66_ Eu amo ele.

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Torry Jasper

...eu matei o meu irmão.

Enquanto eu assistia os olhos do Thales se arregalarem e os seus lábios se separarem, eu sentia o calor que as suas mãos proporcionavam ao meu rosto sumir lentamente até que senti uma onda fria passar pelo meu corpo quando as mãos do Thales passaram pelos meus braços nus.

Eu suspirei me virando para frente enquanto o Thales me encarava confuso e perplexo.

- Eu não queria. - Neguei com a cabeça me encostando no travesseiro. Limpei as lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas enquanto fungava. - Eu tinha problemas no coração... - Comecei a contar. - Quando eu tinha doze anos, os meus pais descobriram que eu tinha arritmia, não era tão grave assim mas aos treze anos ela agravou-se e os médicos disseram que o meu coração não estava mais bom, eu precisava de um transplante de coração urgente. Ficamos a espera do coração durante um ano, eu achava que era o meu fim, sabe? - Sorri. - Um dia eu passei mal e fui levada para o hospital, eu estava morrendo, Thales.

O Thales ergueu as sobrancelhas desacreditado.

- Fiquei semanas internada no hospital, os meus pais, o Levi e os meus tios sempre iam me ver e mesmo fraca eu conseguia ver a dor nos seus olhos. Uma vez eu perguntei ao Levi se eu ia morrer e ele disse: Enquanto eu existir você não vai morrer, piralha. E então ele começou a chorar. Tempo depois, finalmente, apareceu um coração e eu fui operada para o transplante. Eu estava feliz por saber que eu não eu ia morrer, eu pensava que finalmente podia viver com os meus pais e o Levi sem me preocupar com o meu coração.

Soltei uma pequena risada.

- Quando me deram alta no hospital eu achei estranho pois só os meus pais foram me buscar mas eu não quis perguntar sobre o Levi pois achei que provavelmente ele estaria em casa. Nós chegamos em casa e a primeira coisa que fiz foi procurar por ele mas ele não estava lá. Quando eu perguntei a minha mãe sobre o Levi ela começou a chorar, sem entender nada eu perguntei ao meu pai o que aconteceu, ele também começou a chorar. Eu fiquei com medo, Thales, com muito medo. O meu pai andou até mim e disse: O Levi não está aqui em casa, Torry. Sabe de quem é o coração que está pulsando no seu peito? É o coração do Levi. O Levi doou o seu coração para você.

O Thales franziu as sobrancelhas me encarando chocado como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo.

Eu limpei a lágrima que escapou.

- Eu fiquei muito mal. Saber que o meu próprio irmão se sacrificou por mim é tão cruel. Eu até quis devolver o coração para ele mas já era tarde demais, eu já havia perdido ele. Me deu uma raiva saber que ele não quis nem me perguntar o que eu pensava sobre aquilo. Óbvio que eu teria negado. Ele tinha apenas 20 anos! Ainda tinha muito que viver...

- Assim como você. - A voz do Thales finalmente soou e um bolo se formou na minha garganta. Eu neguei com a cabeça.

- O meu pai não pensava como você. Ele dizia que eu era um monstro, que eu matei o filho dele, que eu era uma desgraça. - Contei e o Thales fechou os olhos com força. - Depois que o Levi morreu, ele mudou totalmente. Ele passou a me negar como filha, me olhava com desprezo, como se não suportasse me ver. Ele ficou tão abalado assim como a minha mãe, mas ao contrário dele, ela não me odiava, ela passou a me amar mais, talvez por saber que eu tinha uma parte do filho dela comigo, como se ela ainda estivesse com os seus dois filhos.

Os olhos do Thales foram abertos e pude ver que eles estavam marejados, cheios de espanto e preocupação.

- Para esquecer tudo, eu me envolvi em festas, eu bebia muito e até comecei a participar de racha de carros. Eu aprendi a dirigir com os meus dezasseis anos, e não foi o meu pai que me ensinou. Ele não quis... - Mordi o lábio inferior. - Ninguém sabia que eu dirigia, eu consegui esconder muito bem. Até agora os meus tios não sabem. O meu pai me odiava.

O Thales segurou o meu rosto com as suas mãos.

- Ele não te odiava, só estava com dor. - Disse e eu neguei a cabeça sentindo uma dor no peito.

- Ele me odiava sim. Sabe o que ele fez para que eu me sentisse ainda mais culpada? Para que eu ficasse sozinha? Para que eu sentisse a dor que supostamente eu não senti quando perdi o meu irmão? Ele matou a minha mãe e depois se matou. - Contei elevando o tom de voz e os olhos do Thales se arregalaram em desespero. - Sim, e ele conseguiu, porque caramba... Eu me sinto uma pessoa horrível.

Chorei e rapidamente o Thales me envolveu nos seus braços me abraçando com força.

De repente eu senti um alívio, um alívio que jamais imaginei sentir abraçando o Thales. O peso que eu sentia nas minhas costas não estava mais lá. O Thales me faz tão bem.

Eu amo ele. E se ele não for o amor da minha vida será a minha maior dor.

- Por favor, me abrace mais forte. - Suplicou e um beijo foi depositado logo a seguir na minha testa.

- Eu vou ser o fôlego que você precisa, eu vou respirar por nós dois. Eu prometo. - Ele sussurou com a voz arrastada e eu fechei os olhos.

Promessas são lindas mas também falsas.

Eu espero que as dele não sejam falsas.

- Você merece ser feliz, minha linda, e eu prometo que farei de tudo para que você seja.

Continua

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