haviam se entendido de alguma forma? Será que ele já estava dormindo? Será que conseguiria dormir? Eu realmente estava muito preocupado. Senão fosse por Camus, eu já teria despachado aquele povo todo da nossa casa e teria ficado bem grudado em Hyoga até que ele se sentisse melhor. Mas eu entendia o lado de Camus de que isso não seria certo. Kanon, Saga e Aiolos vieram de longe apenas para comemorar conosco. Seria extremamente sem consideração fazer aquilo. E agora que eu já tinha curtido com eles um pouco, eu estava voltando para o lugar de onde nem deveria ter saído; minha casa. Eu esperava que estivesse tudo bem. Camus estava estranho mais cedo. Como se estivesse tentando esconder algo de mim. Eu o conhecia o suficiente para deduzir aquelas coisas apenas pelo jeito como ele me olhava ou por como gesticulava. Não havia nada sobre Camus que eu não conhecesse a fundo. E justamente por isso é que eu tinha ficado ainda mais preocupado. Se Camus estivesse mesmo escondendo algo de mim, com certeza não era coisa boa. Eu esperava que eu estivesse errado.

Abri a porta de casa lentamente. Eu não queria fazer barulho, pois eles já poderiam estar dormindo. As luzes estavam apagadas, então eles provavelmente não estariam acordados. Andei o mais suave possível, mas ao chegar à sala me espantei. Camus estava sentado no sofá, tudo escuro. Ele apoiava a cabeça, inclinada, nas mãos que tinham os cotovelos apoiados nas pernas. Aquela não era uma cena muito agradável de se ver. Claro que meu marido era lindo de qualquer jeito, mas raramente eu o via tão cabisbaixo como naquele momento. Aquilo me deixou atordoado. Então realmente alguma coisa não estava certa. Camus não era de transparecer tamanha carga emotiva. E isso me preocupava ainda mais. Ele estava tão absorto em pensamentos que sequer notou minha presença ali. Aproximei-me dele e coloquei minha mão em seu ombro. Ele levantou a cabeça um pouco exaltado, mas logo suspirou aliviado.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora