Torry Jasper
...- A única vez que eu consegui dormir foi quando você dormiu comigo.
O Thales ergueu as sobrancelhas chocado, até eu estaria. Para alguém que eu odeio, ele consegue fazer com que eu durma melhor.
Ele não dizia nada, apenas me encarava como se estivesse processando as minhas palavras. Vendo que essa conversa ia ser cansativa, eu me sentei na mesa da carteira e descansei a minha mochila nas minhas pernas.
O Thales andou até a carteira ao lado da que eu sentei e sentou na mesa da mesma. Ele não falava nada e aquilo me deixava nervosa.
Eu bufei batendo levemente na mochila.
- Você não vai falar nada? - Perguntei frustrada e ele continuou quieto apenas me encarando.
- Então você só conseguiu dormir quando eu dormi com você? - Perguntou cruzando os braços e eu revirei os olhos.
- Eu não sei, eu não tenho a certeza. - Suspirei brincando com as minhas unhas.
Eu estava muito nervosa, eu não sentia raiva do Thales apenas vergonha.
- Que pesadelos são esses? - Perguntou e eu ergui o olhar para ele.
- Uns com a morte dos meus pais. - Contei e ele assentiu.
E com o Levi.
- Hoje eu vou dormir com você. - Decidiu e o meu coração errou uma batida.
- Não...
- Não estou pedindo, Torry. - Falou. - Temos que saber se dormir comigo acaba com os seus pesadelos.
Eu mordi o lábio inferior.
- E se sim? - Ele descruzou os braços e juntou as mãos se inclinando para frente.
- Eu me verei dormindo com você todos os santos dias. - Respondeu com um sorriso e eu senti as minhas bochechas queimarem. Eu fiquei calada trocando olhares com o Thales por minutos.
Nenhum dos dois se atrevia a desviar o olhar, aquilo era uma guerra.
Eu venci a guerra quando o Thales desviou o olhar e levantou da mesa.
- Eu tenho que ir, nos vemos no seu quarto. - Piscou para mim.
Eu segurei o seu pulso antes que ele se afastasse e ele me encarou confuso.
- Ninguém pode saber, Thales. - Avisei e ele assentiu.
- Então deixe a janela aberta para mim, querida. - Falou com um sorriso e eu soltei o seu pulso. O mesmo tirou as chaves do bolso e destrancou a porta saindo em seguida.
Eu suspirei e encostei a minha cabeça na parede.
- No que eu me meti, meu Deus?
[...]
- Então você não tem conseguido dormir desde que jogou aqueles comprimidos na privada? - Perguntou Maria Eduarda e eu passei o prato para ela que começou a passar a limpo.
Hoje é a nossa vez de lavar a louça e a Maria Eduarda decidiu me fazer perguntas sobre aquela noite mesmo depois de eu ter lhe contado tudo um dia depois. Bom, quase tudo.
Eu tinha tanto medo que a Maria Eduarda ficasse com medo de mim e pensasse que eu estava consumindo drogas que decidi esclarecer tudo. Eu apenas contei que eu tinha pesadelos com a morte dos meus pais e por isso tomava aqueles comprimidos para conseguir dormir.
Eu pedi para que ela não contasse para ninguém, então basicamente esse é o nosso segredo.
- Sim. - Respondi cansada. Acho que era a quinta vez que estávamos conversando sobre aquilo, a Maria Eduarda ficou bem curiosa sobre o assunto.
- Me desculpe, isso é culpa minha. Agora você não consegue dormir. - Ela abaixou a cabeça fazendo beiço.
- Ei. - Eu soltei o copo que estava lavando e limpei as mãos, me curvei ficando na mesma altura que a gêmea e toquei o seu queixo o erguendo para que me encarasse. A mesma estava com o semblante triste e com os olhos marejados.
As vezes esqueço que a Maria Eduarda é mais sentimental que a Maria Isis, isso é muito forte pra ela e dói a minha alma vê-la assim, se culpando por algo que ela não tem nada haver.
- Me escute bem, você não tem culpa de nada e eu vou ficar bem. - Sorri tentando acalmá-la.
- E se você não ficar bem? Não acha que nós deveríamos contar para a mamãe? - Ela perguntou e eu arregalei os olhos.
- Não, Eduarda, você prometeu! - Lembrei.
- Mas é que...
- Mas nada, eu não quero preocupar mais ninguém, Maria Eduarda. Promete pra mim que não vai contar para ninguém, por favor promete. - Insisti desesperada e ela assentiu várias vezes.
- Eu prometo, eu prometo. - Disse e eu suspirei.
- O que você está prometendo? - Perguntou a minha tia desconfiada, entrando na cozinha e eu encarei ela com um sorriso.
- Me dar um pirulito amanhã. - Respondi e a minha tia sorriu indo abrir a geladeira.
- Por quê? - Perguntou tirando a garrafa de suco e fechando a geladeira em seguida.
Eu e a Maria Eduarda nos entreolhamos.
Se ela não conseguir mentir, ela não é do meu sangue.
- Porque eu sem querer joguei a escova da Maria Isis na privada e quando eu estava tentando pegar, a Torry me encontrou e eu prometi um pirulito em troca dela ficar quieta. - Contou e eu sorri admirada.
Essa piralha sabe mentir.
A tia Julia encarou ela chocada.
- E como você vai comprar uma escova nova antes dela descobrir? - Perguntou e eu tive que rezar novamente para essa peste mentir direito.
- Eu pedi para o pai comprar. - Respondeu simples e a tia Julia ergueu as sobrancelhas.
- Oh, por isso ele saiu as pressas. - Ligou os pontos e eu franzi o cenho.
Ok, a Maria Eduarda é do meu sangue.
- Falando de mim? - Perguntou o tio Breno encostado na batente da porta nos pregando um susto.
- A quanto tempo você está aí? - Perguntou a minha tia.
- O suficiente para exigir um pirulito a Maria Eduarda. - Falou levando uma escova no ar.
Eu abri a minha boca chocada.
- Então é verdade? - Perguntei e a Maria Eduarda estreitou os olhos para mim enquanto os meus tios me encaravam confusos. Só me restou uma coisa, sorrir amarelo.
- Alguém viu a minha escova? - Perguntou a Maria Isis entrando na cozinha e rapidamente o tio Breno escondeu a escova atrás de si.
- Não. - Respondemos em uníssono.
Continua
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O Meu Adorável Inimigo
Novela JuvenilTorry Jasper talvez não tenha se animado tanto em viver com os seus tios na Califórnia, e talvez eles se surpreendam ao descobrir o quanto a sua sobrinha sofre com o seu passado. A sua vida se tornou um desastre e ainda mais quando reencontrou o seu...