48_ Acho que estamos trancados.

259 24 2
                                    

Torry Jasper

...incerteza, descrença e finalmente, medo.

Eu desviei o olhar da Ana Liz e enxuguei as lágrimas o mais rápido que pude. Abri a torneira começando a lavar o rosto.

Eu vou fingir que nada disso aconteceu e ignorar a presença da Ana Liz, espero que ela faça o mesmo.

Senti uma mão no meu ombro e rapidamente eu me afastei da Ana Liz.

- Torry, você está bem? - Perguntou e eu engoli em seco. Ela me encarava apreensiva e aquilo não era legal. Eu não gosto que as pessoas me encarem com pena, por isso eu não quis falar com ninguém no enterro dos meus pais.

Eu limpei o rosto e voltei o meu olhar para a Ana Liz que se encontrava na mesma posição.

- Eu estou óptima. - Menti.

- Tem certeza? - Perguntou e eu quase revirei os olhos. Aquilo estava me irritando. Por que todo mundo resolveu se intrometer na minha vida? Se fosse o Justin tudo bem...

- É claro que eu tenho certeza. O quê? Não vai me dizer que nunca viu uma pessoa descontar a sua raiva no espelho do banheiro do colégio? - Perguntei irônica e ela negou com a cabeça. - Se acostume então, porque acho que vou continuar fazendo isso já que ultimamente a raiva tem sido o meu único sentimento. - Soltei amargamente e a Ana Liz suspirou.

- Não vai me dizer o que está acontecendo? - Perguntou e eu desviei o olhar para o chão do banheiro — que inclusive está muito limpo, as tias de limpeza merecem um aumento —, passando a língua pela minha bochecha. - Torry, você não conversa, não se abre com ninguém. Você se isola e não deixa ninguém te ajudar. É fechada pra caralho sobre suas dores. - Falou e eu a encarei arqueando a sobrancelha.

- Um minuto comigo no banheiro e conseguiu finalmente saber como eu realmente sou? Nossa, parabéns. - Sorri e ela abaixou a cabeça suspirando.

- Quer saber? - Voltou o olhar para mim. - O melhor que podia ter me acontecido, foi nunca ter me tornado a sua amiga. - Despejou e eu senti como se algo tivesse acabado de perfurar o meu coração.

Aquilo doeu.

A porta foi aberta por uma garota que assim que nos viu revirou os olhos.

- O que vocês estão fazendo? - Perguntou.

Eu peguei a minha mochila.

- Mamando o seu pai. - Falei antes de passar por ela e esbarrar no seu ombro.

[...]

- Só mais um mês, alunos. - Falou a professora de artes antes de sair da sala.

Eu suspirei aliviada e comecei a arrumar o meu material na pasta. Eu ainda não sei o que vou desenhar mas eu tenho pensado em desenhar o pingente que o Levi me deu. É muito especial para mim.

Assim que levanto o olhar eu fico surpresa por não ver ninguém na sala. Todos se foram. Levanto da carteira e ando até a porta, eu luto um pouco para abrir a mesma mas não abre, a porta está trancada.

Merda, por que essas coisas só acontecem comigo? Será que por eu estar assim eles não notaram a minha presença?

- Socorro. - Grito batendo a porta mas não recebo nenhum sinal. Suspiro frustrada e bato a porta com força.

- Assim você vai acabar por quebrar a porta, querida.- Uma voz masculina chega aos meus ouvidos causando arrepios até a minha espinha.

Me viro perplexa encontrando o Thales sentado na mesa do professor, me encarando com os braços cruzados. O meu estômago embrulhou quando os nossos olhares se cruzaram.

- O que você... - Eu parei de falar quando o Thales simplesmente levou a mão no ar abanando uma chave que ele logo as levou até ao bolso da sua calça.

- Acho que estamos trancados. - Sussurou e eu ergui as sobrancelhas chocada. O capucho do seu moletom preto caiu da sua cabeça revelando os seus cachos.

- Você é maluco? - Perguntei indignada. O Thales realmente trancou a gente na sala. Esse garoto não podia ser um pouco normal?

Ele levantou da mesa e andou passos lentos em minha direção. A cada passo, o meu coração tinha uma batida diferente.

Eu não me movi nem um centímetro, ao contrário, eu permaneci na mesma posição, e não porque queria confrotá-lo mas sim porque simplesmente as minhas pernas deixaram de receber os meus comandos. Eu engoli em seco quando o Thales finalmente chegou até mim ficando muito próximo.

- Talvez, mas a pergunta seria: por quem o Thales Williams é maluco? - Falou levando uma das suas mãos até aos fios do meu cabelo e aproximando o seu rosto para perto do meu ouvido me deixando tensa. - E acho que já temos a resposta, querida. - Falou com a voz arrastada e uma chuva de arrepios percorreu pelo meu corpo.

Os arrepios só aumentaram quando o cheiro do seu perfume penetrou as minhas narinas e ele cheirou intensamente o meu pescoço.

Eu odeio as piadinhas do Thales.

- Pare. - Mandei sentindo os meus lábios tremerem. Os dedos que estavam brincando com os fios do meu cabelo simplesmente pararam. - Se afaste. - Ele se afastou e eu quase pedi para ele voltar. Eu realmente deveria considerar ir para o hospício.

Thales parou a pouco centímetros de mim fixando os seus olhos dourados nos meus.

- Por que você nos trancou? - Perguntei séria e ele analisou todo o meu corpo sem reação fazendo com que eu me sentisse nua.

- Você não está bem. - Disse e eu franzi o cenho.

- Sério? Eu não sabia. - Falei sarcástica e ele continuou me encarando com o rosto neutro.

- Eu não me esqueci daquela noite, Torry. - Falou e eu engoli em seco. - A imagem de você na estrada debaixo da chuva, descalça e chorando ficou fixada na minha mente. - Desta vez ele me encarou apreensivo. - O que aconteceu pra você ficar daquele jeito?

Eu apertei os punhos.

- Me deixe sair. - As minhas pernas estavam tremendo.

- A Ana Liz me contou que te viu no banheiro, batendo no espelho e chorando. - Contou e eu arregalei minimamente os olhos.

Fofoqueira.

- E eu estive observando você essa toda semana, você está com olheiras. Não está dormindo direito? - Perguntou e eu recuei um passo sentindo arrepios assim que as minhas costas tocaram a porta gélida.

A minha máscara estava caindo aos poucos, o meu mundo estava desmoronando. Não vai demorar muito para as pessoas descobrirem realmente quem eu sou.

- Me diga o que está acontecendo para que eu possa te ajudar. - Pediu com as sobrancelhas juntas demonstrando preocupação.

O Thales estava disposto a me ajudar e eu a ficar bem, então agora eu só podia fazer algo.

- Eu não consigo dormir porque eu tenho tido pesadelos. - Contei sem desviar o olhar do Thales. - A única vez que eu consegui dormir foi quando você dormiu comigo.

Continua

---

o se esqueçam de marcar na estrelinha ;)

O Meu Adorável Inimigo Onde histórias criam vida. Descubra agora