35| "You only care about appearances!"

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[HARRY]

Vê-la dormir tornou-se uma das sete maravilhas do meu mundo. Estou acordado deste as cinco e meia da manhã e fui abrir os estores, para que quando o sol nascesse, eu a pudesse observar. Depois dela me contar tudo o que aconteceu aos pais, eu senti pena dela.

Awn! O meu pequeno Harry está apaixonado!

Suspirei alto, enquanto passava a minha mão pelos seus cabelos. Eu sabia que ela não ia acordar. Ontem quando nos deitámos, ela chorou até adormecer, enquanto eu a agarrava perto de mim. Partiu-me o coração? Sim, partiu. Se tive pena? Sim, tive.

Nada pode repor o passado desta rapariga. Nada de bom pode substituir os anos de mágoa que ela passou naquela instituição. Ninguém se ofereceu para lhe dar um lar, comida, um abraço e ela mesma disse que as mulheres que tomavam conta das crianças a metiam de lado, por ser mais velha e matura que todas as outras.

Contou-me que só aos dezasseis é que lhe veio o período e por isso, tiveram que ir ao médico com ela, para saber que algo estava errado, mas os testes nada acusaram. Então, quando ela tinha o período, as mulheres da instituição não a deixavam ir à casa de banho lavar-se, porque diziam que era pecado e ela podia morrer, se entrasse em contacto com a água.

As histórias sem fim reveladas por esta rapariga que apenas 19 anos, enquanto esteve na instituição, são horríveis e arrepiantes. Desde os 15 anos que ela não sabe o que é o Halloween, ou o Carnaval, ou o dia do próprio aniversário, ou o Natal, ou o Ano Novo.

Contou-me que o seu pequeno-almoço era sempre um bocado de pão comprado há dois dias e meia chávena de leite frio, até no inverno. Supostamente, como ela era mais velha, devia de deixar comer para os mais novos. Foram três anos de inferno.

Todos estes anos que houve tanta gente a viver no luxo, ou consideravelmente bem e ela estava presa naquele sítio, sem pais, sem irmãos ou irmãs, sem família. E sinto-me mal por manter esta farsa toda. Eu não consigo enganá-la. Eu não consigo fazer-lhe isto. Eu não lhe vou fazer isto. Não posso, não consigo. Mesmo que quisesse, eu iria perder a coragem. Ela já faz parte do meu mundo e tem um lugar mesmo muito fundo, no meu coração. Não espera...

- Tu tens o meu coração, Em. Não o deites fora. - Sussurrei e beijei-lhe a testa, aconchegando-me mais a ela.

*

O irritante barulho do despertador soa pelo quarto. Estamos a fazer conchinha e os seus braços estão à volta da minha cintura. Como é que ela não tem o braço dormente do meu peso?

Os seus lábios estão encostados ao meu pescoço e sinto a sua respiração calma e controlada no mesmo. A sua pequena mão está por cima da minha, os seus dedos a ocupar os espaços entre os meus.

Ela mexe-se, desfazendo a confortável posição em que nos encontramos e estica-se, desligando o alarme. Suspirando alto, levanta-se da cama e caminha até à casa de banho, saindo pouco depois com a cara vermelha e o cabelo atado.

- Vais levantar-te? - Pergunta-me, quando rolo para as minhas costas, olhando-a com um sorriso.

- Infelizmente não é porque quero, mas sim, porque tenho. - Respondo. As manhãs com ela são sempre mais mimosas, mais divertidas, mais... Manhãs.

- Vou fazer o pequeno-almoço.

- Nah-ah! - Levanto-me e pego-a pela cintura. - Hoje sou eu que faço. Vai despachar-te e não te preocupes com a comida, porque quando chegares à cozinha, vai estar tudo pronto.

- Sabes onde estão as coisas? - Ela olha-me com um ar desafiador.

- Sei. - Murmurei, beijando-lhe a testa. Quando ela se vira, esmago o seu rabo com a minha mão, fazendo-a saltar em surpresa.

- Harry! - Ela abre a boca e os olhos em espanto.

- Não consegui conter-me. Adoro o teu rabo.

- Já percebi isso! - Responde-me e pisco-lhe o olho, retirando-me para a cozinha. Apenas de t-shirt, boxers e cabelo atado, movo-me pela cozinha. Sumo de laranja com tostas mistas francesas, soam bem. Enquanto faço o nosso pequeno-almoço, ouço o chuveiro a ser ligado, desligado, ouço-a a abrir o armário, a vestir-se, a calçar-se. Tudo isto, enquanto canta baixinho. - Harry! - Ela chama. Quando ela entra na cozinha, ponho as tostas em cima da mesa, sorrindo-lhe, enquanto meto as mãos atrás das costas. - Bem... Wow!

- Obrigado... - Faço uma vénia. Ambos nos sentamos à mesa e enquanto comemos, vamos brincando um com o outro e até tento contar-lhe algumas das minhas piadas, mas ela não se ri. - Como é que chama um cão sem pernas?

- Hm... - Ela olha-me incerta.

- Não se chama! Vai-se buscar! - Riu-me, batendo com a mão no joelho e quase que caio da cadeira a baixo. Ela olha-me com uma expressão, sem expressão.

- Isso foi tão... Não amigável, Harry! - Ela atira-me com um guardanapo. - Coitado do cão!

- Era só uma piada! - Gargalho. Ela revira os olhos, continuando a sua tosta francesa.

*

- Os nossos níveis de apreciação por parte dos nossos clientes continuam a subir, por isso, Mr. Styles, eu proponho uma renovação dos preços a nível da construtora, design e decoração. São os que estão a ter mais procura e a mostrar melhores resultados. Tivemos um vencimento de quase quatro milhões de euros, só na América. Os da Europa e China chegam para a semana, mas tenho a certeza que são tão positivos como estes. - Ronald, o diretor financeiro da empresa em Nova Iorque, Los Angeles e Las Vegas, discursa. O meu pai continua a olhar para as estatísticas que estão a ser mostradas no grande quadro branco da sala de reuniões. Estão aqui os responsáveis das empresas espalhadas por estas três cidades.

- Interessante. - Foi tudo o que o meu pai disse.

- Pois eu acho que devíamos de continuar a subir. - Ruben, o de Nova Iorque, contrapõe. - As estatísticas em NY estão a ficar piores. Temos mais concorrentes nesta corrida para manter o topo, Mr. Des. A Tomlinson Diamonds está a subir impressionantemente depressa e não agirmos com rapidez, rapidamente perdemos o topo desta cadeia. A Styles Inc é conhecida por ser eficaz e não o estamos a ser. Não nos esqueçamos também que esta empresa não é só construção, design e decoração. Onde estão as ações que concordamos fazer, nos países mais pobres? A Tomlinson Diamonds já lá está. Está a agir. Nós estamos a investir em cidades, países que já estão a ficar saturados de construções! Só nos últimos seis meses, despediram-se da empresa em NY, mais de três mil trabalhadores! E sabe para onde fora? Tomlinson Diamonds! E nas estatísticas para o vencedor do prémio de empresário mais jovem, o Harry está em segundo. E quem está em primeiro? Louis William Tomlinson, que está a ajudar o pai nas empresas!

- Por favor! - Interrompi. Agora estou chateado. - Eu não tenho a culpa disso! As pessoas votam, não eu! - Contraponho. - Eu já tratei de mais papéis nesta empresa, no pouco tempo que aqui estou, do que vocês todos juntos! Vocês só sabem passar férias em sítios de luxo, comprar carros de luxo, comer em restaurantes de luxo e não me obriguem a continuar! - Quase berro. - Eu concordo que toda a gente tenha uma vida e desfrute dela, mas enquanto vocês deitam dinheiro fora em merdas sem significado, se o doassem a instituições, tal como nós fazemos aqui, em Los Angeles. Ainda o mês passado fui com a minha namorada entregar um cheque a uma instituição para abrigo de crianças abandonadas. E o dinheiro total não sai dos valores que a empresa apresenta. Sai também do bolso do meu pai. - Levanto-me e bato com os papéis na mesa. - Vocês só estão preocupados com as aparências, mas não se esqueçam que se não fosse o meu pai, a esta hora, a maioria de vocês estava na fila, para poder comer uma sopa dos pobres! - Atirei e abandonei a sala, irritado e nervoso.


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