POV Valéria
Eu fui carregada pelo senhor Milo até meu quarto. Pelos céus, eu não sabia onde enfiar minha cara! Aquilo tinha sido o máximo de contato que eu tivera com o sexo oposto em anos! Definitivamente eu não estava mais acostumada com aquelas coisas! Claro que foi extremamente gentil da parte dele, mas eu era uma senhora de idade. Ele poderia me dar uma parada cardíaca só por me fazer passar por aquela vergonha. Ri de meus pensamentos! Meu marido devia estar se remexendo no túmulo. Eu me lembrava de como ele era ciumento. Ele não podia nem sonhar que um homem, mesmo que homossexual declarado e assumido, sequer encostasse um único dedo em mim. Mas não podia deixar de dizer que aquilo foi mais emoção do que havia tido em anos. Perguntava-me se eu seria tratada assim de agora em diante. Eu não queria dar esse tipo de trabalho. E eu já tinha percebido que aqueles dois eram gentis a esse ponto. Por mais que aquilo me incomodasse, eu ainda tinha uma missão a cumprir antes de encontrar-me com meu marido e minha filha. Naquele dia, por algum milagre, sentia que Hyoga estava mais aberto ao pai. Sim, Hyoga estava bastante instável por conta da data da morte de Natássia. Ah! Lembrar daquilo era tão doloroso quanto ter descoberto sua morte naquele fatídico dia. A dor não amenizara, mesmo depois de tantos anos. Se era assim comigo, imagino com meu neto. Será que ele revivia a cena do barco naufragando? Será que ele se lembrava de detalhes? Ele era tão novinho, tinha só quatro anos. Mas, pelo sofrimento que ele demonstrava, provavelmente se lembrava de mais do que eu gostaria. Eu ficara tão feliz de vê-lo abraçado ao pai quando acordei. Por que eu tive que me lembrar? Claro que eu não queria esquecer da minha filha, mas também não queria trazer aquela dor de voltar ao olhos e coração de meu neto. E me ver triste não ajudava em nada. Logo ao me ver chorando, Hyoga já largou o pai e veio ao meu socorro. Eu não queria me tornar um empecilho para que aqueles dois se dessem bem. Será que aquilo era um aviso de minha filha? Um aviso de que eu já tinha cumprido com a promessa e estava na hora de voltar para seus braços? Eu adoraria poder vê-la novamente, mas mesmo que meu corpo pedisse por descanso, minha alma sentia que ainda não era hora. Claro que eu não controlava a vida, mas eu não queria causar mais sofrimento ao meu neto. Ainda mais tão perto da data em que sua mãe partira.
Suspirei. Eu estava um pouco cansada. Apesar da tristeza em meu coração por ter lembrado da morte de minha amada filha, o senhor Milo conseguira me animar enquanto passeávamos na torre Eiffel. Eu sempre sonhei poder conhecer um lugar como aquele junto de meu marido. Não pude realizar esse sonho enquanto ele ainda era vivo, mas pude conhecer o lugar. E o senhor Milo era uma excelente companhia. Ele conversava comigo como se eu já fosse sua querida tia ou avó. Senhor Camus era mais arredio, era mais difícil estabelecer um diálogo com ele. Mas ambos eram muito agradáveis. Realmente, estar com eles naquele dia fez a diferença. Normalmente, eu e meu neto passávamos esse dia chorando, juntos ou cada um em seu quarto. Mas, pela primeira vez, ambos formos capazes de sorrir um pouco. Graças ao senhor Milo e senhor Camus. Queria que meu neto percebesse o quão bem aqueles dois fariam em nossas vidas. Só precisávamos dar um pouco mais de espaço a eles.
Deitei em minha cama para tentar descansar um pouco. Estava me perguntando se o senhor Camus já havia chegado. Será que eles estavam conversando lá embaixo? Não dava pra ouvir nada que acontecia no andar de baixo. Minha audição não era das melhores, também. Torcia para que eles estivessem conversando e se entrosando. Sabia que Natássia estava olhando por eles. Eu tinha fé de que aqueles três seriam muito felizes. Afinal, dois deles foram tocados por um anjo, que era minha doce filha. E Milo paracia ter sua própria luz, irradiando alegria. Rezaria todos os dias para que o dia em que eles finalmente resolveriam todos os problemas chegasse logo. E se eu não vivesse para ver isso, continuaris olhando por eles, junto com minha filha e meu marido.
Ouvi batidas na porta.
- Entre. – falei, me sentando na cama novamente.
- Com licença, senhora Valéria, vim trazer seu almoço. – era o senhor Camus.
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Doce Fruto de um Passado Amargo
FanfictionCamus é um médico bem sucedido, casado com um famoso empresário. Mas nem sempre sua vida fora bela. No passado, Camus sofreu uma terrível desilusão amorosa. Anos depois ele descobre que todo o sofrimento teve um motivo. E essa descoberta lhe trazia...