46_ Você dormiu aqui?

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Torry Jasper

...porque o Thales segurou os meus braços me abraçando em seguida.

As minhas mãos estavam tremendo se recusando a abraçar o Thales de volta. Eu soltei a respiração que eu nem sabia que estava prendendo quando o Thales se afastou e abriu a porta do seu carro para que eu entrasse.

Eu entrei no carro, hesitante. Era a segunda vez que eu entrava nele e ele ainda tinha o mesmo cheiro. O Thales entrou no carro e deu partida, não se importando com o facto que eu estava encharcada, molhando o seu assento. Ele nem por isso, apenas a sua camisa estava molhada, a calça nem tanto.

O caminho todo eu fiquei abraçando o meu corpo e observando as ruas agora iluminadas. Fico aliviada por ter luz na cidade, eu não suportaria ficar no escuro enquanto trovejava e nem ao menos conseguiria dormir por conta dos meus sonhos. Os comprimidos que eu joguei fora nesse momento fazem falta.

O Thales estacionou o carro à frente da casa dos meus tios e abriu a porta descendo do mesmo. Ele deu uma volta e meia e abriu a porta para eu descer e assim o fiz, sentindo um constrangimento. Era estranho o Thales abrir a porta para mim.

Eu desci do carro sem falar nada e o Thales abraçou o meu corpo contra o seu peito me levando para dentro da casa dos meus tios.

A porta nem mesmo estava trancada, graças a Deus não entrou ninguém. O Thales sem soltar uma palavra fechou a porta e nós andamos até as escadas, subindo as mesmas.

Entramos no meu quarto que estava escuro mas logo foi preenchido pela luz graças ao Thales. Ficamos ali, no meio do quarto, em silêncio. Thales voltou o olhar para mim e calmamente segurou os meus ombros com as suas enormes mãos e eu quase me amaldiçoei por estar tremendo e sequer ter coragem de olhá-lo.

Em outros momentos, eu estaria o confrontando mas agora, não consigo. Eu estou com vergonha.

A minha blusa estava tão molhada que colava o meu corpo fazendo com que os meus mamilos aparecessem.

- Acho melhor você tomar um banho e trocar de roupa, antes que pegue um resfriado. - Aconselhou com a voz rouca e eu assenti.

Eu me afastei do Thales e caminhei até ao banheiro. Assim que entrei no mesmo, fechei a porta rapidamente.

Tapei a boca e chorei copiosamente.

Vinte minutos depois eu saí do banheiro com um novo pijama. Uma blusa e um calção. Eu engoli em seco quando avistei o Thales parado na janela de costas para mim.

Acho que ele sentiu a minha presença pois ele se virou para mim e eu estremeci. Eu abri a boca várias vezes para falar mas simplesmente as palavras não saíam, eu sequer sabia o que falar.

O Thales se aproximou lentamente de mim e quando finalmente chegou perto eu prendi a respiração. Eu de certeza não estou gostando do efeito que ele está causando em mim.

- Você se sente melhor? - Perguntou e eu mordi o lábio inferior.

Agora você vai sentir a dor de perder alguém.

Eu não posso chorar.
Eu não posso chorar.
Eu não posso...

A dor que eu senti quando você matou o meu filho.

Eu tenho que ser forte.

Por que você foi ter uma filha como aquela?

As minhas pernas fraquejaram e eu não consigui evitar o choro. Eu desabei.

Eu sou uma pessoa horrível.

O Thales me envolveu nos seus braços e me levou até a cama. Ele deitou do meu lado e acariciou o meu cabelo numa tentativa de me acalmar. Eu estava sendo uma estúpida por não conseguir parar de chorar. Monstros não choram.

Eu soltei um gritinho e apertei os lençóis da cama quando soaram trovões.

- Está tudo bem. - Sussurou Thales ainda com os movimentos nos meus cabelos.

Não, não está tudo bem e só eu sei disso.

[...]

Um ar quente bate contra a minha bochecha e algo duro toca a minha bunda. Franzi ainda mais o cenho quando senti um braço em volta da minha cintura.

Abri os olhos assustada e rapidamente pulei da cama, encarando o Thales deitado na mesma. O mesmo gemeu passando as mãos pelo rosto. Ok, eu acordei ele mas o que ele faz aqui?

- O que aconteceu? - Perguntou com a voz rouca se sentando na cama. Eu desci o olhar pelo seu peito nu e fiquei ainda mais confusa.

O Thales dormiu comigo?

Memórias da noite passada invadiram a minha mente.

- Você dormiu aqui? - Perguntei perplexa e ele sentou na cama se espreguiçando em seguida.

O meu olhar caiu sobre o seu peito nu e a tatuagem de aranha ganhou a minha atenção. Ela era tão linda que chegava a ser duvidoso estar no peito do Thales.

Eu sabia que nesse momento eu deveria ser o mais grossa possível. Eu sou uma ingrata mas o Thales não deveria ter se aproveitado da minha condição ontem. Eu estava tão mal que fiz coisas que jamais imaginei fazer e uma delas foi deixar o Thales conhecer o desastre que eu sou.

O quão quebrada estou.

- Eu peguei no sono. - Respondeu com a voz rouca e se levantando da cama. Quando ele deu um passo na minha direção eu recuei um passo, e percebendo o meu movimemto, ele travou e suspirou em seguida.

- Sem camisa? - Arqueei a sobrancelha e ele sorriu de lado cruzando os braços.

- Não sei se você lembra mas a minha camisa molhou quando estávamos debaixo da chuva. - Lembrou e eu fiquei tensa. - Não vai me falar porque você-

Eu o interrompi.

- Eu não tenho que te falar nada. - Falei colocando as mãos na cintura, erguendo o queixo em confronto.

- Acho que sim, porque eu te ajudei e...

- Eu não pedi a merda da sua ajuda. - Cuspi e o Thales travou o maxilar descruzando os braços.

- Quer saber? Eu deveria ter te deixado ali, com essa sua arrogância medíocre. - Despejou e eu cerrei os dentes.

- Pensei que se importava comigo... - Fiz bico debochadamente e o Thales sorriu de lado com veneno.

- Mentir é o meu forte. - Soltou e eu bufei.

Antes que eu falasse algo, a voz da minha tia soou.

- Torry, chegamos! - A voz soou lá de baixo. Eu arregalei os olhos e me aproximei do Thales.

- Você tem que ir. - Avisei e vi ele pegar a sua camisa que estava encima da minha gaveta.

Antes que ele vestisse a mesma eu o impedi.

- Você ainda quer vestir? - Perguntei incrédula e ele me encarou confuso.

- Eu sei que você adora a visão dos meus músculos mas eu não quero pegar um resfriado.

Deveria ter pensado nisso antes de a ter tirado.

Peguei a sua mão e o puxei até a janela.

- Vai embora. - Mandei e ele me encarou incrédulo.

- Por que eu não posso sair pela porta? - Perguntou colocando um pé pra fora da janela. - Oh, me deixa adivinhar... Porque você não quer que o seus tios saibam do surto que você teve ontem à noite? - Debochou e com raiva eu o empurrei.

O som do seu corpo batendo no chão soou e eu me aproximei da janela assustada. Ele estava deitado no chão e fazendo uma careta de dor.

Eu prendi a risada quando o Thales me encarou com ódio.

- Os meus sapatos. - Falou e eu arregalei os olhos. Encarei o meu quarto e vi os sapatos ao lado da cama. Peguei os mesmos e lancei da janela, acertando a cabeça do Thales que gemeu em seguida.

- Você me paga. - Articulou com os lábios e eu sorri.

A porta foi aberta e eu me virei para a mesma assustada.

Continua

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