O Meu Adorável Inimigo

41_ Você não tem coração.

Torry Jasper

...Tudo só piorou quando senti dedos fazendo carrinho no meu pescoço.

Eu abri a boca levemente enquanto observava o Thales inclinar um pouco a cabeça para o lado e me encarar com admiração.

Arrepios passaram pelo meu corpo enquanto sentia a minha barriga revirar. Essa caganeira passa nunca...

- Eu quero você... bem longe de mim. - Sussurei e o carrinho no meu pescoço parou e eu quase pedi para continuar. - Pode falar para Ana Liz procurar outra amiga, porque eu estou fora. - Cuspi e o Thales travou a mandíbula.

A sua fúria voltou e pareceu ter aumentado. Patético.

- O Levi estaria decepcionado por saber no que a sua irmã se transformou, numa pessoa sem coração. - Cuspiu de volta desta vez conseguindo quebrar a minha armadura e atingir directamente o meu coração.

- O quê... não... - Falei atordoada, desta vez ele conseguiu tocar onde mais me dói. No Levi.

O meu coração parecia querer sair do meu peito. Eu não sentia o chão, era como se eu estivesse flutuando sobre a minha dor.

Merda, eu não posso ficar deste jeito.

A minha dor foi rapidamente substituída por ódio quando eu me dei conta de quem estava à minha frente. Travei a mandíbula cerrando os punhos.

- Me solta. - Eu empurrei o Thales conseguindo fazer com que o mesmo se afastasse. Afastei os cabelos para trás enquanto encarava o Thales enfurecida. - Inútil, insensível, banal. - Xinguei e ele soltou uma pequena risada.

- Eu, insensível? É sério isso? - Perguntou com deboche.

- Vai a merda. - Insultei entredentes.

- Que coincidência. - Juntou as mãos sorrindo falsamente. - Eu estou a frente dela nesse momento.

- Seu... - Thales pegou o meu punho antes que fosse para o seu rosto.

- Não me bata, querida, se não eu fico duro. - Provocou.

- É sério mesmo que vocês não conseguem ficar um momento sem brigar? - Perguntou Quinlan na porta.

Eu bufei soltando o meu punho do apego do Thales e andei em direção a porta.

Quinlan se afastou para me deixar passar.

- Faça terapia para não infernizar a vida de quem não tem nada haver com os seus problemas. - Foi a última coisa do Thales que ouvi antes de sair da sala.

Eu andava a passos fundos, irritada, procurando alguém para aliviar essa irritação que o Thales criou.

Merda, merda, merda...

Eu estava pouco me importando com os alunos que estavam me encarando. Thales sempre passa dos limites comigo e sempre consegue esgotar toda a minha paciência.

Viro para o outro corredor ainda andando a passos fundos. Vou acabar destruindo esse chão.

Não foi nem necessário entrar na sala porque a Barbie estava na porta, de costas para mim e conversando com uma garota.

Assim que eu cheguei perto dela, eu segurei o seu braço com força a fazendo me encarar assustada.

- O que... - Ela não conseguiu terminar de falar pois eu a cortei.

- Qual é o seu problema? - Perguntei irritada apertando ainda mais o braço da Ana Liz.

- Você está me machucando... - Falou baixinho enquanto se contorcia. Eu não estava pensando direito no que estava fazendo, a dor e a raiva me dominaram completamente.

- Porquê você mandou o Thales falar comigo? - Aumentei o tom de voz. As pessoas naquele corredor já estavam com os olhos fixos na gente.

Foda-se.

Ana Liz franziu o cenho confusa.

- Do que você está falando? - Em resposta a sua pergunta eu apertei ainda mais o seu braço e ela apertou os olhos com força. - Torry, é sério, você está me machucando.

- Ele me falou que você estava mal porque eu falei que...

Ela me interrompeu.

Ela abriu os olhos e lágrimas ameaçavam cair, ela estava com muita dor. Eu nunca tinha visto a Ana Liz assim.

- Eu não sou sua amiga? - Perguntou e eu senti o meu coração apertar. - Eu estou mal sim... - Confessou com a voz quase cortada pelo choro.

A minha garganta dóia, e muito. Era como se eu quisesse chorar mas algo estava impedindo de fazer isso. Eu estava impedindo isso.

Chorar é demonstrar fraqueza e eu não sou fraca.

Eu sabia que eu estava encarando a Ana Liz com indiferença mesmo não querendo.

- A culpa agora é minha? - Minha voz soou fria e muito assustadora. Ana Liz negou com a cabeça como se estivesse negando pra si mesma que eu estava falando aquilo. - Eu te falei que eu não faço amizades, que eu sou sozinha. Eu falei que ia ficar decepcionada comigo por eu não me tornar naquilo que você tanto queria, e o que você fez? Você falou que ia adorar as minhas decepções. E agora eu te pergunto: está adorando as minhas decepções? - Soltei e observei uma lágrima escorrer na bochecha da Ana Liz.

- Eu pensei que eu fosse mudar isso... - Soltou com a voz chorosa e eu senti algo se quebrar no meu peito.

- Mudar oquê, Ana Liz? Ah, por favor. - Falei indignada.

Ana Liz estava conhecendo o pior de mim. O pior que o meu pai tanto falava. Ele com certeza deve estar rindo no inferno.

Mas esse era o meu pior. Eu não estava disposta a sofrer por alguém.

Eu parto laços, corações, o que for preciso para não me machucar.

E nesse momento eu estava partindo o coração da pessoa que mais demonstrou afecto por mim. Isso não estava doendo?

- Nossa, você conseguiu mesmo me machucar, amiga. - A sua última palavra foi a que mais me tocou. O aperto em seu braço estava sumindo aos poucos. - Você não tem coração, Torry. - Despejou incrédula. - Mas não se preocupe, eu não voltarei a ficar perto de você. Escute bem, agora você está apagada da minha vida. - Eu soltei o seu braço que agora estava com marcas dos meus dedos.

- Eu sempre estive apagada, só você que não queria ver isso. - Falei e a Ana Liz negou com a cabeça antes de entrar na sala e fechar a porta.

Eu fiquei ali parada enquanto escutava alguns murmúrios daqueles idiotas. "Ela é má", "Coitada da Ana Liz", "Eu quero ela comigo", "Ainda bem que alguém conseguiu acabar com o mundo cor de rosa da Ana Liz".

Eu não quis ouvir mais nada e então saí de lá.

O meu coração dóia e penso no que o Thales falou. O Levi com certeza está mais decepcionado e a dor no meu coração só confirma isso.

Continua

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:(