52| "Special attention"

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[EMMA]

À roda: era como a minha cabeça estava.

Grace e Blair já haviam ido embora, pois assegurei-lhes que estava bem e que a última coisa que precisava é que elas se preocupassem comigo, quando têm os seus próprios problemas. Já eram duas da manhã e a última palavra de Harry tinha sido dita há cerca de uma hora. Ele não se foi embora e eu também não o mandei. Não teria coragem para o mandar embora depois de tudo aquilo que me havia confessado.

Harry estava em pé à janela, enquanto eu estava sentada com Sidney ao meu colo. O silêncio era profundo, enquanto a neve caía lá fora, cobrindo tudo com um manto branco, a televisão estava apagada e a única fonte de luz era o pequeno candeeiro ao lado do sofá.

Peguei no comando da televisão e liguei-a no canal das notícias e a primeira coisa que vi era que todas as ruas haviam sido fechadas, pois a neve tornava impossível circular a esta hora. E pelos vistos seria assim nos próximos dias. O que significava que Harry não iria embora. Suspirei e desliguei a televisão. Sidney mexeu-se ao pé de mim, puxando a minha mão para cima da sua cabeça, com o seu focinho. Sorri-lhe e puxei-o para o meu colo, enroscando-o no meu colo. Ele era tão querido e tão pequenino que o seu tamanho era igual ao do meu antebraço.

- Ficas? – Foi a primeira coisa que disse, depois deste tempo todo sem falar. A sua cabeça voltou-se na minha direção.

- Eu não consigo tirar o carro debaixo da neve, por isso, sim. – A sua voz estava rouca. Harry tossiu, metendo o punho à frente da boca e olhando-me de sobrancelhas juntas. A sua pele estava pálida e havia olheiras por baixo dos seus olhos.

- Sentes-te bem? – Levantei-me e meti Sidney no chão, caminhando até ele e colocando a minha mão sobre a sua testa. Arregalei os olhos ao sentir a sua pele numa fervura. – Harry... Estás a arder em febre!

- Estou bem. – Respondeu, tossindo outra vez.

- Senta-te. – Mandei. O grande rapaz de cabelos encaracolados sentou-se no sofá e sentei-me ao seu lado, retirando o gorro verde da sua cabeça e rapidamente puxando o seu cabelo para trás, atando-o com um elástico que tinha no pulso.

- Emma-

- Pára. – Mandei, olhando-o nos olhos. – Diz-me exatamente como te sentes.

- Tenho sono, estou cansado, dói-me o coração e a garganta.

- Dói-te o coração? – Elevei as minhas sobrancelhas. Não foi preciso resposta para saber exatamente do que ele falava. Suspirei e moldei a sua cara com as minhas mãos. – Eu vou buscar uns comprimidos, o termómetro e vou fazer-te um chá.

- Só quero a tua companhia. – Os seus dedos enrolam-se à volta do meu pulso.

- Tu precisas de ficar bom, primeiro. Depois conversamos. – Digo e levanto-me, indo até à casa de banho, tirando o termómetro, ben-u-ron. Seguidamente vou até ao quarto e retiro do armário um cobertor. Caminho até à sala e meto tudo em cima do sofá, fazendo Harry olhar para mim com um ar de espanto. Caminho até à cozinha, encho um copo com água e volto para a sala, entregando-lhe o copo. Tiro um comprimido e entrego-lhe. Harry toma-o, bebendo a água e metendo o copo em cima da mesa de apoio. – Deita-te. – Mandei e meti-lhe o termómetro dentro da orelha. O dispositivo apitou dez segundos depois, marcando quarenta graus de febre. Suspiro e levanto-me, retirando-lhe as sapatilhas e colocando o cobertor até à cintura.

- Ficas comigo? – Perguntou. Os seus olhos mal se conseguiam manter abertos.

- Estou no quarto. – Respondo, mas a sua mão pega na minha, impedindo-me de andar.

- Eu quero que fiques comigo, por favor. – Pediu. Acabei por ceder. Harry veio para o quarto comigo e abraçou-me durante toda a noite. A última vez que olhei para as horas, o relógio marcava três e sete da manhã.

*

Nos dois dias seguintes, Harry esteve melhor, mas mesmo assim, não o deixei fazer nada. Eram impossível ir à rua. Estava tudo coberto de neve e o presidente tinha dado como confirmado o alerta máximo e tinha mandado as famílias ficarem em casa. As escolas, as lojas, tudo fora fechado. Era um nevão. Não podíamos fazer nada.

Já tinha arranjado um canto na cozinha para Sidney fazer as suas necessidades, mas parece que ele não percebeu. E, além disso, o meu cão passou a gostar mais do Harry do que de mim.

Acerca de outros assuntos, tanto eu, como Harry, não falámos mais nisso. Acho que na realidade, não há nada para falar. Quer dizer, nesta altura não sei o que somos, mas o que realmente me importa é a recuperação de Harry.

- A tua febre já baixou. Tens trinta e oito. – Pousei o termómetro em cima da mesinha-de-cabeceira. Harry tosse mais uma vez, esta tosse está mesmo a dar comigo em maluca e a deixar-me seriamente preocupada.

- Ótimo. Agora, deita-te aqui ao pé de mim. – Pediu, sorrindo-me preguiçosamente.

- Não posso, Harry. – Levantei-me. – Já não neva há algumas horas e quero ver se vou à farmácia, buscar mais comprimidos e preciso de mais comida.

- Mas sabes se está algo aberto? – Fechou os olhos.

- Tenho que tentar. – Levanto-me e visto o meu casaco, as minhas botas, luvas e gorro. – Não demoro. – Digo e saio de casa, com a minha mala aos ombros.

Caminho apenas quinhentos metros e vejo um minimercado aberto, onde me abasteci de cereais, massa, atum, arroz, leguminosas, sumos, água e chá. Depois caminho até à farmácia mais próxima, que se encontra fechada, então decido ir à mais longe, que fica a mais ou menos meia hora a pé. A neve chega-me a meio das canelas e transportar os sacos das compras ao mesmo tempo que ando pela neve, não é fácil.

A farmácia está aberta e entro, comprando ben-u-ron, trifene e pastilhas efervescentes, para a dor de cabeça. Depois caminho até ao hipermercado mais próximo e agradeço mentalmente por estar aberto. Compro carne, peixe e pizza, porque Harry parece estar com falta de pizza no sangue.

No caminho para lá tento apanhar um autocarro, ou um táxi, mas nada funciona e tenho que caminhar por uma hora a pé com os sacos das compras. Quando chego a casa, Harry está na cozinha, de cabelo atado, a fazer panquecas.

- Onde é que arranjaste a massa para fazeres isso? – Perguntei-lhe, retirando as luvas e o gorro, mandando-os para cima do sofá.

- Estava aqui. – Apontou para a despensa. Bufei alto e comecei a arrumar as compras. – Demoraste algum tempo...

- Bem, tive que ir comprar algo para comermos, não? E ainda parei na farmácia. – Informei-o.

- Posso fazer uma observação?

- Claro. – Olhei-o de sobrancelhas. Os seus olhos percorreram o meu corpo.

- Promete-me que não ficas chateada comigo.

- Estás a assustar-me. – Paro os meus movimentos e ponho-me ao seu lado.

- Tu estás... Bem, com mais barriga. Tens tido uma alimentação saudável? – Pergunta-me, fazendo-me revirar os olhos.

- Não estou gorda!

- Não disse que estavas, tu és perfeita, mas... Acho que desde de fomos para Londres, ganhaste mais um bocadinho de barriga. Nada de grave.

- Ok, é verdade... Quando estive em Londres abusei um bocadinho, mas não acho que esteja assim tão... Barriguda.

- Está descansada, tenho a certeza que uns abdominais e umas pranchas e ficas boa.

- Vou fazer especial atenção para isso...

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