POV Milo/POV Camus

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Sim, Shaka me confirmou o que eu mais temia. Eu não estava conseguindo controlar o ódio crescente dentro do peito. Meu coração estava acelerado, sentia o sangue correndo por todo o meu corpo como se minhas veias pegassem fogo. Ao mesmo tempo, eu sentia ainda mais compaixão de Hyoga. Minha vontade era de colocá-lo nos meus braços e dizer que nada e nem ninguém faria mal a ele, não mais. Eu sabia que teria essa oportunidade ainda, mas não sabia se era o momento. Eu precisava conversar com Camus sobre muitas coisas. A começar em como lidaríamos com a situação. Eu sabia que aquilo seria demais para ele. Provavelmente ele estava completamente perdido, sem saber o que e como fazer. Até me perguntava como ele ia encarar Hyoga depois daquilo. Camus tinha o péssimo hábito de ficar completamente recluso na própria dor e insegurança, como um bicho acuado. Ele era muito bom em lidar com fatos, dados, lógica. Quando ele tinha todas as variáveis nas mãos, dificilmente alguém se sairia melhor do que ele. Mas quando eram situações incertas, que envolviam emoções intensas, aí ele se tornava quase como uma criança. Claro que ele tinha melhorado muito nos últimos anos. Tanto que ele se tornara um marido super atencioso, com momentos românticos e carinhosos. Além disso, ele desenvolveu um instinto protetor enorme, o que aumentava ainda mais o seu cuidado para comigo. Mas aquela situação com Hyoga era muito mais do que ele normalmente conseguia lidar. Era uma situação delicada demais, complicada demais. Havia muitos caminhos a se tomar, com muitos resultados diferentes e, provavelmente, nenhuma resolução seria "perfeita". Por mais corretos que fôssemos, ainda haveria perdas e danos. Não era sobre riscos e, sim, sobre apagar incêndios, recolher os cacos, amenizar a dor. E isso era o mais difícil para Camus, saber que independente do que ele fizesse, ele não conseguiria resolver o problema como um todo. Afinal, a maior parte do dano já tinha sido feita. Tirar Hyoga das mãos do abusador não apagaria tudo que ele sofreu nas mãos dele.

Apesar de ter me alterado durante a conversa, tentei prestar o máximo de atenção nas reações de Camus. Ele estava em estado de choque. Só pelo fato dele ter chorado na frente de Mu e Shaka, eu sabia que ele precisava sair dali. Por isso sugeri de irmos embora. Eu mesmo chamaria os meninos, enquanto Camus tentava se recompor na sala. Subi as escadas e me dirigi ao quarto de Ikki. A porta estava fechada. Bati e já abri, sem esperar resposta.

- Vamos meninos? - falei.

Hyoga parecia um pouco chateado e meio... ofegante? Ikki também parecia meio "amarrotado". Já Isaak estava sério. Fiquei me perguntando o que tinha acontecido naquele quarto. Mas com certeza não era algo para me preocupar no momento. Hyoga e Isaak se despediram e vieram ao meu encontro. Descemos e Camus já esperava na porta.

- Se precisarem de alguma coisa, por favor, nos diga. Queremos ajudar no que for necessário. - disse Mu.

- Pode deixar. - respondi.

- Obrigado por nos receberem. - Camus falou.

- Imagina! Sempre será um prazer. - Shaka disse.

Entramos no carro e seguimos para casa. Agora seria a parte mais difícil. Provavelmente não conversaríamos com Hyoga naquela noite. Com Isaak lá, ficava complicado. Mesmo que Isaak estivesse envolvido também, até então ele tinha pais. Se fosse o caso, quando Hyoga nos contasse toda a verdade, poderíamos entrar em contato com os pais de Isaak para deixá-los a par de tudo. Mas, obviamente, que eu já estava considerando o que fazer caso descobríssemos que Isaak era órfão. Aí seria um problema dobrado, mas eu sentia que lidar com Isaak seria mais fácil. Ele parecia colocar menos peso na situação. Não saberia dizer por que, afinal, não era algo agradável e simples de se conviver. Eu teria que saber mais sobre sua história para entender. Mas ele me passava a impressão de que se tivesse a oportunidade de se livrar daquela situação, não pensaria duas vezes. Então ele provavelmente despejaria tudo que perguntássemos. Obviamente que dependeria de Hyoga. Isaak mesmo dissera que não passaria por cima da decisão do loirinho. No final das contas, tudo estava nas mãos de Hyoga. Só esperava que ele cooperasse.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora