42_ O que você está fazendo com a sua vida, Torry?

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Torry Jasper

- E? Como estou? - Perguntou a Maria Isis dando uma voltinha exibindo a sua calça cargo e o seu crópped. Ela estava muito linda.

- Você parece um cavalo. - Falei e ela revirou os olhos.

A porta foi aberta revelando a Maria Eduarda, que tinha em seu corpo um short e um crópped.

- Você também parece um cavalo. - Soltei enquanto a Maria Eduarda entrava no meu quarto.

- Você fala isso porque não vai. - Ela jogou na minha cara e eu encarei ela com deboche.

Eu não vou a esse show porque não quero, não estou com humor pra essas coisas.

- Porque eu não quero. - Cruzei os braços ainda sentada na cama.

- Porquê? Você sempre gostou de se divertir. - Falou Maria Isis confusa.

Eu suspirei sentindo uma dor no peito. Desde que aconteceu aquilo com a Ana Liz eu sinto que não posso respirar, mesmo não me faltando ar. É como eu estivesse prevendo algo horrível, algo que com certeza me deixará pior do que já estou.

Cruzei as pernas na cama numa tentativa de ficar em outra posição, porque eu não aguento ficar na mesma posição por dois segundos.

- Eu só não estou animada, eu quero dormir. - Falei e em seguida olhei para o relógio.

20:32.

- Meninas! - Gritou a minha tia lá da cozinha.

- Temos que ir. - Falou a Maria Eduarda se colocando de pé.

Imitei o seu movimento.

- Eu vou despedir vocês lá em baixo.

A gente saiu do quarto e descemos as escadas encontrando o tio Breno e a tia Julia na porta principal.

- Você tem certeza que não quer ir? - Perguntou a minha tia mais uma vez e eu fiz que sim.

- Eu vou ficar bem. - Falei e ela beijou o topo da minha cabeça. Com esse beijo eu pude sentir tantas emoções e o aperto no meu coração só piorava. - Quem deve se cuidar aqui, são vocês. - Falei com um sorriso, tentando fazer o máximo para eu deixar de sentir isso.

É como se estivesse me comendo por dentro.

- Até logo. - Observei os mesmos atravessarem a porta e em seguida fecharem a mesma.

Eu suspirei passando as mãos pelo meu rosto e fiquei esfregando o mesmo. Irritada, grunhi puxando os meus cabelos com força.

- Merda. - Resmunguei soltando os meus cabelos. Tento me espreguiçar mas não adianta em nada, eu ainda estou com dor. Inspiro e expiro várias vezes mas porra, não está resultando. O que está acontecendo comigo?

A única solução que tenho, é dormir. Tomar a merda dos comprimidos e dormir. Só assim isso vai passar.

Amanhã eu estarei como nova.

Da janela consigo ver um relâmpago no céu, parece que vai chover. Eu tenho medo de trovoada. Parece ridículo mas sim, eu tenho muito medo.

Subo rapidamente as escadas e entro no quarto fechando a porta atrás de mim. Mordo o lábio inferior abanando o pé incansavelmente.

Eu tenho que me apressar, eu não quero ouvir nenhuma trovoada. Eu estou morrendo de medo.

Vou até a gaveta e pego o frasco de comprimidos. Eu tirei todos da carteira e depositei no frasco, eu não gostava do som da carteira. Me enchia de arrepios.

Vou até ao banheiro e paro de frente ao espelho. Coloco os meus cabelos atrás das orelhas. Abro a torneira e lavo o rosto. Lavo com tanta força como se pudesse me aliviar. É disso que preciso, de alívio e o único que pode me dar isso é o maldito comprimido.

Eu sequer fecho a torneira, eu imediatamente pego o frasco e tiro um comprimido. Mas e se... eu tirar mais? Só pra eu dormir melhor...

Tiro mais um e não me conformando, tiro mais dois ficando assim, com quatro.

É para o meu bem.

O nosso.

Eu abri a minha boca e lentamente eu levava a minha mão até a minha boca. A minha mão tremia tanto.

Eu congelei, e não porque estava sentindo frio e sim porque a imagem da Maria Eduarda na porta apareceu no espelho. A minha respiração se tornou pesada e os batimentos cardíacos do meu coração aumentaram.

Eu estava assustada por ver a expressão assustadora e chocada que a Maria Eduarda esboçava no rosto. Eu realmente desejava que aquilo fosse um produto da minha imaginação, mas eu confirmei que não era quando virei lentamente para o lado da porta encontrando a mesma expressão assustadora e chocada da Maria Eduarda.

Eu gostaria de saber o que ela estaria pensando naquele momento. Ela não estava se mexendo e eu não sentia as minhas pernas. Será que ela pensa que eu sou uma drogada? Se for isso, por favor não.

Os comprimidos na minha mão caíram na pia quando uma lágrima escorreu da bochecha da Maria Eduarda. Naquele momento eu sentia o meu coração se despedaçando, era uma dor tão grande que eu não me importava com os comprimidos que caíam da minha mão.

A Maria Eduarda abriu a boca várias vezes pra falar mas a sua voz não saía. Eu cortei a sua voz...

Eu engoli em seco dando um passo na direção da Maria Eduarda e eu senti a minha garganta ficar seca quando a Maria Eduarda deu um passo para trás.

Ela está com medo... de mim?

Eu sentia os meus olhos arderem e eu sabia muito bem o que estava vindo mas, será que eu permitiria?

Eu não sei de mais nada.

- O que você está fazendo com a sua vida, Torry? - Aquela pergunta foi o suficiente para me quebrar.

O que eu estou fazendo com a minha vida?

- Eu... posso explicar. - A minha voz saiu trémula e eu dei alguns passos na direção da Maria Eduarda que negou com a cabeça antes de sair correndo. Eu tentei chamá-la mas eu não consegui, porque a trovoada bateu. Eu me encolhi e apertei os meus olhos com força.

Eu nunca pensei que ela me veria deste jeito, quebrada. Eu nunca permiti que alguém me visse assim, e agora que a minha prima me viu, será que ela vai contar para os meus tios?

Eu devia ir atrás dela mas eu não consigo, eu acabaria por assustá-la ainda mais. Eu sou um monstro.

Peguei no frasco que continha os comprimidos e o abri. Andei até o vaso e despejei todos os comprimidos nele, não pensei duas vezes e puxei a descarga... a água levou os meus comprimidos. Senti um bolo enorme se formar na minha garganta.

Eu não quero chorar, eu não posso chorar. Porquê isso agora? Tudo estava indo tão bem...

O diabo é real, ele não é um homenzinho vermelho, com chifres e rabo, ele é a recaída que aparece simplesmente quando tudo estava indo bem.

E agora, o que eu faço?

Continua

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:(

O Meu Adorável Inimigo Onde histórias criam vida. Descubra agora