POV Camus

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Eu saí do quarto e desci para tomar um pouco de água e ver se conseguia me acalmar. Eu não conseguia me conformar que Hyoga tinha me desobedecido. Depois de eu ter avisado, depois do momento que passamos juntos no quarto, eu realmente não acreditava que aquilo tinha acontecido. E o pior de tudo é que eu não poderia deixar aquilo passar. Mas era um péssimo dia pra que eu tivesse que disciplinar meu filho. Ele tinha acabado de chegar, tinha acabado de me conhecer e tudo isso perto da data de quando sua mãe falecera. Nesse furacão de acontecimentos e novidades, eu seria obrigado a acrescentar mais um na lista. Eu até poderia voltar atrás e apenas dar um último aviso, mas esse não era meu estilo. Hyoga teria que entender que eu era a autoridade sobre ele agora e que o que eu falava deveria ser obedecido. Ele não tinha como dizer que não fora avisado antes. Mesmo assim, por que parecia tão errado? Eu nunca pensei que um dia eu fosse me sentir daquela forma a respeito de algo como disciplina. Eu já tinha disciplinado tanto Ikki como Shun antes. Admito que não era a coisa que eu mais adorei fazer na vida, mas eu não me senti tão péssimo como naquele momento. Eu não queria disciplinar meu filho? Era isso que eu estava sentindo? Alguma coisa estava errada comigo. Não acreditava que ter um filho, um filho meu, fosse me afetar daquela forma. Quando foi que ser pai tinha se tornado tão difícil? Finalmente eu estava começando a entender porque Shaka afrouxava a mão de vez em quando. A vontade de perdoar era muito grande, a vontade de esquecer o erro cometido era muito grande. Tudo para não ter que ser o "carrasco". Sinceramente, eu não sabia o que eu faria e nem de onde tiraria forças para fazer qualquer coisa.

Entrei na cozinha e logo fui tomar um copo d'água. Eu sentia meu coração se apertando ao pensar no que aconteceria em pouco tempo. Por quê? Por que Hyoga tinha que ter feito aquilo? Será que foi por influência de Ikki? Mas isso não era desculpa. Hyoga já era crescido pra saber o que era certo e errado. Com certeza ele poderia ter recusado. Ikki era meio rebelde, mas não era do tipo agressivo ou que ficaria com raiva se Hyoga não fizesse sua vontade. E mesmo que fosse, Hyoga tinha que aprender a ser pé no chão. Independente do que os outros pensassem, Hyoga deveria escolher o que era certo. Droga! Droga! Droga! Como ele reagiria à disciplina? Será que me odiaria por isso? Será que me rejeitaria por não concordar com meus métodos? Nunca me senti tão inseguro sobre o que fazer. Tudo que eu queria no momento era paz. Paz para que eu pudesse me aproximar do meu filho, criar uma relação saudável com ele e conhecê-lo melhor. Eu nunca ficara tão ansioso em minha vida como naquele momento. Eu queria ser logo o pai daquele garoto. Eu queria ser e queria que ele me visse como um. Queria poder pegar ele no colo, sim, no colo, e dar a ele o conforto que lhe fora negado durante mais da metade de sua vida. Queria poder dizer o quanto eu já o amava. Nada do que eu estava sentindo fazia sentido algum. Eu não era aquela pessoa emotiva. Mas era o meu filho. Meu filho! Sangue do meu sangue. Como saber de algo tão simples assim pôde mexer tanto comigo? Eu só poderia estar ficando velho.

Além de toda aquela insegurança e ansiedade, ainda havia a preocupação. Onde Hyoga estava? Será que estava bem? Onde Ikki o levara? Será que já tinham saído há muito tempo? Será que demorariam muito para voltar? Eu queria sair daquela casa e procurar Hyoga em cada milímetro daquela cidade até que eu pudesse encontrá-lo e trazê-lo de volta para meus braços. Era meu dever protegê-lo. Eu prometi para mim mesmo que não deixaria que nada de ruim acontecesse a ele nunca mais. E em menos de 24 horas eu já nem sabia onde ele estava. Como que eu consegui perder o controle dele em menos de 24 horas? Nem parecia que eu era aquele homem super-responsável e que tinha tudo sob minha visão. Droga! Droga! Droga! Isso tudo porque eu tinha visto meu filho chorando daquela maneira. Aquilo me desestruturou completamente. O senso de proteção, de cuidado e de carinho, de repente começou a apitar em minha cabeça e eu não conseguia mais ouvir a voz da razão. Definitivamente eu tinha que desenvolver melhor minha inteligência emocional, caso contrário eu teria sério problemas nessa nova vida de pai.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora