No dia seguinte à noite, Divina estava sentada na cabeceira da mesa de jantar na casa de César. À sua direita estava Artur ao lado de Vitoria, enquanto à esquerda estavam Alex e Alice. Atrás deles, Margot e dois empregados esperavam para servir a comida.
O silêncio carregava uma aura de tristeza nos filhos de César e em Vitoria, contrastando com a expressão radiante de Divina a cada suspiro.
― É tão bom ver a família unida. ― Divina quebrou o silêncio.
Alex a encarou incrédulo e disparou:
― Que família? Você sabe o que é isso?
― Me respeita, garoto. Eu sou sua avó... ou melhor, sua tia, porque ainda sou muito jovem.
― Você não é nada minha. ― Alex se levantou, exasperado.
― Alex, senta. ― Artur interveio com firmeza.
― O que aconteceu com você, Artur? ― Alex perguntou, olhando-o fixamente. ― Você não amava meu pai? Como pode aceitar que essa mulher se sente à mesa connosco e, pior ainda, venha morar nesta casa? Você não percebe que meu pai não vai aceitar isso quando voltar?
― E quem disse que seu pai vai sair da cadeia? ― Artur perguntou de volta. ― Aceite que esta é a nova realidade, sua e da sua irmã.
― Pai, eu não reconheço mais você. ― Vitoria falou com indignação evidente em seu rosto.
― Não se intrometa, Vitória. ― Artur disse em tom ríspido.
― O senhor não era assim. ― Ela o encarou com firmeza. ― Eu tenho a máxima certeza de que alguma coisa de errado está acontecendo. O senhor pode não me dizer, mas eu vou descobrir cedo ou tarde.
― Não se meta nos meus assuntos, Vitória.
― Agora eu entendo por que a vovó não quis vir morar nessa casa. ― Ela esbravejou ao se levantar. ― Eu tola achando que ela era difícil e complicada, quando na verdade ela estava certa o tempo todo. Definitivamente o senhor não é o mesmo, e não adianta pedir para eu me calar, porque eu não vou.
― Suba agora para o seu quarto, Vitória, aliás, os três.
― Você não manda em mim. ― Disse Alex, encarando-o.
Artur começou a gargalhar e em seguida disse:
― Se enxerga, garoto.
Alice estava visivelmente assustada e naquele instante levantou-se, escondendo-se por trás de Alex.
― Você está assustando a minha irmã.
― Se você não quiser que ela fique mais assustada, sugiro que me obedeça e suba para o seu quarto. ― Artur disse impacientemente.
― Como pude me enganar tanto com você?
― Cala a boca, garoto. ― Artur já estava em pé. ― Sua voz está me irritando bastante, sabia?
― Subam logo, eu preciso jantar. ― Disse Divina. ― E claro, comemorar. Afinal de contas, hoje o paizinho de vocês foi transferido para o presídio, lugar de bandido é na cadeia. Margot, me sirva uma taça de champanhe.
― Eu não vou para lugar nenhum! ― Gritou Alex, com as pupilas dilatadas. ― Vocês é que vão embora dessa casa. ― Meu pai vai sair da cadeia, ele não fez nada, ele é inocente!
Divina gargalhou e deu um gole no champanhe servido por Margot, antes de dizer:
― Não é o que a polícia acha. Se ele fosse inocente, estaria aqui sentado nessa mesa, você não acha?
Artur sorriu naquele momento, enquanto Vitória o olhava com expressão de deceção, não querendo acreditar que aquele homem era seu pai.
― Alex, pela milésima vez, pega essa sua irmã e sobe para o seu quarto, senão eu... ― Artur afirmou, fechando o punho com uma ameaça implícita.
― Se não o que, Artur? ― Alex indagou, encarando-o com os olhos dilatados, provocando tensão na sala. ― Vai me bater? Se for isso, então faça, mas faça bem, porque se não, você vai se arrepender.
Artur ergueu seu punho fechado, sua respiração ofegante denunciando a raiva que fervilhava em suas veias. Estava prestes a agir contra Alex quando foi interrompido pela entrada repentina de Simone e Aníbal na sala.
― Não se atreva a tocar no Alex! ― Gritou Simone, enquanto Aníbal caminhava decidido em direção à mesa de jantar.
Divina, furiosa, levantou-se e questionou:
― Simone, o que faz aqui?
Simone ignorou a pergunta e desferiu uma bofetada em Artur, onde o som ecoou pela sala.
Ela então encarou-o com determinação.
― Ninguém toca nos meus sobrinhos. Seu covarde.
Nesse momento, Aníbal jogou um documento sobre a mesa e declarou:
― O juiz concedeu a guarda provisória de Alex e Alice para Simone e a custódia de Alberto. Eles não vão ficar mais um segundo sob o mesmo teto que vocês.
Divina, atordoada, tentou argumentar:
― Isso não pode ser!
― Ah, mas pode. Ou você pensou que o juiz deixaria essas crianças e o Alberto sob os cuidados de uma desequilibrada como você? ― Retrucou Aníbal.
Simone acrescentou com firmeza:
― E tem mais, mamãe. Você será destituída da presidência da construtora Cever. Uma pena, não é? Seu reinado durou tão pouco.
Divina arregalou os olhos, compreendendo a gravidade da situação.
― Isso não pode acontecer. Eu sou a representante legal do Alberto.
― Era no passado. Não é mais. Eu detenho as ações do meu pai, do César e as minhas. A partir de hoje, você não tem mais nada.
A respiração de Divina estava ofegante, suas mãos tremiam descontroladamente. Ela se sentia cercada, seu plano desmoronando diante dos seus olhos.
― Aníbal, você me conhece. Vamos conversar, eu...― Eu já sei de tudo, Artur. ― Interrompeu Aníbal, encarando-o com seriedade. ― Ou você pensou que o César ficaria refém de vocês por muito tempo?
― De tudo o que? ― Vitória indagou, já chorando.
Aníbal se virou para ela enquanto Artur balançava a cabeça, temendo o que viria a seguir. Ele sabia que sua filha descobriria seu lado obscuro, e temia perder o restante de sua admiração.
― Seu pai não é o que você pensa, Vitória. ― Aníbal continuou, e as lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Artur. Ele apertava o punho para conter os batimentos acelerados de seu coração.
― Esse homem que você chama de pai é um assassino, responsável pela injusta prisão do César. Eu vou provar isso, cedo ou tarde.
Os olhos arregalados de Vitória, cheios de lágrimas, sua expressão de espanto e desilusão, dilaceraram completamente o coração de Artur. Naquele momento, ele procurou por palavras que pudessem resgatar os sentimentos de sua filha por ele, mas nada parecia ser suficiente.
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DOCE ILUSÃO
RomanceEm Nova York, Cesar é um advogado renomado, conhecido por suas causas sociais, e sócio de seu amigo Aníbal Bittencourt em um prestigioso escritório de advocacia. Sua vida parece perfeita ao lado de Heitor, com quem compartilha um casamento de 18 ano...