45_ Tudo é culpa sua.

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Torry Jasper

...- Sim. Você me importa. - Respondeu rapidamente.

Eu chorei ainda mais com as suas palavras e desviei o olhar do Thales.

- Ei... - Ele tocou o meu queixo fazendo com que eu o encarasse. Com o seu polegar, ele começou a limpar as lágrimas no meu rosto. Ele fazia aquilo com tanta cautela que demorou um minuto para ele se aperceber que estava limpando as gotas da chuva.

Se eu não estivesse nesse estado eu iria anotar essa lerdeza que o Thales tem, para usar contra ele.

- Vem. - Ele abraçou a minha cintura e me ajudou a levantar. Eu já não estava soluçando apenas fungando mas eu ainda sentia uma dor enorme no coração. Eu sentia dor no joelho, acho que deve ter ficado ralado com a queda.

Esse calção de pijama não ajudou muito.

Eu estava tremendo nos braços do meu inimigo, ele podia perfeitamente usar isso contra mim mas eu não estava disposta a permitir isso. Eu não sou uma garota frágil.

Antes que o Thales abrisse a porta do carro eu me afastei dele bruscamente. Eu me odeio mas não ao ponto de deixar que o meu inimigo ache que eu sou fraca.

O meu corpo queimou sob o olhar preocupado do Thales, porque pela primeira vez, era como se ele não me enxergasse. Ele não via os meus olhos, apenas o desespero neles e as lágrimas que caíam. Ele não via as minhas mãos, apenas o pânico que fazia elas tremerem. Ele não via as minhas pernas, apenas o sangue que escorria dos meus joelhos.

E pela primeira vez, ele me enxergou. Ele viu, finalmente, o caos que eu sou. Ele sabe por fim que não sou apenas uma confusão mas também uma quebrada.

Eu esperei que ele fosse embora, como os meus pais foram, porque assim que ele viram o quão quebrada eu era, eles se foram.

Mas o olhar do Thales apenas se afundou na preocupação, as mãos pulando para os meus braços, me segurando como se ele tivesse medo que eu estivesse prestes a evaporar.

O meu corpo tremeu, e esse acto só fez o Thales colocar as mãos no meu rosto, não se importando com as minhas lágrimas molhando as suas mãos. Como não se importava em ficar molhado com a chuva apenas por mim.

- O que houve? - Ele perguntou, com a sua voz fraca com a incerteza. Ele não sabia o que fazer, ou o que dizer, então ele apenas me segurou, mesmo quando eu tentei empurrar ele.

Em completo desespero, eu agarrei os seus braços, e cravei as minhas unhas na sua pele tentando tirar as suas mãos de mim.

Eu tinha mais medo por ele. Que eu o quebrasse para além do reparo.

O ar passou pela minha garganta e pulmões como se fosse agulha, me fazendo sentir falta de quando o oxigénio se recusava a me encontrar. Os dedos do Thales fizeram carinho no meu rosto. O seu olhar em mim se tornava cada vez mais preocupado a cada segundo que passava, como se ele não conseguisse suportar o que via.

- Me deixe te ajudar. Me diga o que aconteceu. - Implorou.

Ele me olha como se eu fosse algo bom. Como se eu não merecesse que todas coisas horríveis que passei. Como se eu não merecesse todas as coisas horríveis que o meu pai já me falou. Como se eu merecesse coisas boas.

- Eu preciso que você se afaste. - Tentei avisar, cravando as minhas unhas nos seus braços mais uma vez.

Eu podia ver as marcas vermelhas de sangue se formando na sua pele, mas mesmo assim, ele não me soltava. 

- Você está sangrando. - Ele lembrou confuso. - Eu não posso te deixar assim e aqui, molhando com essa chuva.

Por que ele não me escuta?

- Você também está molhando. - Falei irritada e o Thales ergueu o olhar para o céu.

- É, estou. - Falou quase com ironia.

Por que ele não me escuta?

Aproveitando a distração do Thales, tirei as suas mãos de mim e me afastei dele. O seu olhar voltou para mim mas já era tarde demais. Ele conseguiu me alcançar, me virando e puxando para perto dele.

Por que ele não me escuta?

Eu só preciso que ele se afaste de mim.

- Sai de perto de mim. - Avisei uma última vez, o meu corpo começando a tremer de irritação.

- Torry, eu prometo que eu só quero te-

- Por que não consegue me escutar? - Explodi.

Thales me encarava como se não soubesse o que fazer, o que só me irritava ainda mais.

- Eu não sou a merda de um brinquedo quebrado que você pode consertar só pra depois usar isso pra me quebrar de novo. - Cuspi, não conseguindo parar. - Eu quero que você e essa sua intenção estúpida vão se foder.

- Você está irritada-

- Talvez você precise de ajuda pra ver quem eu realmente sou. - Me aproximei semicerrando os olhos pela ira.

Talvez ele precise entender porque o meu pai não me aceitava como filha.

- Eu te odeio com todas as minhas forças. - Cuspi.

O Thales permaneceu em silêncio com uma expressão indecifrável.

- Você é o pior que podia ter me acontecido. Tudo é culpa sua. - Despejei. - Eu odeio ser a sua vizinha. Eu odeio estar na mesma escola que você. Eu odeio estar na mesma sala que você. Eu odeio tudo que tem haver com você!

- Tá tudo bem. - O Thales assentiu, cruzando os braços na frente do seu peito. - Você se sente melhor? Dizer isso te faz se sentir melhor? - Questionou, a sua voz calma.

A sua falta de reação esmagou o meu peito e a minha mente, apenas aumentando a minha irritação.

Eu apenas quero machucar ele.

- Sim. - Sorri amargamente. - Você não passa de um fodido.

- Você realmente acha que dizer algumas palavras para alguém, para afastar a pessoa, você vai se sentir melhor? - Ele ergueu as sobrancelhas em questão.

Eu mordi o lábio inferior sabendo que a resposta era sim. Sim, dizer palavras para afastar alguém faz com que eu me sinta melhor.

E isso dói.

Eu comecei a chorar, e eu só não fui directamente para o chão porque o Thales segurou os meus braços me abraçando em seguida.

Continua

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