Capítulo 41

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Os olhos de César já estavam marejados, e a intensidade do tremor em suas mãos só aumentava a cada segundo. Em sua mente, ele buscava momentos em que poderia ter percebido as reais intenções de Artur, mas suas tentativas eram em vão.

― Eu era uma criança apaixonada pela força do meu pai. ― Disse Artur em tom sussurrante, com uma expressão nostálgica no rosto. ― Meu pai era tudo para mim. ― Pausou e engoliu em seco. ― Absolutamente tudo. E vocês o tiraram de mim. ― Vociferou. ― Vocês o levaram à morte sem se importar com nosso sofrimento.

César arregalou os olhos, limpou as lágrimas e perguntou:

― Do que você está falando, Artur?

― Eu vou te lembrar. ― Falou com ódio, começando a contar.

Nova York, Setembro de 1986

A sala de Alberto na construtora era iluminada por lâmpadas amareladas no lustre central, criando um ambiente acolhedor. Móveis de madeira polida preenchiam o espaço, desde a mesa com um computador branco característico da época até a estante repleta de livros organizados por cor.

Alberto, de costas, vestia um terno marrom que combinava com seu bigode e cabelo preto lambido pelo gel. Ele analisava atentamente a estrutura de um projeto de edifício quando o telefone tocou, chamando sua atenção. Ele se virou para a mesa, pegou o telefone e posicionou-o no ouvido.

― Doutor Alberto? ― Disse uma voz feminina. ― Pode falar, senhorita Hannah.

― Seu filho está na recepção.

― O César já chegou? ― Perguntou com um largo sorriso no rosto.

― Sim, senhor, o motorista o deixou aqui como o senhor pediu.

― Perfeito, Hannah. Distraia o César por um instante, estou saindo.

― Pode deixar. ― Disse, desligando a chamada.

Alberto suspirou com um sorriso e voltou ao projeto.

Na recepção, o pequeno César, com cabelos castanhos e encaracolados, brincava com um avião de brinquedo enquanto fazia sons imitando um avião. Hannah, concentrada no computador, não prestava atenção nele. Aproveitando isso, César levantou-se e começou a caminhar lentamente em direção ao estreito corredor com várias portas marrons, movido pela curiosidade infantil.

Enquanto caminhava com cautela, César ouviu um grunhido abafado vindo de uma das portas entreabertas. Seu coração batia acelerado, mas a curiosidade era maior. Ele pegou a maçaneta lentamente, deixando cair o avião de brinquedo no chão. Seu coração parecia que ia saltar pela boca, mas ele não parou.

César deu o primeiro passo para dentro da sala e, ao virar à esquerda, viu a pior cena de sua vida. Um homem preto, apertava o pescoço de uma mulher de aparentemente vinte e poucos anos pressionando a janela aberta, dando a perceber que poderia empurrá-la a qualquer momento. A mulher chorava e implorava para que ele parasse, mas o homem parecia se divertir com cada espasmo de dor dela. Aquele homem era José Monteiro, o pai de Artur.

Do outro lado, Alberto e sua secretária procuravam desesperadamente por César, chamando seu nome e entrando em todas as portas. Até que Alberto viu o avião de brinquedo caído no chão. Ele correu em direção ao brinquedo, pegou-o e entrou na sala, onde César gritou de pavor ao ver a cena horrível de José empurrando a mulher pela janela.

― O que foi que você fez? ― Vociferou Alberto olhando fixamente para Jose.

Cesar aquela altura chorava copiosamente, estando completamente traumatizado com tudo que havia presenciado.

DOCE ILUSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora