1|"You are going to marry a prostitute!"

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[HARRY]

O silêncio era ensurdecedor.

Mas o barulho incomodava-me.

E só um anjo me podia salvar do que iria acontecer a seguir: enfrentar o meu pai.

Rodei um dos meus anéis nos meus dedos. E ainda fiquei mais nervoso quando as portas do elevador se abriram. Eu sabia que o que tinha feito ontem era desprezível e, para o meu pai, era quase como se fosse um crime.

Respirei fundo, olhando para os meus sapatos. Os seguranças abriram as portas, indicando-me para entrar. Fechei os olhos e dei dos passos. Os passos que bastaram para entrar no escritório do diabo.

As portas voltam a ser fechadas e, naquele majestoso escritório só restavam duas pessoas: o predador: o meu pai; e a presa: eu.

- Senta-te, Harry. – A sua voz soa.

Abri os olhos e andei até às cadeiras em frente à sua grandíssima secretária, arrastando uma e sentando-me. Ainda não tive coragem suficiente para olhar para ele. Provavelmente está a dar-me aqueles olhares que são capaz de te sentir julgado ou morto. Depende da situação. E acreditem, esta é grave. Muito grave. Pelo menos, para o meu pai. Ouço-o a suspirar e a sua cadeira rola para trás. Os seus passos ecoam pelo escritório, fazendo o cenário parecer ainda mais assustador. Ganho coragem e subo o olhar, apenas para o ver de mãos nos bolsos, de costas voltadas para mim e de olhos postos na cidade de Los Angeles, através da janela que fazia de parede. Controla-te, Harry.

- Diz-me, Harry, eu sou um mau pai? – Ele volta-se de repente, fazendo-me arregalar os olhos e baixar a cabeça novamente. – Olha para mim! – Manda e eu obedeço. Merda, eu quase que borro a cueca, quando ele me olha com aquela cara de mau. – Eu sou um mau pai? – Pergunta novamente.

- N-não. – Respondo baixinho.

- Hm. – É tudo o que diz, ou pelo menos emite aquele som que as pessoas fazem quando não têm resposta ou estão desinteressadas. Neste caso, nenhuma das duas. Sabem? Às vezes penso que o meu pai é um E.T. Isso é preocupante? – E, mais uma vez, voltaste a fazer porcaria e o pai está cá para pagar os estragos que o menino faz. – Fala. Engulo em seco e espero, porque sei que o seu discurso não vai acabar ali. – Harry, tu sempre foste um miúdo mimado e o querido da tua mãe. Era ela que te protegia, era ela que te acolhia nos braços, cada vez que eu impunha uma ordem que não gostavas. Lá estava a Anne para abrir os braços, sentar-te ao colo dela e embalar-te, até adormeceres. Que seja feita à vossa vontade, não é Harry?

- Pai, eu juro. Foi a última vez! – Tento. – Por favor-

- Disseste isso nas duas últimas vezes e adivinha? Ainda não vi melhoramentos nenhuns!

- Pai-

- Tu tens a noção do que fizeste, ao menos? – Ele suspira, passando a mão pela cara, em frustração.

- Tenho. – Admito.

- Ótimo. Porque desta, não te vais safar.

- Pai-

- Ainda não acabei! – Ele arregala-me os olhos, fazendo-me encolher. – Se é essa vida que queres levar, tudo bem.

- O que vai fazer? – Perguntei, quase a borrar a cueca.

- Eu? – Ele aponta com um dedo para o peito e ri. Oh Deus, é o seu riso maléfico. Não é bom sinal. – Primeiro, vais começar a trabalhar para mim. Segundo, queres andar metido com prostitutas? Escolha tua, mas vais ter que escolher uma para casar.

- C-casar? Com uma prostituta?

- Já percebi que é o teu tipo favorito de mulher.

- É só uma noite.

- Não interessa, Harold! – Oh merda, quando ele me chama Harold, é quando a coisa está mesmo preta. – Eu não andei a trabalhar uma vida inteira para ter esta fortuna e agora, ter um filho que a esbanja em drogas e putas! – Quase grita. – Harry, esta empresa precisa de um pessoa responsável que tome conta dela e que gira as contas como deve de ser. Tu és o herdeiro deste império, Harry! – Ele abre os braços, olhando à sua volta. – Filho, nós vamos fazer um acordo. – Anda até à sua cadeira e senta-se, puxando-se para a frente e apoiando os cotovelos em cima da mesa, entrelaçando os seus dedos.

- Diga, pai.

- Tu vais ser o dono disto tudo, mas primeiro, vais ter que arranjar uma mulher que saiba como te controlar. A ti e aos teus vícios. Depois, casas-te e, quando finalmente tudo tiver assente, quando tu tiveres assente, eu passo-te a empresa para as mãos.

- Mas-

- Mas! – Ele levanta o seu dedo. – A tua mulher vai ser uma prostituta.

- Não posso simplesmente arranjar uma ao meu gosto?

- E não é? – Levanta-me uma sobrancelha, fazendo-me fechar a boca. – Hoje de manhã, quando cheguei ao teu quarto, estava uma na tua cama. E, pelas minhas contas, só esta semana, foram 4.

- Foram-

- 4, contando com aquela que saiu pela janela do teu quarto no domingo à noite, para que eu não soubesse. – Fodasse, não lhe escapa nada. Suspiro alto.

- Por favor pai, eu imploro-lhe.

- É pegar ou largar, Harry. – Fecho os olhos e suspiro.

- E a Gemma?

- É casada e boa rapariga. – Responde-me, olhando para o seu computador. – Harry, eu não vou viver para sempre, para pagar a porcaria que fazes! Ainda se escolhesses umas como deve de ser, não! Escolhes prostitutas, Harry! Onde é que eu falhei? Sou assim tão mau pai?

- Desculpe, pai. – Sussurrei.

- É bom que sim. – Respondeu-me num tom seco. – Agora, vais levantar-te daí e vais fazer valer o teu dia. Começas a trabalhar aqui amanhã. Hoje, vais começar à procura de mulher.

- Eu-

- E não quero qualquer uma, Harold. Quero uma rapariga como deve de ser. Já tens 21, já sabes escolher! Tens até à festa da empresa.

- Até à festa da empresa? Isso é uma semana! – Entro em pânico.

- Não quero saber. Fizeste uma cama, agora deita-te nela! Agora. – Ele levanta-se novamente. – Vai e dá-me o teu melhor. – Levanto-me furioso e viro-lhe as costas, andando pelo escritório.

As portas voltam a abrir-se e eu saio, andando pelo corredor e parando apenas em frente ao elevador, carregando no botão e fazendo as portas abrirem-se. Se o meu pai quer que eu arranje uma prostituta como namorada, tudo bem. Eu arranjo, mas ao menos vou arranjar uma de elite. E sabem que mais? Eu vou até ao bar onde elas são mais caras, onde é preciso milhares, para ver uma dançar. Mas não vai ser uma qualquer, vai ser uma que vai deixar a minha família de boca no chão. Eles vão todos querer uma igual. E ela vai brilhar e vou fazer o meu pai engolir cada palavra que ele me disse. Eu vou fazê-la uma estrela, vou dedicar-me a ela e provar ao meu pai que não preciso de casar para ser feliz e ter todo o dinheiro nas minhas mãos! Porque assim que eu conseguir isso, eu meto a miúda a andar e nem sequer tenho que assinar os papéis do divórcio.

Second Chance // h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora