[HARRY]
O meu pé batia freneticamente no chão, enquanto estava encostado ao meu Audi, à espera que Belle descesse. Eu odeio crianças, eu odeio choros, eu odeio os beicinhos que elas fazem e a ranhoca que elas deitam. Porque é que o meu pai me obriga a fazer isto tudo? O melhor é que vou com a Belle e assim posso entreter-me.
Ela... eu não posso negar. Ela é especial e tem qualquer coisa que me deixa intrigado. A maneira como ela me olha ou me sorri ou até me afasta, porque tem medo do que pode acontecer. A maneira como ela me puxou para longe dela, fez-me querer estar ainda mais perto. Mas não posso, eu não posso estar tão perto. É perigoso. Para mim. Para ela.
Os meus pensamentos são interrompidos quando ouço uns tacões a baterem no chão e olho para cima, apenas para abrir a boca em espanto. Ela estava linda e não resisti em pegar na sua mão, fazendo-a dar uma volta.
- Belle... - Expirei. Estava mesmo bonita.
- Olá. – Sorriu-me, com um ar envergonhado.
- Vamos? – Abri-lhe a porta de trás do Audi Q5 que o meu pai tinha para visitas como estas. Ela entrou no carro e eu imitei os seus gestos. Depois de metermos os cintos e o motorista arrancar, Belle olha-me e esboça um pequeno sorriso.
- O que vamos fazer, concretamente? – Inclina a cabeça para o lado, fazendo-a parecer ainda mais adorável.
- Vamos à instituição, entregamos o cheque, tiramos fotos com as crianças, falamos um bocadinho com elas e depois vamos embora. Tu tens que trabalhar e eu tenho umas coisas a resolver antes de irmos para Nova Iorque.
- Estou tão feliz por ir a Nova Iorque.
- De dia não vou ter muito tempo, mas de noite podemos ir jantar e depois darmos uma volta pelas ruas à volta do hotel.
- Por mim tudo bem! – Ela sorri. Para mim, ir a Nova Iorque é quase o prato do dia. Já lá fui dezenas de vezes, porque quando era mais novo, gostava de acompanhar o meu pai lá, quando ele ia em negócios. Ficava sempre com a minha mãe. Tínhamos bons momentos juntos.
- Tu... tu não és americana, pois não? – Pergunto, fazendo o seu sorriso desaparecer e os seus olhos pararem de brilhar. – Quer dizer... eu posso notar pelo teu sotaque.
- Sou de Londres. – Responde, olhando para fora da janela. Enrugo a testa. Agora que penso bem, eu não sei nada sobre ela e ela sabe algumas coisas sobre mim.
- Sou de Chesire. – Digo, numa tentativa de desbloquear mais alguma informação sobre si, mas ela apenas fica fixa na rua, não me dando qualquer tipo de resposta. Odeio quando as pessoas me ignoram. – Belle? – Chamo e, finalmente, a sua cabeça roda na minha direção.
- Os teus pais não te visitam? – Elevo uma sobrancelha.
- Eles... eles estão em Inglaterra e eu não podem estar a gastar dinheiro a viajar para Los Angeles. – Diz-me, mas algo na sua voz não parece estar certo.
- Que se passa?
- Estou só um bocado nervosa. – Os seus olhos encontram os meus. – Nunca fiz isto. Sinto-me muito chique.
- Não tens que te sentir assim, Belle. Estás à vontade comigo. – Digo-lhe verdadeiramente. Ela limpa a garganta e agarra com mais força na sua pochete.
- Uh... como está o tempo em Nova Iorque? – Pergunta-me, mudando de assunto. Levanto as sobrancelhas, não percebendo a pergunta. – Uh... se devo levar roupa de inverno? Meia estação?
- Ah! Está... frio. – Disse, incertamente. – Por tanto, tens que levar roupa confortável e quente.
- Ok. – Ela respondeu, num sussurro. Eu não sei o que se passa, mas sinceramente gostava de poder saber o que lhe vai na cabeça.
*
- Olá querida. – Disse a uma pequena menina, que para minha surpresa, abraçou-me. Circundei os meus braços à sua volta e levantei-a da sua cama, abraçando-a. Belle encontrava-se ao meu lado, com um bebé nos braços. – O que se passou? – Perguntei, referindo-me ao bebé.
- A mãe morreu no parto e o pai deu-o para adoção, mas como a instituição recusou a acolher um bebé, transferiram-no para aqui. – Esclarece-me, enquanto passa o indicador pelo lábio inferior do bebé, que dormia descansado nos seus braços. E a visão à minha frente era linda. A Belle com um bebé nos braços. A menina que há pouco me abraçara ainda está ao meu colo, com os seus pequenos braços à volta do meu pescoço.
- Estás bem? – Notei nas lágrimas a formarem-se nos seus lindos olhos.
- Estou. – Funga, fazendo-me largar a menina no chão.
- Porque é que não vais brincar com as tuas bonecas? Eu vou já ter contigo. – Digo-lhe e ela acena, deixando-me um beijo na bochecha e indo-se embora a correr. – Belle... - Sussurro, aproximando-me dela.
- Já viste, Harry? – Ela olha à sua volta. – Todas estas crianças. Sem pai, sem mãe. O pai deste menino não o quis assumir! Estas pessoas deviam de ser colocadas na prisão para sempre. – Os seus olhos olham os meus, quando as suas lágrimas começam a cair sem parar. A ligeira maquilhagem que Belle tinha começa a correr pela sua cara, fazendo-a parecer mais vulnerável que nunca. Pego no pequeno menino, dos braços de Belle e deito-o no seu berço, novamente. Nunca tinha percebido o porquê da minha irmã gostar tanto desta instituição, mas agora já sei. Quando costumávamos vir cá, eu ficava sempre no carro, nunca entrava e agora...
- Odeio ver-te chorar. – Digo-lhe, passando os meus polegares pelas suas bochechas molhadas.
- Desculpa, eu... eu estraguei a tua visita. Estou a armar-me em bebé chorão.
- Não, eu... - Aproximei-me mais, metendo as minhas mãos na sua cintura. – Está tudo bem. Não tens que ter vergonha de chorar. És bonita de qualquer forma, mas por favor... não chores.
- Estás a dizer que sou bonita quando choro? – Levanta-me uma sobrancelha, deixando-me desamparado. E o que é que lhe digo agora?
- Uh... não, não. Eu só-não eu... uh... estava a dizer que és linda. Quer dizer, és linda, de qualquer das maneiras. Simplesmente, oh... fogo. – Atrapalho-me, fazendo um sorriso crescer na sua face.
- Está tudo bem em admitir que uma rapariga é bonita, mesmo que estejamos no nosso pior estado. Estás só a ser um amigo.
- Eu... - Trinco o lábio inferior ao aperceber-me da nossa proximidade. Os seus olhos ligeiramente vermelhos das lágrimas soltam-se dos meus, olhando para os meus lábios e novamente para os meus olhos. – Belle... - Expiro, levando uma mão até à sua cara e acariciando a sua bochecha. Os seus lábios são mais chamativos que nunca e ela inclina a cabeça, fazendo-me imitar as suas ações.
- Desculpe. – Uma voz feminina surge, tirando-nos do nosso quase momento. Belle baixa a cara e eu olho na direção da senhora, vestida de freira. – Peço imensa desculpa, mas as horas de visita já acabaram e o cheque está entregue. Tenho que lhe pedir que abandone o edifício, Mr. Styles, com todo o respeito, por si, pela sua namorada e pelo Senhor.
- Eu não-
- Tudo bem. – Aperto a mão à freira.
- Obrigado por tudo o que tem feito por esta instituição. A família Styles é a nossa salvação, ao lado de Deus. – Dou-lhe um sorriso e pego na mão de Belle, entrelaçando os nossos dedos.
A rapariga ao meu lado apenas faz uma pequena vénia à freira e segue-me, enquanto eu a conduzo para fora da instituição. Como esperava, cá fora está um batalhão de jornalistas. Rapidamente puxo Belle para o meu lado, rodeando a sua cintura com o meu braço. A sua cabeça vira-se para mim, de modo a que a sua face fique escondida no meu peito. Flashes surgem por todo o lado e é quase impossível abrir caminho até ao jipe. Os seguranças seguram as barras para que não sejamos atropelados e, com muito esforço, chegamos ao jipe. Fecho a porta e suspiro. O corpo de Belle está encolhido contra o meu e a sua face ainda está escondida no meu peito. Ela não diz nada. Não preciso que ela diga. Envolvo o seu corpo com os meus braços e arrancamos. Só espero que ela ainda concorde em ir a Nova Iorque comigo, porque o que aconteceu agora é de doidos.
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Second Chance // h.s
FanfictionDe dia, sou conhecida como Emma. De noite, o meu nome é Belle.