Capítulo 37 | Reta Final de Temporada

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Será que existe uma explicação ou uma definição correta que descreva exatamente a dor que eu estava sentindo naquele momento?

Busquei por forças colocando minhas mãos na vidraça, e não sei porque, mas em algum lugar no meu consciente eu tive a esperança que talvez minha pouca força pudesse atravessar por ali, e trazer de volta o homem da minha vida, mas foi inútil, completamente inútil, a medida em que eu via os médicos e enfermeiros renderem-se a derrota daquela batalha.

Se antes eu achava que meu mundo havia desabado, ali eu tive a certeza que nada que senti antes, foi, mas forte que a certeza que Heitor havia partido. Ver o medico anotar a hora da morte, ao mesmo tempo em que os enfermeiros cobriam o corpo dele com feição de tristeza, fez-me cair ao chão e entrar em um estado de choque profundo, em que tudo ao redor deixou de fazer sentido.

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Cesar sentou-se ao chão, e olhava para o nada de forma fixa e sem feição nenhuma ao rosto. As lagrimas que a tempos pingaram de forma intensa, não mais surgiram dos seus olhos que estavam avermelhados e inchados.

― Cesar, Cesar, Cesar. ― Dizia Aníbal o chamando.

― Ele não está bem, eu vou chamar algum medico. ― Afirmou Helena,

Aníbal agachou-se ao lado de Cesar e disse.

― Meu amigo, você precisa reagir, não existe nada que eu possa dizer agora que vá amenizar a sua dor, mas você precisa ser forte, não só por você, mas pelos seus filhos também.

Cesar virou a cabeça de encontro a Aníbal e com a voz embargada e roca disse.

― Antes do acidente ele me ligou e sabe o que ele me disse?

Aníbal abanou a cabeça em sinal de negação e então Cesar continuou.

― Ele disse que me amava. ― Afirmou e lagrimas voltaram a cair dos seus olhos. ― ele disse que estava arrependido e disposto a tentar recomeçar tudo do zero, mas eu não pude ou não consegui dizer nada, por medo, raiva e impotência de admitir para mim mesmo que apesar de tudo, eu sempre o amei.

― E o que você diria para ele agora, se você pudesse?

― Porque existe o perdão se não se pode errar?

― Será que toda falha ou erro tem perdão? ― Indagou Aníbal. ― Eu sei que você o ama, até porquê apagar 18 anos de casamento não é tão simples assim quanto parece. Por anos o Heitor te traiu e não foi com qualquer pessoa, foi a com sua mãe. Você acha que isso tem perdão? me desculpe Cesar, o facto de ele ter dito que te amava, e que estava disposto a concertar os erros que cometeu, não vai apagar a destruição causada na tua família principalmente na vida dos teus filhos, e mesmo que ele tenha morrido isso não o torna isento de todas as suas responsabilidades. Sua dor, é grande e eu sei, mas você não pode ser leviano, porque o Artur te ama de verdade e não merece ser usado como uma rolha para tapar o buraco que o Heitor deixou na tua vida.

― Porque você está me dizendo todas essas coisas? Justamente agora. ― Esbravejou Cesar.

Naquele instante Aníbal, colocou sua mão na face de César lentamente, e de seus olhos começaram a cair lagrimas onde por seguinte, o mesmo respondeu.

― Eu não posso e não vou aplicar anestesia diante de tudo isso, porque eu te amo, e sou seu amigo, alias seu irmão, por isso eu não posso deixar que você cometa uma sucessão de erros sem que eu faça nada para impedir.

Cesar rapidamente abraçou-lhe e desabou ainda mais em lagrimas.

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Dois dias depois.

O dia estava nublado, e a capela do cemitério estava repleta de pessoas vestidas de preto dentre elas jornalistas e fotógrafos, que tinham objectivo de dar o último adeus a Heitor que ali estava a ser velado, assim como documentar nos noticiários.

Cesar estava vestido com um terno preto, diante do caixão de Heitor, e ao seu lado estava Alex que chorava copiosamente não crendo que seu outro pai, havia partido. De repente, vozes tumultuosas começaram a ecoar despertando a atenção de Cesar, que prontamente virou-se para trás e deparou-se com Divina com um vestido preto, acompanhado de um chapéu da mesma cor que cobriu seu rosto com uma renda. Contrastando com o buque de rosas vermelhas que a mesma trazia nas mãos.

― O que você veio fazer aqui? ― Indagou Cesar com feição furiosa.

Divina travou seus passos ao meio da capela, e com a outra mão subiu a renda que cobria seu rosto, revelando o carregado batom vermelho em seus lábios, e de seguida disse.

― O mesmo que você. ― Afirmou em alto som.

― Será que você não respeita a ninguém? Não respeita a dor dos outros?

― E por acaso a sua dor é maior que a minha?

― Não existe espaço para dor nesse seu coração vazio, porque se você soubesse ou sentisse um terço do que eu e os meus filhos estamos sentindo agora, eu te garanto Divina, que você não estaria aqui.

― Eu vou dar o último adeus ao único homem que amei em toda a minha vida, e você não vai me impedir filhinho querido. ― Afirmou e naquele instante os sussurros e tumultos aumentaram a intensidade.

― Isso nos vamos ver.

Cesar caminhou em direção de Divina a passos largos, onde por seguinte pegou no braço dela começando a arrastá-la para o exterior da igreja, enquanto a mesma gritava ordenando que ele o soltasse. Ao chegar na porta da igreja, Cesar a empurrou fazendo-a cair ao chão e de seguida atirou o buque de rosas fazendo com que as mesmas se espalhassem.

― Você vai pagar muito caro, por isso. ― Vociferou Divina.

― Tudo o que esta acontecendo em nossas vidas é culpa sua e da sua ambição desmedida. ― Esbravejou Cesar. ― Você arrastou o Heitor para morte, você é a causadora de tudo isso, e se você não se afastar de mim e da minha família, eu te garanto Divina, eu vou destruir você.

DOCE ILUSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora