Torry Jasper
...incerteza, descrença e finalmente, medo.
Eu desviei o olhar da Ana Liz e enxuguei as lágrimas o mais rápido que pude. Abri a torneira começando a lavar o rosto.
Eu vou fingir que nada disso aconteceu e ignorar a presença da Ana Liz, espero que ela faça o mesmo.
Senti uma mão no meu ombro e rapidamente eu me afastei da Ana Liz.
- Torry, você está bem? - Perguntou e eu engoli em seco. Ela me encarava apreensiva e aquilo não era legal. Eu não gosto que as pessoas me encarem com pena, por isso eu não quis falar com ninguém no enterro dos meus pais.
Eu limpei o rosto e voltei o meu olhar para a Ana Liz que se encontrava na mesma posição.
- Eu estou óptima. - Menti.
- Tem certeza? - Perguntou e eu quase revirei os olhos. Aquilo estava me irritando. Por que todo mundo resolveu se intrometer na minha vida? Se fosse o Justin tudo bem...
- É claro que eu tenho certeza. O quê? Não vai me dizer que nunca viu uma pessoa descontar a sua raiva no espelho do banheiro do colégio? - Perguntei irônica e ela negou com a cabeça. - Se acostume então, porque acho que vou continuar fazendo isso já que ultimamente a raiva tem sido o meu único sentimento. - Soltei amargamente e a Ana Liz suspirou.
- Não vai me dizer o que está acontecendo? - Perguntou e eu desviei o olhar para o chão do banheiro — que inclusive está muito limpo, as tias de limpeza merecem um aumento —, passando a língua pela minha bochecha. - Torry, você não conversa, não se abre com ninguém. Você se isola e não deixa ninguém te ajudar. É fechada pra caralho sobre suas dores. - Falou e eu a encarei arqueando a sobrancelha.
- Um minuto comigo no banheiro e conseguiu finalmente saber como eu realmente sou? Nossa, parabéns. - Sorri e ela abaixou a cabeça suspirando.
- Quer saber? - Voltou o olhar para mim. - O melhor que podia ter me acontecido, foi nunca ter me tornado a sua amiga. - Despejou e eu senti como se algo tivesse acabado de perfurar o meu coração.
Aquilo doeu.
A porta foi aberta por uma garota que assim que nos viu revirou os olhos.
- O que vocês estão fazendo? - Perguntou.
Eu peguei a minha mochila.
- Mamando o seu pai. - Falei antes de passar por ela e esbarrar no seu ombro.
[...]
- Só mais um mês, alunos. - Falou a professora de artes antes de sair da sala.
Eu suspirei aliviada e comecei a arrumar o meu material na pasta. Eu ainda não sei o que vou desenhar mas eu tenho pensado em desenhar o pingente que o Levi me deu. É muito especial para mim.
Assim que levanto o olhar eu fico surpresa por não ver ninguém na sala. Todos se foram. Levanto da carteira e ando até a porta, eu luto um pouco para abrir a mesma mas não abre, a porta está trancada.
Merda, por que essas coisas só acontecem comigo? Será que por eu estar assim eles não notaram a minha presença?
- Socorro. - Grito batendo a porta mas não recebo nenhum sinal. Suspiro frustrada e bato a porta com força.
- Assim você vai acabar por quebrar a porta, querida.- Uma voz masculina chega aos meus ouvidos causando arrepios até a minha espinha.
Me viro perplexa encontrando o Thales sentado na mesa do professor, me encarando com os braços cruzados. O meu estômago embrulhou quando os nossos olhares se cruzaram.
- O que você... - Eu parei de falar quando o Thales simplesmente levou a mão no ar abanando uma chave que ele logo as levou até ao bolso da sua calça.
- Acho que estamos trancados. - Sussurou e eu ergui as sobrancelhas chocada. O capucho do seu moletom preto caiu da sua cabeça revelando os seus cachos.
- Você é maluco? - Perguntei indignada. O Thales realmente trancou a gente na sala. Esse garoto não podia ser um pouco normal?
Ele levantou da mesa e andou passos lentos em minha direção. A cada passo, o meu coração tinha uma batida diferente.
Eu não me movi nem um centímetro, ao contrário, eu permaneci na mesma posição, e não porque queria confrotá-lo mas sim porque simplesmente as minhas pernas deixaram de receber os meus comandos. Eu engoli em seco quando o Thales finalmente chegou até mim ficando muito próximo.
- Talvez, mas a pergunta seria: por quem o Thales Williams é maluco? - Falou levando uma das suas mãos até aos fios do meu cabelo e aproximando o seu rosto para perto do meu ouvido me deixando tensa. - E acho que já temos a resposta, querida. - Falou com a voz arrastada e uma chuva de arrepios percorreu pelo meu corpo.
Os arrepios só aumentaram quando o cheiro do seu perfume penetrou as minhas narinas e ele cheirou intensamente o meu pescoço.
Eu odeio as piadinhas do Thales.
- Pare. - Mandei sentindo os meus lábios tremerem. Os dedos que estavam brincando com os fios do meu cabelo simplesmente pararam. - Se afaste. - Ele se afastou e eu quase pedi para ele voltar. Eu realmente deveria considerar ir para o hospício.
Thales parou a pouco centímetros de mim fixando os seus olhos dourados nos meus.
- Por que você nos trancou? - Perguntei séria e ele analisou todo o meu corpo sem reação fazendo com que eu me sentisse nua.
- Você não está bem. - Disse e eu franzi o cenho.
- Sério? Eu não sabia. - Falei sarcástica e ele continuou me encarando com o rosto neutro.
- Eu não me esqueci daquela noite, Torry. - Falou e eu engoli em seco. - A imagem de você na estrada debaixo da chuva, descalça e chorando ficou fixada na minha mente. - Desta vez ele me encarou apreensivo. - O que aconteceu pra você ficar daquele jeito?
Eu apertei os punhos.
- Me deixe sair. - As minhas pernas estavam tremendo.
- A Ana Liz me contou que te viu no banheiro, batendo no espelho e chorando. - Contou e eu arregalei minimamente os olhos.
Fofoqueira.
- E eu estive observando você essa toda semana, você está com olheiras. Não está dormindo direito? - Perguntou e eu recuei um passo sentindo arrepios assim que as minhas costas tocaram a porta gélida.
A minha máscara estava caindo aos poucos, o meu mundo estava desmoronando. Não vai demorar muito para as pessoas descobrirem realmente quem eu sou.
- Me diga o que está acontecendo para que eu possa te ajudar. - Pediu com as sobrancelhas juntas demonstrando preocupação.
O Thales estava disposto a me ajudar e eu a ficar bem, então agora eu só podia fazer algo.
- Eu não consigo dormir porque eu tenho tido pesadelos. - Contei sem desviar o olhar do Thales. - A única vez que eu consegui dormir foi quando você dormiu comigo.
Continua
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O Meu Adorável Inimigo
Novela JuvenilTorry Jasper talvez não tenha se animado tanto em viver com os seus tios na Califórnia, e talvez eles se surpreendam ao descobrir o quanto a sua sobrinha sofre com o seu passado. A sua vida se tornou um desastre e ainda mais quando reencontrou o seu...