POV Milo

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Eu estava perplexo. Meu Camus tinha um filho? Como assim? Aquilo aconteceu tão de repente que tirou o nosso chão. Eu olhava para aquele garoto a nossa frente e pensava que realmente não tinha como não ser filho do Camus. O jeito de olhar, o jeito de andar, a expressão séria e frívola; tudo indicava que o garoto era mesmo filho do meu marido. Camus estava tão chocado quanto eu, talvez até mais. E pensar que depois de tudo, aquela história se reviraria daquela forma. Lembro-me que eu amaldiçoei a mulher que tinha feito aquela ferida em Camus. Foi extremamente difícil curá-la. Investi pesado para que ele voltasse a considerar a possibilidade de se apaixonar. Porém, diante daquela revelação, até me senti culpado. Aquela mulher realmente amara Camus de todo o coração. Ela sacrificou uma vida de felicidade para impedir que Camus sofresse qualquer conseqüência. Claro que ter omitido o fato de estar grávida não foi algo muito ético. Mas eu até entendo. Se ela contasse, Camus jamais permitiria que ela partisse. Mesmo que ele corresse risco de morte, ele ficaria ao lado dela. Eu conheço bem o meu Gelinho. Ele é muito correto e quando se entrega em um relacionamento, é capaz de qualquer coisa.

O silêncio se fez naquele lugar. O garoto olhava profundamente para Camus. Não conseguia sequer imaginar qual seria sua reação. Por um lado eu até me sentia feliz com isso, afinal, sempre quis ter um filho. O problema todo é que aquela situação era imensamente delicada. Depois de anos, o rapaz está conhecendo o pai pela primeira vez. O que será que está passando pela cabeça dele? O que a mãe dele falou sobre o pai? Será que o marido dela tinha criado o menino? Isso seria problemático, afinal pela descrição da figura, o cara devia ser barra pesada. Aquele garoto podia ser um problema em nossas vidas se fosse rebelde. Mas é claro que Camus não recusaria o garoto, por mais problemático que ele fosse. Porém, nossas vidas eram muito agitadas. Não teríamos condições de dar atenção a ele. O que faríamos?

Observei Camus e percebi que ele estava estático. Ele precisava se acalmar. Aquilo deve ter sido demais para ele.

– Acho que seria melhor se vocês entrassem. Assim poderemos conversar melhor. – disse.

– Não quero incomodar. – a senhora falou.

– Acho que esse assunto é um pouco delicado demais para tratarmos aqui. Talvez seria melhor nos sentar e a senhora poderá explicar tudo com mais calma. – insisti.

– Tudo bem. Acredito mesmo que será melhor para todos.

Ela concordou e eu dei espaço para que ela e o jovem passassem. Camus estava calado, apenas me deixando guiar a situação. Assim que eles adentraram a casa, Camus olhou para mim um tanto perturbado. Aquilo ia ser difícil para ele. Remexer em uma ferida que há muito já cicatrizara, realmente não era algo com o qual Camus lidaria muito bem. Apenas esperava que aquela situação pudesse seguir de maneira calma. Além do Gelinho, ainda tinha o garoto que sequer dera uma palavra.

Direcionamo-nos à sala e indicamos o sofá para que os dois se sentassem. Sentamos em duas pequenas poltronas, uma ao lado da outra, de frente para o sofá, separando-nos da senhora e do garoto por uma mesinha de centro. O garoto olhava para Camus de maneira impassível. E Camus parecia aflito com tudo. O que aconteceria dali para frente? Era isso que eu veria naquele momento.

– Perdoe-me a pergunta indiscreta, mas qual o relacionamento de vocês dois? – a senhora perguntou, curiosa.

– Somos casados. – respondi simplesmente.

A senhora nos olhou um tanto espantada, para então abrir um sorriso.

– Isso é ótimo, não é Hyoga? – ela segurou a mão do jovem que apenas lhe sorriu docemente.

Camus e eu nos entreolhamos sem entender o motivo daquela reação.

– Perdão por isso. É que Hyoga era muito apegado à mãe e não sei se ele se daria bem caso tivesse uma madrasta. Mas com você, senhor Milo, será diferente. É até bom porque Hyoga também é homossexual.

Doce Fruto de um Passado AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora